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1º Fórum sobre Neurodiversidade discute políticas públicas em Sorocaba

A programação foi dividida em quatro blocos temáticos, que abordaram saúde, educação, vivências diretas e perspectivas do Executivo

16 de Julho de 2025 às 21:55
Da Redação [email protected]
O evento reuniu representantes do poder público, profissionais das áreas de saúde e educação, pessoas neurodivergentes, familiares e membros da sociedade civil
O evento reuniu representantes do poder público, profissionais das áreas de saúde e educação, pessoas neurodivergentes, familiares e membros da sociedade civil (Crédito: Daniel Gouveia)

A Câmara Municipal de Sorocaba sediou, na tarde da última quarta-feira (16), o 1º Fórum Municipal sobre Neurodiversidade. O evento reuniu representantes do poder público, profissionais das áreas de saúde e educação, pessoas neurodivergentes, familiares e membros da sociedade civil para discutir propostas voltadas à inclusão e ao reconhecimento da neurodiversidade na formulação de políticas públicas no município.

Com o tema “Mentes diversas, direitos reconhecidos: construindo políticas públicas inclusivas em Sorocaba”, o fórum foi uma iniciativa dos vereadores Cristiano Passos e Rafael Militão, ambos do Republicanos, com apoio da Secretaria de Inclusão e Transtorno do Espectro Autista do município e do Laboratório de Inovação da Câmara (LabLeg). A programação foi dividida em quatro blocos temáticos, que abordaram saúde, educação, vivências diretas e perspectivas do Executivo.

Priscila Amorim, neurodivergente e mãe de uma criança autista com nível de suporte 2, compartilhou experiências pessoais e destacou a importância de redes de apoio e troca de informações entre famílias atípicas. “A essência de um evento como esse é fazer com que a sociedade pense em como pode ser um mundo melhor. A gente ouviu relatos de adultos neurodivergentes que sofreram dentro da escola e tiveram dificuldades para chegar à vida adulta. Alguns conseguiram, outros não, porque isso pode gerar uma crise interna muito grande. Aqui, a gente pensa nas crianças que estão vindo agora, para que elas possam ser aceitas e não passem por tanto sofrimento”, disse.

Priscila também criou uma página nas redes sociais, chamada TEAmo Sorocaba, voltada ao compartilhamento de informações e orientações para mães que não conhecem seus direitos ou não sabem onde buscar ajuda. “Nós temos um grupo também no Whatsapp com quase 100 mães. Elas trocam informações sobre como tirar o cartão de passagem livre, onde encontrar dentista na rede pública ou qual médico está atendendo bem em determinada Unidade de Pronto Atendimento (UPA). É uma rede de apoio essencial. Às vezes, você nem sabe que tem direito a alguma coisa. Alguém no grupo compartilha, e isso muda a realidade de uma família”, relatou.

Na área da educação, a pedagoga Francine Mena apresentou um panorama das dificuldades enfrentadas pelos profissionais na sala de aula e defendeu maior capacitação e estrutura. “Nós, pedagogos, promovemos estratégias e buscamos um ambiente acolhedor e eficaz, mas estamos lidando com turmas de 25 a 35 alunos. A heterogeneidade é enorme e vai além da subjetividade. Mesmo quando temos apenas um ou dois estudantes com Transtorno do Espectro Autista (TEA), cada um exige um olhar individualizado”, explicou.

Francine ressaltou a necessidade de formações específicas para lidar com as diferentes demandas. “Precisamos de formações adequadas, profissionais qualificados dentro da sala de aula e ambientes realmente inclusivos, tanto na estrutura física quanto nos materiais. Realizamos o Plano de Desenvolvimento Individual (PDI) de cada aluno, mas isso exige tempo, atenção e recursos que muitas vezes não temos. Com o número de profissionais disponíveis hoje, é quase impossível oferecer um atendimento de excelência. Ainda assim, fazemos o que está ao nosso alcance — e muitas vezes o que não está — para atender esses estudantes”, afirmou.

A psiquiatra Amanda Furtado Pacileo também participou do evento e defendeu a importância da disseminação de informação. “É fundamental que a população conheça seus direitos e as necessidades básicas da população neurodivergente. Isso possibilita a criação de políticas públicas mais abrangentes e efetivas”, pontuou.

O secretário da Inclusão e Transtorno do Espectro Autista, Vinicius Aith, ressaltou o papel do fórum na consolidação da nova secretaria, criada em 2024. “Mesmo com uma pasta ainda em estruturação e sem recursos próprios, temos desenvolvido oportunidades importantes para as famílias atípicas e pessoas com deficiência. Esse fórum é um marco para a secretaria”, afirmou.

O vereador Rafael Militão explicou que o objetivo do fórum é ouvir especialistas e a população para orientar ações legislativas. “Esse primeiro fórum traz uma equipe multidisciplinar composta por médicos, nutricionistas, psicomotricistas, psicopedagogos e outros profissionais. Ouvir essas pessoas é essencial para que possamos construir políticas públicas com base em dados concretos e experiências reais”, disse. (Murilo Aguiar - programa de estágio)

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