Cuidado extra
Crianças em casa exigem atenção redobrada
Brincar, pular, preencher o ambiente com o som da risada. Explorar a casa. Colecionar memórias. Essa é a missão das crianças durante o período de férias. É quando as manhãs têm gosto de aventura e as tardes cheiram a bolo recém-assado. O sofá vira nave espacial, o tapete vira pista de corrida, inventam-se superpoderes. Mas é claro que tanta diversão também traz riscos: quedas, machucados, “dodóis”. Enquanto a infância corre descalça pela sala, o cuidado dos adultos precisa caminhar junto. Porque até os super-heróis precisam de cuidados.
Acidentes domésticos com crianças devem ser uma grande preocupação de pais e familiares, especialmente no período de férias, quando os pequenos passam mais tempo dentro de casa. No ano de 2024, por exemplo, a Secretaria de Saúde do Estado de São Paulo (SES-SP) registrou mais de 13 mil atendimentos causados por afogamentos, quedas, queimaduras e intoxicações. Na Região Metropolitana de Sorocaba (RMS), foram registradas 158 mortes após acidentes domésticos no mesmo período.
Algumas medidas de prevenção podem ser tomadas, como dar preferência ao uso das bocas de trás do fogão, deixando os cabos das panelas virados para dentro, para evitar que crianças puxem e se queimem. Evitar toalhas longas em mesas, pois os pequenos podem puxá-las, fazendo com que objetos pesados ou quentes caiam. Também é recomendado o uso de portões de proteção em escadas. Produtos como remédios, itens de limpeza e cosméticos devem ser guardados fora do alcance das crianças.
Alguns perigos são silenciosos, escondidos em objetos do cotidiano. Uma moeda esquecida sobre a mesa, uma sacola plástica deixada no chão, fios soltos perto da televisão ou uma cadeira próxima demais da janela. São detalhes que muitas vezes passam despercebidos pelos adultos, mas que podem representar riscos reais para os pequenos exploradores da casa.
Segundo cartilha da Universidade Federal de Goiás (UFG), a causa que mais leva crianças de todas as idades ao hospital são as quedas. Já em relação à mortalidade, menores de 1 ano sofrem mais com sufocação; entre 1 e 14 anos, a principal causa de óbitos são os afogamentos.
O enfermeiro e professor Douglas Gonçalves explica que o mais importante para evitar acidentes domésticos é a supervisão contínua. Ou seja, as crianças podem ter liberdade para brincar e desenvolver sua imaginação, mas é fundamental que estejam acompanhadas por adultos, especialmente em brincadeiras em piscinas ou na natureza. Ele também adverte para a necessidade de proteger a pele da exposição solar extrema. Douglas reforça a importância de ter um kit de emergência à disposição e conhecer os procedimentos básicos de primeiros socorros.
Outra preocupação comum no período é em relação às baixas temperaturas. Passeios ao ar livre, brincadeiras no chão ou no quintal podem ficar mais frequentes. A médica pediatra Daniela Barbieri aponta que doenças respiratórias, como rinites e asma, aparecem com mais frequência no tempo frio. Dermatites atópicas, as populares alergias de pele, também são comuns. A profissional aconselha sempre ter uma blusa à disposição, garantir que a criança esteja hidratada e dá dicas quanto aos cuidados com a higiene: banhos mais cedo, mornos e rápidos. Sabonete pode ser utilizado, mas em pequena quantidade, e hidratantes de pele são bem-vindos. Outra precaução importante é secar o cabelo antes de dormir.
A pediatra pede ainda atenção com atividades de férias oferecidas por clubes, escolas e outros locais. Ela recomenda que os pais acompanhem regularmente esse tipo de programação e se certifiquem sobre quem serão os profissionais responsáveis. Além disso, orienta que a criança leve uma mochila com roupas extras, filtro solar, repelente, água e lanche.
Cuidar de uma criança é também cuidar do que ela vai lembrar no futuro. Quando a segurança está garantida, as férias podem ser vividas com a leveza que a infância merece. Cabe aos adultos garantir que as memórias que fiquem sejam de sorrisos, e não de sustos. (Vernihu Oswaldo)
Prevenção por cômodo
Se cada canto da casa pode ser cenário para a próxima brincadeira, também pode ser um local de acidente. Com pequenos ajustes, o ambiente pode ficar mais seguro:
Quarto
Evite deixar móveis baixos próximos às janelas.
Instale grades ou redes de proteção em janelas e sacadas.
Mantenha objetos pequenos, que possam ser engolidos, fora do alcance.
Cozinha
Use as bocas de trás do fogão e vire os cabos das panelas para dentro.
Mantenha fósforos, isqueiros, facas e objetos cortantes em locais altos ou trancados.
Evite toalhas longas nas mesas, que podem ser puxadas.
Banheiro
Guarde remédios, cosméticos e produtos de limpeza em armários trancados.
Use tapetes antiderrapantes no box e no piso.
Nunca deixe crianças pequenas tomarem banho sozinhas.
Sala
Prenda os fios de eletrônicos e abajures para evitar tropeços.
Proteja quinas de móveis com protetores de silicone ou borracha.
Mantenha objetos de vidro ou decoração em prateleiras altas.
Quintal e áreas externas
Instale portões de segurança em escadas e acessos à rua.
Piscinas devem estar cercadas e com portões travados.
Oriente sobre plantas tóxicas e perigos de insetos ou animais peçonhentos.