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SOROCABA 371 ANOS

Importância do passado

"A ‘modernização’ das cidades, como o caso de Sorocaba, não pode ocorrer tendo como custo o apagamento de memórias ou a subalternização da qualidade de vida das pessoas"

14 de Agosto de 2025 às 22:45
Tom Rocha [email protected]
Larissa Girardi Losada mostra em uma perspectiva histórica como o passar dos anos pode impactar o crescimento de Sorocaba
Larissa Girardi Losada mostra em uma perspectiva histórica como o passar dos anos pode impactar o crescimento de Sorocaba (Crédito: ARQUIVO PESSOAL)

Com a cidade em expansão, há uma tendência do antigo ser deixado de lado. Nesse espaço de tempo, há significados marcantes, como preservar memórias, se encontrar nos lugares afetivos da cidade e conectar pontos sensíveis de conhecimento em comum entre moradores. É o que explica Larissa Girardi Losada, arquiteta, urbanista, historiadora (com foco em arqueologia em Sorocaba) e mestra em museologia, que mostra em uma perspectiva histórica como o passar dos anos — como uma década — pode impactar em uma cidade em crescimento como Sorocaba.

“Preservar as memórias locais deve estar no escopo das ações de desenvolvimento. O que chamamos de ‘modernização’ não deve anular saberes e vivências locais, pelo contrário, ela pode ganhar — e muito — se considerar a dimensão humana do espaço, principalmente de quem o frui no cotidiano. Por isso, é tão importante considerarmos a aplicabilidade do Estatuto da Cidade (Lei nº 10.257, de 10 de julho de 2001) e a necessidade constante de acompanhamento e revisão do Plano Diretor, sempre priorizando a participação popular. Afinal, a cidade precisa ser feita para as pessoas, mirando no desenvolvimento sustentável”, diz Larissa.

“A ‘modernização’ das cidades, como o caso de Sorocaba, não pode ocorrer tendo como custo o apagamento de memórias ou a subalternização da qualidade de vida das pessoas. Em suma, as cidades precisam ser planejadas e replanejadas para quem as frui cotidianamente; para quem já possui memórias relacionadas aos lugares; e para quem ainda vai construir memórias”, afirma Larissa.

Segundo a urbanista, à medida que a cidade cresce, os bairros vão se espraiando e outros bairros vizinhos vão sendo criados. “Contudo, ainda assim, conseguimos observar que existem divisões que persistem na memória e no espaço como os casos do Além Ponte e do Além Linha, por exemplo. Os marcos urbanos, ponte e ferrovia, ainda permanecem, mesmo que os bairros e regiões tenham outros nomes atualmente. Não raro, vemos pessoas que ainda usam essas denominações como referenciais.”

Como se achar na cidade?

“As formas de encontro também se alteram, por exemplo, com o número maior de praças, parques, espaços de cultura e memória, entre outros”, explica Larissa. “Um aspecto importante no âmbito do deslocamento, que é recorrentemente mencionado quando entrevistamos idosos, é o transporte ferroviário. As memórias relacionadas à ferrovia são extremamente relevantes para compreensão da dinâmica da cidade; das tessituras urbanas e do mundo do trabalho de outrora. A malha ferroviária, as edificações e os espaços de sociabilidade relacionados à ferrovia também são importantes ativadores de memórias e afetos, mesmo que, por vezes, a sua situação atual seja mencionada com pesar”, aponta a historiadora de Sorocaba.

“É bastante comum observarmos grupos ‘dos bairros’ em redes sociais, o que mantém um sentimento de pertencimento e o diálogo, ainda que virtualmente. Não deixa ser uma forma de cuidado mútuo e de vizinhança. Essas redes também podem servir como pontes entre diferentes gerações”, afirma.

O afeto pelo que nos construiu

Na análise de Larissa, o crescimento urbano de Sorocaba tem levado à formação de novos centros além do tradicional núcleo central, criando demandas cada vez maiores por serviços públicos, especialmente na área de mobilidade urbana. Essa expansão também evidencia a necessidade de mais espaços de lazer e cultura nas regiões não centrais, reforçando a importância de eventos como as feiras de bairro e do Centro, que funcionam como pontos de encontro e sociabilidade. Além do aspecto físico, as redes sociais digitais surgem como novos espaços de convivência e manutenção do sentimento de pertencimento, permitindo interações e cuidados mútuos mesmo à distância.

Essas redes virtuais têm papel relevante na conexão entre diferentes gerações, ao resgatar e compartilhar memórias da cidade. Fotografias antigas, publicações nostálgicas e discussões sobre lugares e costumes do passado aproximam moradores antigos e novos, preservando lembranças de uma Sorocaba “menor”, mas que ainda se manifesta no cotidiano atual. A troca de experiências e a circulação dessas memórias criam uma ponte entre passado e presente, fortalecendo vínculos comunitários e ampliando o repertório afetivo coletivo.

Uma década de semelhanças

Uma marcação da passagem de 10 anos é singular. Em 2015, a comemoração de aniversário ocorreu no Largo do São Bento, na região central, com desfile cívico com dois mil estudantes de 16 escolas. A cobertura do jornal Cruzeiro do Sul no dia foi marcada por fotos feitas por leitores e reclamações por melhorias no 1º bairro da cidade, Itavuvu — na extrema zona norte de Sorocaba. Com o passar dos anos, diferentes gestões investiram na região. O crescimento verificado na educação se verifica na atualidade: a cidade mantém altos índices de desenvolvimento social, com 98,6% das crianças entre 6 e 14 anos frequentando a escola, e mais de 220 escolas de ensino fundamental e 92 de ensino médio em funcionamento em 2024.

O contexto do País em 2015 ainda era reflexo da crise de 2008, quando os subprimes americanos (complexos empréstimos envolvendo imóveis em aluguel) arruinaram a economia mundial, com reflexos no Brasil, que vivia sob o segundo governo de Dilma Roussef (PT). A Secretaria de Tesouro Nacional do Ministério da Fazenda suspendeu a análise de obras com empréstimos internacionais, impactando diretamente Sorocaba, além de outras como Campo Grande (MS), Florianópolis (SC), Macéio (AL), Fortaleza e Maracanaú, ambas no Ceará, e Recife e Jaboatão dos Guararapes, as duas em Pernambuco. Apesar disso, a febre dos food trucks continuava em alta, e a Universidade Federal de São Carlos — Campus Sorocaba inaugurava mais três prédios, oferecendo 14 cursos de graduação e 9 de pós — já em seus já 7 anos de existência. No esporte, o São Bento disputava a Copa Paulista e o Brasil Kirin levava o nome de Sorocaba ao topo do futsal.

 

 

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