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Patrimônio Histórico

Casarão tombado e com mais de cem anos está abandonado

O imóvel, onde famílias viveram no passado, está pichado, com parte das janelas quebradas, e parcialmente destelhado

28 de Junho de 2025 às 20:00
Vanessa Ferranti [email protected]
Construído entre 1890 e 1900, imóvel fica na avenida Américo Figueiredo: situação entristece a vizinhança
Construído entre 1890 e 1900, imóvel fica na avenida Américo Figueiredo: situação entristece a vizinhança (Crédito: FÁBIO ROGÉRIO)

O casarão da Chácara Moinho Velho, patrimônio tombado pelo Conselho Municipal de Defesa do Patrimônio Histórico, Artístico, Arquitetônico, Turístico e Paisagístico (CMDP) de Sorocaba, está abandonado. O imóvel, construído entre 1890 e 1900, fica localizado na avenida Américo Figueiredo, nas proximidades do viaduto Engenheiro Eraldo Couto Campelo, na região do Jardim Simus e do córrego Itanguá. A casa, onde famílias viveram no passado, está pichada, com parte das janelas quebradas e parcialmente destelhada. No terreno, ainda arborizado, há lixo e entulho. Em 23 de junho, ocasião em que o Cruzeiro do Sul esteve no local, o portão da propriedade estava trancado. Ao lado, há uma placa de “aluga-se” com dois telefones, mas não foi possível estabelecer contato.

O Cruzeiro foi até a Chácara Moinho Velho após a reclamação de um leitor. Por meio das redes sociais, ele afirmou que o local está em completo estado de abandono. Ainda segundo o leitor, a casa é ocupada por pessoas em situação de rua e usuários de drogas. Ele também relatou que, em janeiro deste ano, colocaram fogo no imóvel, fazendo com que parte do teto desabasse.

A situação entristece Alexandre Duarte Rodrigues, mais conhecido como Xandão do Carvão, de 49 anos. Atualmente, o empresário mora no bairro Wanel Ville, mas viveu parte da infância e o início da adolescência na Chácara Moinho Velho. Os avós de Alexandre, Mário Gonçalves Rodrigues e Débora Gonçalves Rodrigues, mudaram-se para a chácara em 1954 e trabalhavam para os proprietários da casa.

“A chácara tinha uma área de 16 mil metros quadrados e abrangia toda a região onde hoje é o Parque Manchester, que meu avô loteou para os donos da época, o senhor Raul e a dona Cesarina. Eles eram italianos, moravam em São Paulo, e ele trabalhava em banco. O senhor Raul era dono do Hotel Continental, em São Paulo. Inclusive, meus pais, quando se casaram, ganharam uma lua de mel nesse hotel”, lembra.

Na edição de 4 de setembro de 1973, o Cruzeiro do Sul destacou que, naquela ocasião, o imóvel passava por uma reforma. Antes disso, a chácara era a principal atração do Jardim Simus. Segundo a reportagem, o casarão foi uma das primeiras residências de alto padrão construídas em Sorocaba, por intermédio de Carlos Newison, diretor de um dos primeiros bancos estrangeiros fundados em São Paulo.

O material utilizado na construção teria vindo da Alemanha, com madeiramento de pinho de Riga, e de Portugal. Antigamente, a chácara era uma das mais conhecidas do interior paulista e contava com energia elétrica própria, gerada pela força de uma roda d’água de oito metros de altura –– um moinho. O então proprietário vendeu o empreendimento, juntamente com os 13 alqueires de terra que faziam parte da chácara, a um homem chamado Chico Cardoso. O imóvel também pertenceu ao capitão Benedito Marques Ribeiro, filho de um antigo tropeiro. Já em 1973, o proprietário era Raul Bernardino, dono do hotel em São Paulo mencionado por Alexandre Rodrigues.

Xandão conta que a chácara tinha piscina, churrasqueira, salão de jogos e campo de futebol. Casamentos também chegaram a ser celebrados no local. “Em 1986, meu avô faleceu e minha avó continuou cuidando da chácara até 1989. Depois disso, ela se mudou. É um lugar por onde sempre passo com meus filhos, mas eles não têm noção do que vivemos ali. Saíamos de manhã para brincar no quintal, podíamos pescar, jogar bola, nadar na piscina ou no rio, pegar manga, jabuticaba. Às vezes, nem almoçávamos porque comíamos fruta o dia todo. Era um lugar maravilhoso.”

Para ele, a área deveria ser melhor preservada. “É uma pena que tenha sido destruída da forma como foi. Claro, sabemos que hoje há pessoas morando naqueles apartamentos, mas acho que a chácara seria um ótimo local. É triste que ninguém tenha dado continuidade à administração do espaço. Sabemos que manter um lugar assim tem um custo elevado, mas, se houvesse alguém para administrar, com certeza seria ideal para alugar, fazer festas, casamentos, como minha avó fazia.”

Dono intimado

O Cruzeiro do Sul tentou contato pelos telefones indicados na placa de “aluga-se”, mas as chamadas não foram atendidas, tampouco houve resposta pelo WhatsApp.

Em nota, a Secretaria de Planejamento e Desenvolvimento Urbano de Sorocaba informou que a equipe de fiscalização de obras intimou e multou o proprietário, exigindo o fechamento adequado do imóvel. A prefeitura garante que segue acompanhando de perto a situação.

Já o Conselho Municipal de Defesa do Patrimônio Histórico, Artístico, Arquitetônico, Turístico e Paisagístico de Sorocaba (CMDP), ligado à Secretaria de Cultura e responsável por reivindicar a manutenção, conservação ou restauro do imóvel, também notificou o proprietário quanto aos cuidados com o local e continua acompanhando o caso.