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Educação

Municípios da RMS superam metas de alfabetização

Cidades da região têm índices melhores que Sorocaba na educação básica

29 de Julho de 2025 às 22:34
Thaís Marcolino [email protected]
Piedade ultrapassou a meta de alfabetização, alcançando 63,25%, um crescimento de 1,13 ponto percentual
Piedade ultrapassou a meta de alfabetização, alcançando 63,25%, um crescimento de 1,13 ponto percentual (Crédito: DIVULGAÇÃO/PREFEITURA DE PIEDADE)

Araçoiaba da Serra, Piedade e Votorantim, pertencentes à Região Metropolitana de Sorocaba (RMS), obtiveram bons resultados no índice de alfabetização 2024 e ultrapassaram a meta estipulada pelo Ministério da Educação (MEC) para o ano passado. Os dados foram divulgados no último dia 11 e referem-se ao número de alunos das redes públicas, matriculados no 2 ano do ensino fundamental, alfabetizados na idade certa. O índice é obtido a partir das avaliações conduzidas pelos estados, como o Saresp. Os três municípios ficaram à frente de cidades maiores, como Sorocaba.

Das cidades elencadas pelo Cruzeiro do Sul para fazer o levantamento, a que desempenhou melhor foi Araçoiaba da Serra. A cidade terminou o ano passado com 56,16% dos alunos alfabetizados, superando a meta de 54,42% em 1,74 ponto percentual.

Com crescimento de mais de um ponto percentual (1,13%), também está Piedade. A meta estipulada pelo Ministério da Educação (MEC) para o município era de 62,12%, que acabou o ano passado com 63,25% de índice.

Votorantim também se destacou, com 54,69%, enquanto a meta do governo federal estava em 53,97%. Aumento de 0,72.

A sede da RMS, por sua vez, não atingiu a meta por pouco mais de 0,7. Sorocaba obteve 52,43% dos alunos alfabetizados no 2 ano do ensino fundamental. A meta era 53,15%. A taxa de participação dos estudantes no levantamento, entretanto, atingiu apenas 72%, diferente dos outros municípios citados, que ficaram acima dos 85%.

Os números chamam a atenção, pois, no senso comum, tende-se a acreditar que cidades maiores, que recebem mais investimento para tal, teriam desempenho superior. Na visão da especialista em alfabetização e infância, Priscila Puccetti Rodrigues Kyt, tamanho não é sinônimo de qualidade. O que realmente faz a diferença é a consistência das políticas públicas pedagógicas e a capacidade da gestão em acompanhar de perto as práticas das escolas. “Em cidades menores, essa proximidade entre gestão e unidades escolares é maior, o que facilita o monitoramento contínuo e a rápida identificação de necessidades específicas. Isso permite uma atuação mais ágil, com formação continuada focada e intervenções pedagógicas eficazes.”

Por outro lado, Priscila, que também exerce a função de coordenadora pedagógica de Votorantim e da escola Portal, em Sorocaba, explica que, em cidades grandes, além da complexidade administrativa e do volume maior de escolas, há também uma grande diversidade entre as unidades escolares em termos de infraestrutura, perfil dos alunos, recursos disponíveis e demandas específicas. “Essa heterogeneidade torna o acompanhamento ainda mais desafiador, exigindo estratégias diferenciadas para atender às realidades variadas das escolas.”

O que tem sido feito

A reportagem entrou em contato com todos os municípios citados no levantamento. Com exceção de Sorocaba, Araçoiaba da Serra, Piedade e Votorantim evidenciaram a satisfação com os resultados obtidos, assim como elencaram o que tem sido feito nos municípios.

A Prefeitura de Araçoiaba da Serra frisou a formação continuada dos professores, a implementação de projetos pedagógicos específicos para a alfabetização, fortalecimento da parceria com as famílias, projetos inovadores no setor de tecnologia e avaliações diagnósticas que, a depender da necessidade, podem dar início a estratégias de reforço.

Com iniciativas similares está Piedade. Entretanto, de acordo com a Secretaria da Educação local, o município também participa de programas federais e estaduais voltados à promoção da alfabetização na idade certa, ampliando o suporte técnico à rede.

