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Segurança

Onda de furtos assusta no Campolim

Comerciantes relatam invasões e arrombamentos para levar fios elétricos e outros materiais metálicos

18 de Julho de 2025 às 21:50
Vanessa Ferranti [email protected]
Hidrômetros são fechados com grade e cadeado
Hidrômetros são fechados com grade e cadeado (Crédito: FÁBIO ROGÉRIO (15/7/2025))

Comerciantes e proprietários de imóveis disponíveis para venda ou aluguel na avenida Professora Izoraida Marques Peres, no Parque Campolim, zona sul de Sorocaba, têm enfrentado momentos de insegurança há pelo menos um ano, desde que criminosos passaram a invadir e furtar empreendimentos durante a madrugada. O modo de agir dos infratores se repete: entram pelos fundos, arrombam grades, quebram portas e janelas, e cometem os furtos. Os materiais levados, na maioria das vezes, são fiações e equipamentos de ar-condicionado. Em um dos casos, o prejuízo de um proprietário ultrapassou R$ 30 mil.

Manoel Julio Filho é uma das vítimas. De acordo com o empresário, que possui um imóvel no bairro há 20 anos, os furtos de fiação se tornaram recorrentes nos últimos meses. “Como o salão estava desocupado, só com a parte de energia elétrica ligada, eles levaram toda a fiação interna e externa, inclusive a do poste da CPFL. Também arrebentaram o ar-condicionado para furtar o cobre que tem dentro”, relata.

O problema impossibilitou Manoel de continuar os reparos que vinha realizando no imóvel, por conta da falta de energia. O prédio também está bastante pichado. Para ele, a instalação de câmeras de segurança não é suficiente para coibir a ação dos criminosos, pois em muitos casos, os equipamentos são danificados. Pagar por vigilância privada também está fora de cogitação. “O comerciante não consegue manter seu negócio com tranquilidade durante a noite. Se você olhar, verá que há muitas grades instaladas; as pessoas estão tentando se proteger como podem. E ter um vigilante aqui custa muito caro.”

Um salão de festas infantis localizado na mesma região também é alvo frequente de furtos. Segundo Sabrina da Silveira Almeida, gerente comercial, em apenas sete meses foram registradas seis ocorrências no local. O prejuízo ultrapassa R$ 35 mil.

“Praticamente todo mês alguém entra aqui. Eles furtam o cobre do ar-condicionado e, ao estourar os fios, acabam danificando as máquinas. Estamos tendo muito prejuízo. Nas primeiras vezes, registrei boletim de ocorrência, mas depois parei, porque nunca tivemos retorno”, afirma.

Para cometer os furtos, os criminosos utilizam ferramentas para arrombar grades e quebrar telhas. De acordo com Sabrina, até paredes foram quebradas. “Destruíram todo o nosso sistema de ar-condicionado. A cada manutenção, temos que refazer tudo. Agora investimos em proteção e um serralheiro está instalando grades ao redor do equipamento.”

Com medo da criminalidade, a gerente conta que, mesmo com o estabelecimento aberto, tem trabalhado de portas fechadas. Na mesma rua, uma loja de colchões também foi alvo de furto em dezembro do ano passado. Levaram duas condensadoras de ar-condicionado.

Estatística

Nos cinco primeiros meses de 2025, o número de furtos em Sorocaba cresceu 9,6% em comparação com o mesmo período de 2024. Segundo dados da Secretaria de Segurança Pública do Estado (SSP), entre janeiro e maio do ano passado foram registradas 3.554 ocorrências de furto. Já no mesmo período deste ano, o número subiu para 3.898. Os dados referentes ao mês de junho de 2025 ainda não estão disponíveis no site da SSP. Esses números não incluem furtos de veículos e não fazem distinção entre furtos ocorridos em comércios, vias públicas ou residências.

Segundo o advogado Eduardo Munhoz, professor de Direito da Universidade Anhembi Morumbi Sorocaba e presidente da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) de Votorantim, o principal motivo para esse tipo de ocorrência é a venda de cobre, material altamente reciclável, presente em grande parte da fiação elétrica. Com isso, é possível aproveitar quase todo o material, tornando sua comercialização rentável.

O advogado explica que esses crimes são caracterizados como furto qualificado, com pena de reclusão de 2 a 8 anos, além de multa. O comércio que adquire cobre ou qualquer outro material com características de produto furtado também comete um crime: o de receptação. Nos casos em que o receptador possui um acordo prévio com a pessoa que realiza o furto, o crime pode ser caracterizado como organização criminosa.

Conforme o advogado, há uma legislação com punições significativas para esses crimes. No entanto, o problema é complexo, pois, de maneira geral, os furtos desses materiais são cometidos, na maioria das vezes, por pessoas em situação de rua e usuárias de drogas. Para minimizar esses casos, observa Munhoz, é importante adotar medidas de segurança pública e cidadania.

Policiamento

A SSP informou que as estatísticas são constantemente monitoradas para orientar de forma estratégica tanto o policiamento ostensivo quanto às investigações no município. Com base nessa análise, a Polícia Militar tem reforçado a presença nas áreas mais sensíveis, enquanto a Polícia Civil atua para identificar e prender criminosos, desarticular quadrilhas e combater receptadores, inclusive por meio de fiscalização em comércios clandestinos. Nos cinco primeiros meses deste ano, 1.205 infratores foram presos ou apreendidos (aumento de 11,6%) e 87 armas de fogo ilegais foram retiradas das ruas, de acordo com a SSP.

A Prefeitura informou que a Guarda Civil Municipal (GCM) atua em casos de furto, desde que em flagrante, durante patrulhamentos preventivos. A administração municipal também destacou a “Operação Ferro-velho”, para combater a receptação de materiais furtados, e o programa Humanização”, que realiza abordagens sociais a pessoas em situação de rua.