A presença do vice-governador Felício Ramuth no evento do Grupo de Líderes Empresariais (Lide) na região de Sorocaba foi mais do que protocolar: ele adotou uma postura articulada, fez balanço da gestão estadual, apontou rumos da política nacional e deixou claro que o governo de São Paulo já entrou no radar das eleições de 2026 — ainda que de forma indireta. O encontro foi realizado ontem (26) em um centro empresarial em Votorantim.

O vice-governador falou sobre os bastidores políticos e evitou negar o que já se discute entre empresários e setores da oposição ao governo federal: a construção do nome de Tarcísio para a sucessão de Lula.

“O governador Tarcísio está absolutamente focado em São Paulo. Estamos nas ruas com as caravanas 3D — a última foi em Marília, a próxima será em Araçatuba — sempre com ele e sua esposa. Ele não perde tempo com outra pauta que não seja a gestão”, afirmou.

Ao mesmo tempo em que reafirma o foco estadual, Ramuth reconhece que há uma pressão externa, especialmente de grupos ligados ao ex-presidente Jair Bolsonaro, para que Tarcísio entre no jogo presidencial. Segundo ele, qualquer movimentação nesse sentido só será feita com aval explícito de Bolsonaro.

“Eu uso a palavra ‘convocado’ porque seria uma missão complexa. O presidente Lula tem experiência em disputas eleitorais e não será um adversário simples”, afirmou Ramuth. “Na política, é comum tentar antecipar os movimentos. Mas às vezes o erro está justamente em se mover cedo demais. Agora ainda é cedo. Nosso foco segue sendo a gestão.”

Nos bastidores e no âmbito estadual, o nome de Ramuth tem ganhado força justamente por sua proximidade com o setor produtivo e perfil técnico-administrativo, herdado da iniciativa privada. Sua atuação nas caravanas pelo interior e a articulação com lideranças locais mostram um vice cada vez mais presente — e testado.

Investimentos

Ramuth aproveitou a ocasião para reforçar o discurso do governo estadual em torno da modernização do ambiente de negócios. Segundo ele, o Estado de São Paulo já garantiu R$ 854 bilhões em investimentos, seja por meio de parcerias com a iniciativa privada ou concessões.

O vice-governador destacou que a região de Sorocaba tem se beneficiado diretamente desse pacote, com novos empreendimentos e ações estruturantes. Entre os projetos citados estão: o trem intercidades São Paulo-Sorocaba, que será interligado às linhas Campinas e São José dos Campos; ampliação de rodovias; e a aceleração dos licenciamentos ambientais via Cetesb e o reforço nos quadros da Artesp, responsável pela fiscalização de concessões rodoviárias.

“Estamos ouvindo os empreendedores e aprimorando continuamente o ambiente de negócios. Hoje, mais de 900 atividades podem ser abertas de forma simplificada. Nosso objetivo é garantir não apenas boas concessões, mas também fiscalização eficiente”, afirmou.

Outro tema abordado por Ramuth foi o impacto das tarifas impostas pelo governo dos Estados Unidos sobre produtos brasileiros, especialmente do setor agroindustrial. O vice-governador afirmou que São Paulo agiu rapidamente para proteger os exportadores. “Logo nos primeiros dias, colocamos R$ 400 milhões do Banco de Fomento à disposição das empresas e antecipamos R$ 1,5 bilhão em créditos de ICMS. Isso mostra agilidade, ao contrário do governo federal, que demorou quase dois meses para reagir”, disse.

Núcleo

O evento marcou a inauguração oficial do núcleo regional do Lide em Sorocaba, reunindo cerca de 100 empresários da região. O grupo será liderado por Flavio Amary, ex-secretário estadual de Habitação e atual presidente do comitê Real Estate do Lide.

“Nosso objetivo é reunir presidentes de empresas que faturam mais de R$ 30 milhões por ano e promover encontros e discussões em torno da economia. Queremos conectar a região de Sorocaba ao que há de mais avançado no Brasil e no mundo”, afirmou Amary.

O Lide reúne líderes empresariais da América Latina e atua como espaço de articulação entre setor produtivo e poder público. Fundado em 2003 por João Doria (ex-governador de São Paulo), o grupo está presente em várias regiões do Brasil e no exterior.

Presente no evento, Doria falou sobre o papel estratégico do Lide na articulação de políticas econômicas e comerciais. Ele defendeu a ampliação das relações do Brasil com novos mercados e criticou a dependência excessiva dos Estados Unidos.

“Quanto mais o Brasil diversificar suas exportações, mais competitivo será. A sobretaxa de 50% imposta por Donald Trump é injusta e prejudica tanto a economia brasileira quanto o consumidor americano”. Doria também relembrou sua atuação durante a pandemia e defendeu a importância da ciência.

O ex-governador destacou que, sob sua gestão, São Paulo trouxe 124 milhões de doses de vacina por meio da parceria entre o Instituto Butantan e a farmacêutica Sinovac. “Foram vacinas que salvaram milhões de vidas. Não foi uma posição política, foi uma defesa da saúde pública. Hoje, até os que criticaram reconhecem isso.”

Sobre os atos de 8 de janeiro de 2023, Doria foi enfático ao classificar como um ataque à democracia, mas pediu equilíbrio nas penalidades. “O Brasil precisa punir os responsáveis, mas também buscar pacificação. Dividir o País entre extremos só prejudica a economia e o futuro da nação”.