Em Votorantim, a secretária interina de Educação da cidade, Rosangela de Paula, disse, em nota, que os índices são fundamentais para avaliar a eficácia do sistema educacional. A nota detalha ainda as ações implementadas desde o início deste ano, para que a meta de 2025 de 59% seja cumprida. Entre elas, o uso de plataformas digitais e monitoramento da equipe técnica da secretaria nas unidades escolares.

Sorocaba

Sorocaba não conseguiu atingir a meta estipulada pelo governo e, de acordo com a Secretaria da Educação (Sedu), o índice abaixo é reflexo do período pandêmico. Contudo, os números mostram algo diferente. Em 2023, a meta alcançada pelo município foi de 47,9% e no ano seguinte pulou para 52,43% (atual). Um salto de 4,53 em 12 meses.

Embora relacione o desempenho à pandemia, a pasta esclareceu que no período “investiu fortemente em recursos tecnológicos como: lousas digitais, tablets e chromebooks, bem como na implementação de projetos que ampliam o tempo de permanência nas escolas e aumentam a segurança alimentar dos estudantes como as ‘Oficinas de Aprendizagem‘, que trabalham no contraturno o reforço escolar e o projeto ‘Eu Pratico Esporte Educacional Escolar‘, que dissemina a prática de esportes.”

Além disso, a Sedu destacou outras ações realizadas. Entre elas, a formação de professores com o projeto Alfabetiza Juntos SP, utilização da plataforma de leitura Elefante Letrado e aplicação do teste de fluência de leitura.

Formação continuada

Independente da meta ter sido atingida ou não, a formação continuada é um aspecto fundamental que deve ser cultivado com cuidado, afirma Priscila Kyt. “Ela não é apenas um momento para receber informações, mas um espaço onde os professores podem realmente refletir sobre suas práticas, compreender as ideias e teorias que as fundamentam, e, a partir daí, transformar o que fazem na sala de aula.”

Ainda conforme a profissional, quando esse processo acontece em pares ou grupo, o que surge não é apenas uma troca de experiências, mas uma oportunidade para que os educadores questionem, problematizem e construam juntos novos sentidos para a sua prática. “É nesse diálogo que se abre caminho para a inovação e para uma aprendizagem mais significativa, tanto para o professor quanto para o aluno”, complementa.

Índice Nacional de Alfabetização leva em conta as avaliações dos Estados

O Índice Nacional de Alfabetização em 2024 atingiu 59,2% das crianças da rede pública, um avanço em relação aos 56% registrados em 2023. Apesar do crescimento, a meta estabelecida pelo governo federal, através do Compromisso Nacional Criança Alfabetizada, era de 60%. O índice é calculado a partir de avaliações realizadas pelos estados, a prova reúne 16 questões de múltipla escolha e três abertas, incluindo uma produção de texto, e divulgadas pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep).

Ao todo, 2 milhões de alunos de 42 mil escolas, em 5.450 municípios, participaram do estudo, a partir das avaliações estaduais. Dos 5.312 municípios avaliados em 2023 e 2024, 58% deles (3.096) aumentaram o percentual de alunos alfabetizados e 53% (2.018) alcançaram a meta. (T.M.)

Estratégias a curto e longo prazo são essenciais

As metas de alfabetização para o 2º ano do ensino fundamental na rede pública aumentam a cada ano, o que exige estratégias a curto e longo prazo por parte das gestões municipais. A especialista em alfabetização e infância, Priscila Puccetti Rodrigues Kyt, esclarece que a importância dos dados e índices educacionais não pode ser subestimada, visto que eles fornecem um diagnóstico preciso das dificuldades enfrentadas, orientam a formulação de políticas públicas e, da mesma maneira, possibilitam o direcionamento eficiente dos recursos, tornando-se ferramentas essenciais para o monitoramento.

Segundo Priscila, a curto prazo é essencial investir na formação dos professores, com foco nas dificuldades reais enfrentadas em sala de aula, assegurando um acompanhamento pedagógico próximo e eficaz. Já a longo prazo, as prioridades incluem a valorização contínua dos profissionais da educação, políticas públicas coerentes e sensíveis à realidade local, além da construção de um currículo conectado ao cotidiano dos alunos, integrando seus saberes, histórias e culturas. Só assim, a educação se tornará viva, pulsante, capaz de transformar realidades”, finaliza. (T.M.)

 

 

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