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Estiagem

Queimadas e tempo seco pioram a qualidade do ar

Incêndios de grandes proporções se tornaram mais comuns e mobilizaram bombeiros em Sorocaba e região

21 de Julho de 2025 às 22:13
Cruzeiro do Sul [email protected]
No bairro Iporanga, queimada começou na sexta-feira e continuava até ontem
No bairro Iporanga, queimada começou na sexta-feira e continuava até ontem (Crédito: FÁBIO ROGÈRIO)

A região de Sorocaba tem registrado um aumento na quantidade de queimadas nos últimos dias. Dois incêndios recentes em vegetação mobilizaram equipes de emergência e impactaram moradores locais. Uma queimada de grandes proporções, que começou na sexta-feira (18), continuava ontem (21) de manhã no bairro Iporanga, próximo da zona industrial. Apesar dos esforços, chamas ainda persistiam. Na quinta-feira (17), um incêndio atingiu um centro de reciclagem de pneus na Vila Sorocabana, em Mairinque, mobilizando uma operação com dez viaturas do Corpo de Bombeiros e equipes de cidades vizinhas.

No caso mais recente, moradores do bairro Iporanga se preocuparam com a fumaça constante e a proximidade das chamas. Maria Rosineide, 61 anos, relatou que a presença do fogo dificultava as atividades diárias: “Aí vem, falei. Meu Deus, eu não acredito. De novo. Aqui nem bombeiro entra, porque eles não conseguem ter acesso.” O aposentado José Batista, 67, enfatizou os riscos para a saúde dos mais jovens. “Tem criança pequena aqui, um com um ano e dois meses, que fez cirurgia no coração. Respirar essa poluição é terrível”, observa.

A médica pneumologista pediátrica Kelly Stachewski explica que crianças, idosos e gestantes são mais afetados pela fumaça. “Durante uma queimada há formação de partículas muito pequenas que penetram profundamente nas vias aéreas, além da liberação de gases tóxicos, como monóxido e dióxido de carbono e metano, que afetam também os olhos”, detalha. Ela acrescenta que esses agentes podem desencadear ou agravar doenças respiratórias crônicas, como asma e doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC), e provocar sintomas como tosse seca, irritação ocular, ardência na garganta, dificuldade para respirar e fadiga.

Kelly alerta para a vulnerabilidade dos grupos mais sensíveis. “As crianças têm sistema respiratório em desenvolvimento, e muitas apresentam doenças crônicas respiratórias prévias, o que as torna mais suscetíveis. Já os idosos apresentam declínio da função pulmonar, e nas gestantes, as alterações fisiológicas do período podem comprometer a oxigenação do feto.” Segundo ela, a exposição prolongada à fumaça eleva a frequência e a intensidade de crises asmáticas e agrava a função pulmonar em pacientes com DPOC.

Prevenção

A tenente Ludmyla Alcântara, porta-voz da Defesa Civil do Estado de São Paulo, reforça a importância da prevenção em meio a condições climáticas desfavoráveis. “A estiagem traz baixa umidade do ar, ausência de chuvas e ventos, fatores que elevam o risco de incêndios”, explica. Segundo ela, em junho foram registrados 55 focos de queimadas, o menor número dos últimos 26 anos para o mês, com uma queda de 89% em relação a 2024. “Esse resultado é fruto de uma maior divulgação, inovações tecnológicas e ações integradas de prevenção.”

A Operação SP Sem Fogo, iniciada em 1º de junho, reúne Defesa Civil, Corpo de Bombeiros e órgãos ambientais para monitorar e responder a focos de incêndio. Entre as ferramentas, está a Sala SP Sem Fogo, que emite boletins diários e acompanha as condições meteorológicas e áreas de risco. “Também utilizamos drones para monitorar áreas vulneráveis e o sistema Cell Broadcast, que envia alertas de emergência para celulares em regiões específicas, sem necessidade de cadastro”, explica.

Ludmyla reforça os cuidados que a população deve ter para evitar novos incêndios. “Não soltar balões, não jogar bituca de cigarro na beira da estrada, não queimar lixo e não usar fogo para limpar terrenos são atitudes fundamentais.”

Alerta permanente

Embora o número de focos tenha diminuído, os incêndios recentes em Sorocaba e na região mostram que o problema exige atenção redobrada nesta época do ano. A combinação de clima seco, vento e ações humanas imprudentes mantém o cenário propício a novos incêndios.

Murilo Aguiar - programa de estágio

 

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