Abandono
Remoção de árvore em Sorocaba segue sem data
Em frente à casa do aposentado Francisco Américo, 76 anos, a cena é de abandono: calçada destruída, raízes invadindo a estrutura da residência, rachaduras nas paredes, pisos soltos e portão travado. Nos dias de chuva, o medo aumenta: cabos de energia estalam, o fornecimento é interrompido e fios de telefonia se rompem. O problema tem endereço certo: uma árvore com mais de 35 anos, que deveria ter sido removida meses atrás, mas continua de pé.
Uma espera que se arrasta
O caso começou em 30 de outubro de 2024, quando Francisco protocolou, na Casa do Cidadão, um pedido de providências. A solicitação só foi registrada após questionamento formal feito pelo Cruzeiro do Sul à Prefeitura e à CPFL Piratininga.
Naquele mesmo dia, o prefeito Rodrigo Manga divulgou um vídeo anunciando parceria com a concessionária de energia para poda e remoção de 500 árvores em Sorocaba. Para Francisco, que aguardava uma solução, soava como um alívio. Nove meses depois, a realidade é outra.
Vistoria e confirmação do risco
Após a abertura do processo, técnicos da Secretaria do Meio Ambiente (Sema) foram ao local. A vistoria confirmou tudo o que Francisco relatava há anos: a árvore comprometia não apenas a calçada, mas também a estrutura da casa e a segurança da vizinhança.
“As raízes já invadiram minha residência. Tenho rachaduras, pisos soltos, entupimento de calhas, além do risco em cada temporal. Já tivemos quedas de energia e cabos rompidos. O problema foi reconhecido pela prefeitura, mas até agora nada foi feito”, diz Francisco.
Além dos danos à própria casa, o aposentado ressalta o impacto coletivo. “Não é só comigo. A árvore derruba folhas e frutos todos os dias, que se espalham pela rua e pela calçada dos vizinhos. O risco é para todos.”
A burocracia do corte
Apesar da vistoria e da constatação oficial, o processo se arrastou. Somente no dia 7 deste mês, Francisco recebeu um documento da Prefeitura que deferiu o pedido de supressão da árvore.
O texto condiciona a remoção à assinatura de um Termo de Compromisso de Recuperação Ambiental (TCRA), instrumento que obriga o morador a compensar o corte com o plantio de espécies nativas. Francisco já cumpriu a exigência e recebeu duas mudas para replantio.
“Já fiz a minha parte. Entreguei as mudas, assinei o termo, cumpri tudo o que pediram. Agora é responsabilidade da prefeitura efetivar o corte e reparar os danos. Mas seguimos esperando”, afirma.
O que diz a Prefeitura
Procurada, a administração municipal informou que o corte de árvores próximas à rede elétrica é realizado em conjunto com a CPFL Piratininga, que define a programação em parceria com a Sema. De acordo com a nota, os cronogramas podem ser alterados “por questões operacionais ou para priorizar emergências”.
A prefeitura destacou ainda que o processo segue os trâmites legais previstos na Lei Municipal nº 8.903/2009 (que regula supressões arbóreas) e que a compensação ambiental é exigida caso a caso, conforme a legislação e o programa “Arborização + Segura”.
Concessionária
Enquanto a prefeitura respondeu, a CPFL não se manifestou sobre o caso até o fechamento desta reportagem.
Risco contínuo
Para Francisco, a demora expõe a distância entre promessas políticas e a realidade do cidadão. “O prefeito anunciou que centenas de árvores seriam retiradas em Sorocaba. A minha já foi reconhecida como perigosa, já foi autorizada para corte. Mas continua aqui, causando estragos. A cada dia de espera, o prejuízo aumenta”, desabafa. (João Frizo - programa de estágio)