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Refúgio

Hospitais preservam capelas como espaços para espiritualidade, meditação e conforto

Onde a dor reza: unidades médicas da cidade confortam também pela fé

09 de Julho de 2025 às 22:24
Cruzeiro do Sul [email protected]
Capela de Nossa Senhora dos Remédios, da Santa Casa de Sorocaba
Capela de Nossa Senhora dos Remédios, da Santa Casa de Sorocaba (Crédito: FÁBIO ROGÉRIO)

No ritmo frenético dos hospitais, entre máquinas que apitam, médicos que correm e diagnósticos que pesam como sentenças, há um espaço que convida ao contrário: o silêncio. Não um silêncio de abandono, mas de refúgio, oração, meditação, reencontro, conforto e espiritualidade. São as capelas hospitalares ù espaços onde a dor se ajoelha e a fé, mesmo trêmula, se ergue.

Em Sorocaba, enquanto a cidade se expande e a medicina avança, três hospitais seguem oferecendo esse lugar de respiro espiritual: Santa Casa, Hospital Evangélico e Gpaci. Outros, como Unimed e Policlínica, mantêm suas capelas fechadas, silenciadas por reformas e pela ausência de previsão de retorno. A seguir, percorremos essas capelas, de pedra, madeira, concreto ou intenção, para compreender seu papel em um tempo em que a vida parece sempre por um fio.

Santa Casa de Misericórdia

A Capela de Nossa Senhora dos Remédios, localizada dentro da Santa Casa de Sorocaba, integra a história da própria instituição. A Irmandade da Santa Casa foi fundada no início de 1803 com o objetivo de manter um hospital voltado ao atendimento de pessoas pobres e necessitadas. Inicialmente, as atividades funcionaram na Capela de Santo Antônio, no centro da cidade, onde hoje está localizado o Mercado Municipal.

A construção da atual capela no terreno da Santa Casa ganhou um marco simbólico em 21 de novembro de 1937, quando ocorreu a bênção solene e o lançamento da pedra fundamental da torre sineira. O ato litúrgico foi presidido por Dom José Carlos de Aguirre, com a presença do padre José Zanolla, então chanceler da cúria diocesana, além do provedor Abílio Soares, médicos e outros diretores da época.

Fotografias do momento histórico mostram a formalidade da cerimônia e registram a ausência de trajes informais entre os participantes, todos de paletó e com os chapéus nas mãos. A capela permanece em funcionamento e está integrada ao complexo hospitalar. Atualmente, apenas a igreja está tombada como patrimônio histórico.

Hospital Evangélico

O Hospital Evangélico de Sorocaba mantém sua capela ativa desde a inauguração da unidade atual, localizada na Rua Imperatriz Leopoldina, em 2000. Inicialmente instalada no terceiro andar do prédio, a capela foi transferida em 2013 para uma área externa, com estrutura mais ampla e de acesso facilitado.

De caráter ecumênico, o espaço está aberto diariamente, das 8h às 18h, e pode ser utilizado por pacientes, familiares e colaboradores do hospital. Segundo informações fornecidas pela instituição, a capelania hospitalar realiza visitas quando solicitada e também desenvolve ações religiosas e de espiritualidade em datas comemorativas como Páscoa, Natal e Dia das Mães.

A coordenação das atividades da capela está sob responsabilidade do Reverendo Heitor Beranger Junior, com apoio da Equipe Multidisciplinar do hospital, coordenada por Milena Luques. O espaço se propõe a valorizar a espiritualidade individual, independentemente de filiação religiosa.

Gpaci

O Grupo de Pesquisa e Assistência ao Câncer Infantil (Gpaci), fundado em dezembro de 2010, incorporou em sua estrutura duas capelas: uma ecumênica e outra dedicada à Beata Chiara Luce Badano. A jovem italiana, falecida em 1990, aos 18 anos, vítima de câncer nos ossos, foi beatificada pela Igreja Católica em outubro de 2010, em cerimônia presidida por dom Angelo Amato, em Roma.

Segundo relato da instituição, a decisão de dedicar uma das capelas à beata foi comunicada à Arquidiocese de Sorocaba no dia 24 de outubro de 2010, na véspera da beatificação. A informação foi compartilhada durante visita do então arcebispo dom Eduardo Benes de Sales Rodrigues, em ocasião pastoral. A iniciativa partiu da diretoria do hospital, que apresentou os projetos arquitetônicos ao arcebispo. A proposta incluía uma capela ecumênica e uma segunda, com referência direta a Chiara Luce.

A inauguração das duas capelas ocorreu em dezembro do mesmo ano, dentro da programação da tradicional missa de Natal celebrada no hospital. Desde então, os espaços estão em funcionamento e integram o ambiente de apoio espiritual oferecido aos pacientes em tratamento, aos familiares e aos profissionais do hospital.

Quando a fé precisa de manutenção

Nem todas as capelas hospitalares da cidade vivem esse momento de atividade plena. No Hospital da Unimed e na Policlínica, os espaços religiosos estão temporariamente desativados, sob alegação de manutenção e sem data de reabertura.

Capelas

Nas capelas dos hospitais, o tempo desacelera. Os ruídos do mundo cedem lugar à oração silenciosa, aos olhos fechados, às mãos trêmulas segurando terços, bilhetes, promessas. Ali, a cura nem sempre é do corpo, mas quase sempre é da alma. Enquanto a medicina estuda, trata e opera, essas capelas acolhem. Sem receitar, sem medir, sem prometer. Elas apenas existem.

 

 

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