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Alimentação e ítens básicos

Cesta básica recua em Sorocaba, mas população ainda convive com preços altos

Apesar da diminuição no valor médio em julho, alimentos e produtos essenciais seguem caros

06 de Agosto de 2025 às 22:47
Cruzeiro do Sul [email protected]
Café teve aumento e não baixou mais, reclamam os consumidores: leite e iogurte também subiram
Café teve aumento e não baixou mais, reclamam os consumidores: leite e iogurte também subiram (Crédito: JOÃO FRIZO)

Julho trouxe uma leve trégua para o consumidor sorocabano no que diz respeito ao preço da cesta básica. Apesar da queda de 1,33%, conforme aponta o mais recente boletim do Laboratório de Ciências Sociais Aplicadas da Universidade de Sorocaba (Uniso), muitos consumidores continuam sentindo o impacto dos preços altos nas compras do mês. Os dados mostram que a cesta passou de R$ 1.170,15 em junho para R$ 1.154,57 em julho, uma diferença de R$ 15,58. No entanto, na prática, o alívio quase não é percebido por quem frequenta supermercados da cidade.

“Um alimento ou outro deu uma baixada, mas a maioria, infelizmente, está subindo”, relata a artesã Eunice Vieira da Silva, que tenta equilibrar o orçamento enquanto reavalia hábitos alimentares. Ao visitar o mercado, ela notou aumento significativo nos preços das frutas, como mamão, maçã e abacaxi, além de observar que o café permanece em um patamar elevado. “O café já teve aumento e não baixou mais. O leite também subiu, junto com o iogurte. A gente até pensou em levar azeite, mas decidimos pesquisar primeiro.”

A percepção de Eunice é reforçada por outra consumidora, a dona de casa Sônia Maria de Melo Souza. “Para mim, está tudo caro: legumes, frutas, tudo. E a gente tem de pesquisar bastante”, diz, enquanto relata a rotina de visitar diferentes mercados do bairro em busca de melhores preços. “Teve mês que eu comprei em outro mercado e saiu mais caro. Levei menos coisas.”

Queda pontual

Apesar da queda registrada em julho, o acumulado do ano ainda aponta para um cenário instável. Desde janeiro, a variação no preço da cesta básica em Sorocaba acumula redução de apenas 0,93%. Porém, em relação a julho do ano passado, o custo da cesta aumentou 8,02%, ou seja, R$ 85,77 a mais — uma elevação que reflete o peso da inflação enfrentada pelas famílias nos últimos 12 meses.

Segundo o economista Marcos Canhada, coordenador da pesquisa da Uniso, parte dessa inflação acumulada tem raízes no ano passado, quando condições climáticas adversas impactaram a oferta de alimentos e pressionaram os preços para cima. “Em 2025, com a reversão desse cenário, a produção agrícola tem mostrado sinais de recuperação, resultando em maior oferta e queda nos preços”, explica. Mesmo assim, ele alerta: “Os preços ainda se mantêm em patamares elevados devido ao aumento abrupto ocorrido anteriormente”.

A queda em produtos como batata, cebola e arroz tem relação direta com essa melhora na safra agrícola e no aumento da oferta. Esses itens, que tiveram retração significativa, contribuíram para o recuo da cesta. Mas, para boa parte da população, os valores ainda estão distantes do que o consumidor considera justo, especialmente quando comparados ao poder de compra de famílias assalariadas e aposentados.

Pressão fora da alimentação

Outro fator que complica a situação do consumidor é o comportamento de produtos que não fazem parte da alimentação direta, mas são igualmente essenciais. Em julho, itens de higiene pessoal e limpeza doméstica registraram alta de preços, um movimento que surpreende e ainda não tem explicações conclusivas.

Para o economista Marcos Canhada, a alta pode estar relacionada a diferentes fatores, como aumento na demanda, custos de produção (incluindo embalagens e matérias-primas), transporte e energia. “Ainda não é possível identificar com precisão as causas dessa elevação, mas o comportamento desses itens nos próximos meses poderá nos dar pistas mais claras”, explica.

Essa elevação nos preços de produtos não alimentares pressiona o orçamento mesmo quando os alimentos recuam, o que ajuda a explicar o descompasso entre a percepção popular e os números do boletim.

Por que a inflação sobe e a cesta cai?

Um dos dados que mais chamou atenção neste boletim foi o fato de a cesta básica ter caído no mesmo mês em que o IPCA-15, o Índice Oficial de Inflação, subiu 0,33%. Isso gerou um contraste aparente, mas que, segundo Marcos Canhada, tem explicação técnica: “A forte queda nos preços dos alimentos, que têm peso significativo na composição da cesta básica, acabou contrastando com a inflação mais ampla, que engloba outros setores da economia”.

Na prática, isso significa que enquanto os alimentos cederam levemente, outros grupos de consumo — como transportes, saúde, educação ou mesmo serviços — mantiveram trajetória de alta, puxando o índice geral de preços para cima.

O que esperar?

As previsões para os próximos meses são marcadas por incerteza e cautela. O economista explica que a continuidade de quedas nos preços da cesta básica dependerá de variáveis bastante instáveis: condições climáticas, política fiscal e econômica, câmbio e até mesmo conflitos internacionais que afetam o comércio e os custos logísticos.

“É difícil prever o comportamento dos preços no curto prazo, porque o cenário está muito volátil”, aponta Marcos Canhada. Ele lembra ainda que, mesmo com safras boas e sinais de melhora na oferta, não há garantias de que os preços se manterão em baixa, especialmente em um país onde o custo de vida varia tanto de região para região.

Enquanto isso, nas prateleiras de Sorocaba, o consumidor segue tentando adaptar hábitos, substituindo produtos e pesquisando ofertas, como um ato cotidiano. “A gente vai fazendo o que dá para manter um equilíbrio”, conclui Eunice.

 

 

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