Incomodando
Leucena infesta região da Vila São João e gera reclamações
Nativa da América Central, árvore foi trazida nos anos 1940 para ajudar em alimentação de gado em secas
Uma planta que não é nativa do Brasil está incomodando moradores da região da Vila São João, em Sorocaba. A leucena cresce muito rápido e impede outras plantas de prosperaram, além de ganhar grandes proporções e prejudicar o desenho urbano projetado de residências e vias.
É o que acontece quando alguma planta é inserida em outro ambiente e se adapta, como é o caso da Leucena no Brasil. Ela é nativa da América Central, e foi trazida nas décadas de 1940 e 1970 para ser utilizada para fazer silagem, uma técnica para alimentar o gado na época das secas.
Margarete Iurk, de 62 anos, aposentada, mora na rua Coronel Freire de Andrade, na Vila São João, bairro que fica entre o começo da zona oeste e a região central da cidade, desde 1975. E ela conta que no quintal, a avó costumava cultivar uma pequena horta com chuchu, alface, cenoura, no entanto, nasceu uma Leucena, que ninguém plantou e atualmente o quintal é cimentado, com uma árvore de mais de dois metros. “A semente dela é terrível, cai no chão, no outro dia brota outro pezinho. A árvore está grande, já está lá em cima, chegando no telhado do meu vizinho, estou podando ela aos poucos”, conta dona Margarete.
Outros moradores da região também estão incomodados com a presença da árvore na região. “É linda a árvore, uma sombra maravilhosa, mas é inútil, e além de inútil, ela é danosa”, conta a aposentada Maria Lucila Lima, 82 anos. Na Praça dos Italianos, há árvores frutíferas, como pés de amora e pés de manga, além de outras plantas como Espada de São Jorge e flores, que ficam em risco com a presença da leucena.
A leucena se adaptou tão bem que hoje é considerada uma espécie invasora. Segundo o professor doutor em biologia vegetal e coordenador do Núcleo de Estudos Ambientais (NEAS) da Uniso, Nobel Penteado de Freitas, “o perigo da leucena é porque ela cresce e começa a produzir semente muito rápido e ela ocupa o espaço das espécies nativas. Então prejudica a vegetação nativa e acaba prejudicando a fauna nativa também, porque ela cresce e não deixa que se desenvolvam as espécies que estão mais adaptadas para fruto e flor, para a alimentação da fauna local. Em alguns lugares, elas vão até entrando na mata e vão tirando as espécies nativas que seria o ambiente adequado para elas. O grande problema é esse, prejudica a nossa biodiversidade”, explica.
Projeto de Lei
Devido as solicitações da população, o vereador Rafael Militão (Republicanos), juntamente com o agora Secretário de Inclusão e Transtorno do Espectro Autista, Vinícius Aith (então vereador pelo mesmo partido), elaboraram um projeto de lei a respeito da gestão e remoção de árvores da espécie Leucena e outras exóticas e invasoras em Sorocaba.
O projeto ainda está aguardando ser pautado e discutido. Seu texto determina que as árvores comprovadamente invasoras tenham o processo de remoção simplificado e que haja a compensação ambiental, para cada árvore retirada, uma nativa deve ser plantada. Atualmente, a remoção de árvores de Sorocaba é regulado pelo Projeto de Lei nº 223/2009, condicionado a diversos fatores e condições para tal, em um processo bastante burocrático.
Segundo o professor Nobel, projetos que envolvem a Leucena não deveriam possuir compensação ambiental. “Qualquer projeto que tenha sobre ela, eu acho que tem que ter duas premissas básicas: a primeira é que tem que ter autorização, tem que ter um controle da retirada dela. O segundo é que não deve ter compensação ambiental, porque se tiver compensação ambiental, você não vai conseguir viabilizar a retirada dela”, explica.