Após uma semana e meia do seu resgate, a menina de 6 anos, que era mantida pelos próprios pais em cárcere privado, continua em processo de readaptação social. Conforme noticiado pelo Cruzeiro do Sul na última quinta (4) e sexta-feira (5), ela viveu isolada dentro de casa durante toda a sua vida, sem ter contato com o mundo externo e com outras pessoas.

Desde o dia 29 de agosto, data em que foi resgatada pelo Conselho Tutelar, a menina está em um abrigo recebendo o devido tratamento. De acordo com a conselheira municipal Ligia Guerra, ela está socializando bastante com outras crianças do serviço de acolhimento, inclusive, aceitando receber e dando carinho, como beijos e abraços.

"Atualmente estamos em processo de socialização. Cada dia é uma coisa diferente e ela está indo muito bem", pontua Ligia, que acompanha o caso.

Além do convívio com outras crianças, a menina está aprendendo atividades simples do dia a dia, que não foram ensinadas pelos pais. Um exemplo são os hábitos básicos de higiene, como ir ao banheiro e lavar o cabelo. Ela fazia as necessidades em pé, sem o uso adequado do vaso sanitário. 

A alimentação é outro tópico. Quando mantida sob os cuidados dos pais, a criança somente se alimentava de líquidos. Agora, no serviço de acolhimento, equipes estão introduzindo, aos poucos, comidas pastosas com colher. O uso de soro ainda é feito, mas com menos frequência em comparação com a semana passada.

Em razão das condições em que era mantida em casa, a menina também passou, pela primeira vez, por atendimento médico. Os primeiros resultados dos exames dela constataram infecção urinária, infecção sanguínea, intolerância à lactose e afundamento do tórax. A alteração torácica teria ligação com a falta de deglutição, possivelmente porque a criança nunca teria recebido alimentos sólidos, ou em razão de outra intercorrência. 

Nesta semana, a menina passará por avaliação de diferentes profissionais, como psicólogo, psiquiatra e terapeuta ocupacional, para ter um diagnóstico completo. "Ainda está muito no início, portanto, ela vai passar por esse atendimento multidisciplinar, até mesmo para saber questão de medicação e tratamento. Contudo, com o processo de socialização, ela está apresentando um grande desenvolvimento", finaliza Ligia.

E os Pais?

Os pais da criança foram presos na última quinta-feira (4), no Jardim Santa Esmeralda, em Sorocaba, acusados de manter a própria filha em cárcere privado. A prisão foi realizada pela Polícia Civil, por meio da Delegacia de Defesa da Mulher (DDM).

Após a audiência de custódia, o casal permanece em prisão temporária pelo prazo de 30 dias. De acordo com a delegada titular da DDM, Renata Zanin, as investigações continuam em andamento.

Entenda o Caso

O caso veio à tona na última quinta-feira, quando os pais da menina foram presos. Segundo o Conselho Tutelar, a situação chegou ao órgão por meio de uma denúncia anônima por telefone.

No local, os conselheiros levaram cerca de uma hora para conseguir acesso à residência. O pai teria recebido a equipe de forma hostil, recusando a entrada. A mãe também resistiu a colaborar, afirmando que só poderia comparecer ao conselho em outro dia. Após insistência, ela concordou em entregar os documentos da filha e levá-la ao Conselho Tutelar.

Ao ser comunicada do caso, a Polícia Civil representou pela prisão temporária do casal e pelo mandado de busca e apreensão. A Justiça deferiu os pedidos, que foram cumpridos na quinta-feira.

Durante as investigações, as equipes descobriram que a menina vivia isolada dentro de casa, sem contato com outras crianças, nunca havia frequentado escola ou recebido acompanhamento médico regular e teria sido alimentada exclusivamente por meio de seringas, com líquidos preparados no liquidificador. 

Ligia Guerra informou ainda que não havia registros anteriores de denúncia sobre esse caso. Segundo ela, outros parentes da menina tiveram último contato com ela quando tinha apenas nove meses.