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Onde estão? O retrato dos que desaparecem

Em Sorocaba, a média é de 30 a 40 desaparecidos por mês. Cerca de 80% voltam para casa

31 de Maio de 2025 às 20:00
Cruzeiro do Sul [email protected]
Fotos e nomes de crianças são divulgados nas embalagens de produtos em supermercados
Fotos e nomes de crianças são divulgados nas embalagens de produtos em supermercados (Crédito: DANIEL GOUVEIA (14/5/2025))

Todos os dias, mais de 200 pessoas desaparecem no Brasil. Famílias e amigos aguardam a volta ou qualquer informação sobre onde estão. Há histórias de rostos que se apagam, sem aplausos, sem despedida: cicatrizes que escancaram um drama social brasileiro. A cada boletim de ocorrência, cresce um arquivo invisível de vidas interrompidas.

Em Sorocaba, os números, segundo a Polícia Civil, são de aproximadamente um desaparecimento por dia. A Divisão Especializada de Investigações Criminais (Deic) de Sorocaba registra entre 30 e 40 casos por mês.

Casos em outros municípios, mesmo que da Região Metropolitana de Sorocaba (RMS), tendem a ficar sob responsabilidade de delegacias locais, mais familiarizadas com a realidade da região. Algumas exceções podem acontecer, como casos de grande apelo popular, os quais podem ser transferidos para o Deic de Sorocaba.

Atualmente, estão em aberto na cidade cerca de 80 casos. A boa notícia é que a taxa de resolução é de cerca de 90%, sendo que 80% dos desaparecidos costumam voltar para casa. Aos demais, cerca de 10%, caberá uma despedida digna após a resolução de um óbito, criminoso ou não.

Nos casos em que a pessoa encontrada, sendo maior de idade, decida que quer permanecer afastada de casa, o caso é considerado resolvido, ainda que a pessoa esteja em situação de rua, por exemplo.

Perfil

As pessoas que desaparecem em Sorocaba, majoritariamente, são dependentes químicos. Cerca de 70% dos casos registrados envolvem pessoas nessa condição e, desses, 95% são homens. Situações desse tipo com mulheres são raras.

O segundo grupo que consta entre as principais ocorrências é o de adolescentes do sexo feminino, normalmente menores de 18 anos, que fogem de casa para encontrar rapazes, em sua maioria, maiores de 18. Esses casos representam cerca de 20% e têm uma taxa de resolução muito alta, com a maioria delas voltando para casa.

Por fim, o terceiro grande grupo, que representa cerca de 8% dos casos, inclui idosos, que podem sofrer de doenças que afetam a memória, como Alzheimer e demência. Somam-se a esses idosos pessoas com deficiência intelectual, que também podem se perder ou não lembrar de seus endereços.

Os 2% restantes se dividem entre desaparecimentos de crianças e mulheres, normalmente vítimas de abuso ou violência doméstica, e casos isolados de pessoas que decidem se mudar sem avisar parentes ou amigos.

Segundo o delegado da Deic, Rodrigo Ayres, uma das maiores preocupações da polícia é a falta de aviso quando desaparecimentos são solucionados. Muitas pessoas registram boletins de ocorrência quando percebem a falta de alguém, mas não procuram a polícia para informar o retorno. Esse ato, além de prejudicar dados estatísticos, também exige que a polícia siga mobilizando equipes para solucionar casos que já têm respostas. Casos com idosos e crianças são os que geram mais preocupação para as autoridades.

Ainda segundo o delegado, os bancos de dados de pessoas desaparecidas são integrados e compartilhados entre cidades, Estados e até em âmbito nacional, pois alguém pode desaparecer em Sorocaba e ser localizada em outro município ou Estado.

Dados do Brasil

No Brasil, segundo números do Ministério da Justiça e Segurança Pública, eram 27.392 as pessoas desaparecidas em 2025. Desses casos, 63% envolvem homens e 70% pessoas maiores de 18 anos. O Estado de São Paulo lidera no número de registros, com 7.089 casos registrados atualmente.

Diversas organizações não governamentais (ONGs) atuam na busca por desaparecidos e no apoio às famílias. Algumas iniciativas, inclusive, propõem o uso de inteligência artificial para criar projeções de como essas pessoas estariam fisicamente após anos de desaparecimento, a fim de auxiliar nas buscas e no possível reconhecimento. Há ainda divulgação de nomes e fotos de desaparecidos nas embalagens de produtos industrializados.

Ivanise Esperidião é presidente e fundadora da ONG Mães da Sé e afirmou que o trabalho é feito de forma conjunta com órgãos públicos. Ela procura pela filha, Fabiana, há 29 anos. Uma vez por mês, a ONG Mães da Sé faz uma manifestação silenciosa nas escadarias da Catedral da Sé, com as fotos dos desaparecidos. (Vernihu Oswaldo)

 

 

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