Saúde
Tecnologia com óleo de tomilho combate larvas da dengue
Com mais de 1 milhão de casos prováveis de dengue registrados até maio de 2025, o Brasil enfrenta uma das maiores epidemias dos últimos anos. A situação reforça a necessidade de novas estratégias no combate ao mosquito Aedes aegypti, transmissor da dengue, zika e chikungunya.
Uma dessas alternativas vem da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Pesquisadores da Faculdade de Engenharia de Alimentos (FEA) desenvolveram uma partícula biodegradável capaz de eliminar 100% das larvas do mosquito em até 48 horas. O segredo está no uso do óleo essencial de tomilho, conhecido por sua ação larvicida, encapsulado em uma matriz de amido.
“O objetivo era criar um produto seguro, eficaz e fácil de usar no dia a dia, principalmente nos pequenos focos de água parada que costumam passar despercebidos, como vasos e garrafas”, explica a professora Ana Silvia Prata, uma das responsáveis pela invenção.
Além dela, o desenvolvimento da tecnologia contou com a participação dos pesquisadores Marcio Schmiele, Juliana Dias Maia e Johan Bernard Ubbink, este último da universidade americana California Polytechnic State University.
Pequena partícula, grande efeito
A tecnologia se destaca pela liberação controlada do óleo. Um único grão da partícula trata até 100 ml de água. Ao ser colocado em recipientes com água parada, ele absorve o líquido, incha e libera gradualmente o composto ativo, atingindo as larvas nos momentos em que estão mais vulneráveis.
A liberação é feita sem uso de solventes e o processo de produção, por extrusão termoplástica, é seguro e viável para larga escala. A eficácia foi comprovada em laboratório e também em testes de campo, em parceria com a Universidade Federal de Sergipe (UFS) e a Prefeitura de Adamantina (SP).
Segundo Ana Silvia, os resultados foram animadores. “As partículas tiveram desempenho superior ao agente biológico que estava sendo utilizado pela prefeitura. Além disso, acabaram servindo como estímulo educativo, incentivando a população a eliminar focos de criadouros.”
A segurança do produto também foi prioridade. “Consideramos até mesmo o risco de ingestão acidental por crianças ou animais. A quantidade de óleo usada é mínima e, nas condições previstas, não oferece toxicidade”, reforça a pesquisadora.
Outro diferencial importante é a durabilidade. As partículas resistem a ciclos de chuva e seca e podem ser reutilizadas até cinco vezes. Mesmo após a evaporação da água, elas permanecem ativas no local, prontas para agir novamente.
De laboratório para a sociedade
A invenção já teve a patente solicitada e foi licenciada para a empresa Zöld, por meio da Agência de Inovação da Unicamp (Inova Unicamp). “A Inova foi essencial para que essa tecnologia ultrapassasse os muros da universidade e chegasse à sociedade”, destaca Prata.
O próximo passo é concluir o processo regulatório junto à Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária). A empresa trabalha na atualização da monografia de óleos essenciais para que o produto possa ser registrado como inseticida, e não apenas como saneante.
Segundo César Xavier, diretor da Zöld, a expectativa é finalizar essa etapa até o final de 2025. “Com isso, poderemos avançar na produção e na comercialização do produto”, afirma.
Com formulação segura, custo acessível e potencial de ser incorporada a políticas públicas de saúde, a tecnologia desenvolvida na Unicamp promete reforçar o combate ao Aedes aegypti em todo o País. “Ela já foi testada, é eficaz e pode fazer a diferença nas ações de controle da dengue”, conclui a pesquisadora. (Da Redação, com informações da Agência SP)