Floresta urbana
Mata na marginal direita do rio Sorocaba abriga nascente
Ao olhar de cima a marginal direita do rio Sorocaba, é possível enxergar dezenas de árvores que, juntas, formam uma floresta urbana. Desde que a Prefeitura de Sorocaba anunciou as obras para a construção de uma avenida no trecho, ativistas fazem manifestações e entram na floresta na tentativa de preservar a área. Em uma das visitas mais recentes, um grupo de ambientalistas descobriu possíveis nascentes na marginal direita do rio. Para eles, essa é mais uma razão para que a nova avenida não seja criada, pois segundo eles, é uma Área de Preservação Permanente (APP).
Os ambientalistas fazem expedições na floresta desde dezembro de 2024. Nas últimas semanas, eles receberam a informação de que havia tratores em uma área particular. Eles, então, foram até o local e depois entraram na mata. O grupo percebeu que havia água no meio da floresta em uma época de seca. Com isso, eles cavaram e encontraram o que acreditam ser um berço de nascentes.
“Identificamos toda essa área úmida num tempo de seca, que não é decorrente de nenhum cano, nenhum poçamento de chuva. Essa região com esse berço de samambaias diz para gente que ela tem alguma coisa além só da vegetação e que esses brotos d’água estão vindo de uma nascente maior e que faz parte do bioma aqui desse lugar”, explicou o ambientalista, ativista e educador ambiental Eduardo Prado, mais conhecido como Eduardo Floresta.
Na última quarta-feira (3), a reportagem do Cruzeiro do Sul acompanhou Eduardo Prado e Rafael Franco, que é mestre em monitoramento ambiental, ao local. Foi necessário entrar pela alameda Itapira, no Jardim Saira.
“Já tinha um desenho natural de um córrego aqui. A gente facilita o desenho e a formação desse córrego, porque quanto mais você desobstruir a área de nascente, mais brota. Se ela ficar parada aqui, ela vai transbordar, mas queremos facilitar esse trajeto”, declarou Prado. Eles ressaltam também que, apesar de parecer, a água não está suja. A cor cinza trata-se apenas de calcário.
Ainda conforme os ambientalistas, a procura por novas nascentes deve continuar nos próximos dias. Para Rafael Franco, a área já deveria ser preservada devido à sua quantidade de vegetação. Agora, com a descoberta de possíveis nascentes, ela se torna um lugar ainda mais importante. “A nossa ideia é acampar aqui e impedir que essas máquinas entrem. Primeiro pelo lugar sagrado, pela floresta que é, uma diversidade incrível de vegetação. O nosso propósito é o de manter a floresta em pé.”
André Cordeiro, professor de Ciências Humanas e Biológicas da Universidade Federal de São Carlos (Ufscar) Sorocaba e vice-presidente do Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio Sorocaba e Médio Tietê (CBH-SMT), destaca que, para identificar o tipo de nascente, seria necessário acompanhá-la durante um ano. No entanto, provavelmente a água encontrada pelos ambientalistas trata-se de uma nascente permanente, pois foi localizada durante o período seco.
Cordeiro explica que além de fornecer água para os animais, as nascentes acrescentam água ao rio no período da estiagem. Segundo ele, ao se construir uma avenida em seu entorno, as enchentes no município também tendem a aumentar.
“Essa é uma área que tem vegetação; provavelmente, ela está absorvendo água da chuva e, depois, no período de estiagem, vai soltando de forma mais lenta em direção ao rio. O problema nas cidades é justamente isso: a gente impermeabiliza tudo. Então, quando chove, essa água vai de uma vez só para o rio e daí você tem enchente. E, na época de estiagem, como a água não penetrou no solo, você não vai ter nascente que alimente o rio e, então, o rio abaixa muito.”
Licenciamento
A Prefeitura de Sorocaba informou que as nascentes foram mapeadas durante o processo de licenciamento ambiental, juntamente com suas áreas de preservação permanente. O processo também avaliou os impactos e definiu medidas de mitigação necessárias. Por isso, não haveria necessidade de envio de equipe ao local, uma vez que a caracterização e identificação de áreas de preservação já foram realizadas. “A incidência em área de preservação não altera ou traz elementos novos ao projeto. Inclusive, o licenciamento ambiental foi devidamente aprovado pela Companhia Ambiental do Estado de São Paulo (Cetesb), o que assegura que a obra da Marginal Direita será executada em conformidade com a legislação e com as condicionantes estabelecidas pelo órgão competente.”
A Cetesb informou que para a emissão das licenças ambientais observou a legislação vigente e se baseou no estudo ambiental apresentado pela prefeitura, em vistorias técnicas no local e na análise das bases cartográficas oficiais. “Até o momento, não foi apresentada a este órgão ambiental nenhuma nova informação que possa interferir no processo de licenciamento ambiental.”
Em agosto, a Prefeitura de Sorocaba recorreu de uma decisão liminar que suspendeu o início das obras da marginal direita, a pedido do Ministério Público do Estado de São Paulo (MP-SP). O processo segue em andamento.
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