Insegurança
Moradores denunciam abandono de antiga UBS da Vila Angélica
Mato alto, estrutura comprometida, riscos à saúde e insegurança. Este é o retrato da antiga Unidade Básica de Saúde (UBS) da Vila Angélica, na zona norte de Sorocaba, desativada há cerca de três anos e hoje convertida em símbolo do abandono sentido por moradores da região. Promessas de reforma deram lugar à omissão, e a sensação predominante entre os vizinhos é de descaso por parte do poder público.
O Cruzeiro do Sul esteve no local e constatou o cenário de degradação: vegetação alta, sinais de invasões, lixo acumulado, vestígios de uso de drogas e a estrutura física comprometida com o telhado danificado e as portas arrombadas. À noite, o local preocupa ainda mais quem vive nas imediações.
“Eles colocaram até parafusos nas portas da UBS para os moradores de rua não invadirem, mas não adianta. Eles estouram o cadeado e entram para dormir, usar drogas ou furtar algo”, relata Emerson Marcelo Ponce, motorista de aplicativo de 52 anos. “Fica triste ver a situação em que o prédio está. Em vez de arrumarem aqui, só prometem e não fazem nada.”
Além do abandono, a violência também se tornou uma ameaça. Maria de Lurdes Souza Ponce, 78 anos, conta ter sido assaltada dentro de casa. “Vieram dizendo que estavam precisando de ajuda. Um deles pediu minha aliança. Enquanto fui buscar água, ele desapareceu com ela. Até eu fui assaltada.”
Outro problema recorrente é o risco de dengue, agravado pelo acúmulo de água parada. A denúncia vem da dona de casa Elisabete Antunes, 59 anos, moradora ao lado da antiga UBS. “Todo ano é a mesma coisa: os vizinhos pegam dengue por causa dessa dita caixa d’água. Está abandonado, está ao ‘deus-dará’. Se alguém for atacado aqui dentro, ninguém nem vê.”
Segundo ela, a UBS da Vila Angélica atendia moradores da própria comunidade, da Vila Barão, Nova Sorocaba e bairros próximos. Desde o fechamento, os atendimentos foram transferidos para outro prédio, na rua Gabriel de Lara, 255, o que, para muitos, dificultou o acesso ao serviço.
“Para gente, ficou longe. Em dia de sol quente ou de chuva, complica muito. E o pior: pagam aluguel do prédio novo, mas o nosso, que já está construído, está caindo aos pedaços. A madeira do telhado está toda comida de cupim. Isso aqui vai cair a qualquer hora”, alerta Elisabete.
Promessas não cumpridas
Moradores também se queixam da ausência de informações claras por parte da Prefeitura de Sorocaba. Segundo relatos, no momento do fechamento da UBS, a população foi informada de que o prédio passaria por reformas para que o atendimento retornasse ao local original. No entanto, isso nunca aconteceu.
“Disseram que ia fechar para reformar, que o nosso posto de saúde voltaria. Mas agora parece que querem tirar do nosso bairro de vez. Só tem o nome de UBS Vila Angélica lá, mas não é mais da Vila Angélica. O pessoal que mora lá perto nem usa. Quem usa somos nós aqui. E agora todo mundo foi prejudicado”, conta Elisabete.
O que diz a prefeitura?
Questionada pelo Cruzeiro do Sul, a Secretaria da Saúde (SES) de Sorocaba, informou que, com a mudança da UBS para o novo endereço, “o imóvel anterior se encontra temporariamente desocupado”. Ainda segundo a nota, está em elaboração “um plano de utilização do espaço, que deverá ser destinado à implantação de uma nova unidade ou serviço de saúde pública, em alinhamento com as diretrizes do novo plano de governo”. A SES, no entanto, não informou prazos nem confirmou se o prédio atual será reformado e devolvido à comunidade.
População cobra solução
Para os moradores, a resposta não resolve o problema. A exigência é por clareza, urgência e providências concretas. “A gente quer uma solução. Que tomem uma decisão sobre o que será feito com isso aqui e o mais rápido possível. Porque não dá mais para continuar assim”, conclui Elisabete. (João Frizo - programa de estágio)
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