Correção histórica
Escritores e historiadores propõem atualização no brasão e nos símbolos oficiais de Sorocaba
Centenário do brasão motiva debate sobre adequações heráldicas e valorização da história da cidade

Um século após a criação do atual Brasão de Armas de Sorocaba, um grupo de professores, historiadores e juristas ligado ao Instituto Histórico, Geográfico e Genealógico de Sorocaba (IHGGS) protocolou na quarta-feira (28) às 14h, na Câmara Municipal, uma proposta de atualização heráldica (ciência que estuda a origem, evolução e significado dos emblemas blasônicos) dos símbolos oficiais da cidade, incluindo o brasão e a bandeira que dele deriva.
A iniciativa visa corrigir incongruências técnicas na composição dos símbolos, à luz da heráldica portuguesa. Essa tradição foi adotada como referência em razão da ausência de normativas heráldicas brasileiras e busca fomentar o interesse da população pela história e pela identidade visual do município.
O estudo foi coordenado pelo professor Adilson Cezar, presidente do IHGGS, com participação de nomes como Aldo Vanucchi, Sergio Coelho de Oliveira e o advogado André Tolentino.
Segundo o grupo, o brasão atual, criado em 1925 por Afonso d’Escragnolle Taunay, apresenta desvios da heráldica tradicional. Um dos principais problemas é a cor da coroa mural, que, conforme a tradição portuguesa, deve indicar o status administrativo da cidade. “O ouro é exclusivo das capitais. Sorocaba, por não ter esse status, deveria usar prata”, explica Adilson Cezar. “Além disso, o brasão tem três torres, símbolo de aldeias, quando o correto para cidades como Sorocaba são cinco torres visíveis.”
Ele atribui os erros à falta de uma cultura heráldica no Brasil. “Taunay seguiu padrões franceses, mais flexíveis. Propomos agora adotar as normas portuguesas, mais rigorosas e condizentes com nossa tradição”, justifica.
Elementos simbólicos
O grupo também destacou a necessidade de revisar elementos simbólicos do brasão, considerando tanto aspectos técnicos quanto de representatividade. O presidente da Câmara, vereador Luis Santos (Republicanos), afirmou que o brasão atual ignora partes importantes da história local. “Sinto falta de referências ao troperismo e à ferrovia, marcas identitárias de Sorocaba”, comenta. “Queremos aprimorar o símbolo para que represente melhor quem somos. Já determinei a realização de audiências públicas e uma enquete digital.”
Entre as propostas está a troca do unicórnio por um cavalo, figura comum na heráldica europeia. “O unicórnio é um símbolo legítimo e podemos até remover o chifre sem perder sua função simbólica”, sugere Adilson. “Já a mula, apesar de histórica, nunca foi usada em emblemas heráldicos.”
O grupo também alerta para questões visuais e práticas do brasão, como sua aplicação na bandeira. “Um listel dourado sobre campo amarelo, por exemplo, faz a cor desaparecer. Esses detalhes técnicos são essenciais para garantir funcionalidade e coerência estética”, conclui o historiador.
Participação popular
Pela primeira vez, a população poderá escolher o novo modelo artístico do brasão. Três versões, criadas por membros do Conselho Estadual da Águia do Ipiranga, com base em diretrizes do IHGGS, serão submetidas à votação popular em plataforma digital, com identificação por nome e RG para garantir a integridade do processo.
“A consulta envolve a sociedade na construção simbólica da cidade. Queremos que o cidadão reflita: quem somos? O que nossa bandeira diz sobre nós?”, ressalta Adilson.
A proposta completa ficará disponível para leitura e endosso na sede do Instituto Histórico até 17 de junho. Interessados poderão se manifestar presencialmente e assinar o documento como apoiadores da mudança.
Próximos passos
Caso a proposta avance na Câmara de Sorocaba, a expectativa é que seja apresentado um projeto de lei para oficializar a mudança. O texto prevê que a substituição dos símbolos ocorra de forma gradual, ao longo de até 10 anos, evitando custos adicionais para os cofres públicos.
Também está prevista a realização de atividades paralelas de educação patrimonial, como exposições, palestras e publicações voltadas a escolas e à população em geral. “Os símbolos não são apenas elementos decorativos. Eles carregam identidade, história e pertencimento. Nosso dever é zelar para que estejam corretos e que inspirem orgulho”, conclui Adilson Cezar.
Galeria
Confira a galeria de fotos