João de Camargo
Obra na capela Senhor do Bonfim é questionada
Reparos entram na fase final. Comissão diz ter havido descumprimento de normas e CMDP aguarda retorno
A Capela Senhor do Bonfim, um dos ícones religiosos e culturais de Sorocaba, está quase pronta para a reabertura total, depois de uma série de danos e destruição causados pelas enchentes que atingiram a cidade nas chuvas de janeiro de 2024. Uma série de complicações administrativas impediu o uso de um prometido dinheiro público para a reforma, e a igreja, mantida por fundos privados de interessados e voluntários, fez os restauros por conta própria. Parte dessa reforma já foi concluída, informa o advogado Adriano Ramos Molina, presidente da Associação Espírita Beneficente Capela Senhor do Bonfim, que gerencia a igreja, conhecida por ter sido construída pelo religioso sorocabano João de Camargo, também considerado santo popular e milagreiro.
Outra entidade, não ligada diretamente à capela, chamada Comissão de Trabalho Mista Viva Nhô João de Camargo, diz ter encontrado falhas e descumprimento de normas na restauração. Essa comissão se reuniu com membros do Conselho Municipal de Defesa do Patrimônio Histórico, Artístico, Arquitetônico, Turístico e Paisagístico de Sorocaba (CMDP), e teria apresentado algumas queixas e pedidos, como “informações sobre o acompanhamento técnico do processo de restauro da capela, considerando a importância de garantir que as intervenções respeitem os critérios legais e os valores culturais e simbólicos do bem tombado”. O texto citado é de nota divulgada pela comissão.
A Associação Espírita Beneficente Capela Senhor do Bonfim, criada em 1921, afirma que as reclamações não procedem. Por ser um patrimônio tombado, o CMDP deu autorização emergencial para intervenções e ajuda para a segurança da capela. “Mas não tivemos verbas públicas. O que está previsto são emendas impositivas da Câmara, ainda não executadas, que serviriam para entrar no lugar de
R$ 100 mil previstos para uma ajuda emergencial logo após as enchentes, e que acabaram bloqueados na Justiça por não estarem previstos no orçamento municipal”, diz Molina. No fim, os recursos usados foram todos privados.
Danos materiais e históricos
A enchente derrubou parcialmente o muro paralelo à avenida Barão de Tatuí, o que levou paredes e rebocos e afetou de modo significativo diversos cômodos do lugar — alagados em até 1,20 metro de altura —, como a cozinha, sala do conselho, a capelinha original da igreja, o quartinho particular de João de Camargo, a sala de música (com parte do acervo de instrumentos danificados) e outros lugares como corredores de acessos.
A Prefeitura de Sorocaba confirmou a reunião da comissão com o CMDP. “(Foram apresentados) questionamentos sobre as obras de restauro da Capela Senhor do Bonfim, executadas pela associação responsável pelo local. Na ocasião, o CMDP informou que tem como atribuição verificar se o processo de restauro foi feito de forma adequada e, com isso, solicitou relatório para análise dos procedimentos adotados pela Associação Espírita Beneficente Capela Senhor do Bonfim e, neste momento, aguarda retorno”, informou em nota.
A Comissão de Trabalho Mista Viva Nhô João de Camargo divulgou, também em nota, que “atua de forma independente e autônoma, tendo como princípio o trabalho colaborativo e horizontal com diferentes instituições e sujeitos comprometidos com a preservação da Capela Senhor do Bonfim e com a valorização do legado de João de Camargo”. A relação com a Prefeitura Municipal de Sorocaba, assim como com as demais instituições, tem sido pautada por diálogos abertos, de acordo com a comissão, que ressaltou ainda que tem “compromisso com a reparação histórica e a proteção do patrimônio cultural afro-brasileiro da cidade”,
A organização afirma que, no dia da cheia no córrego da Água Vermelha, houve grande mobilização. “Dezenas de pessoas se dirigiram imediatamente ao local, mobilizadas pelas redes sociais, para contribuir com o que fosse necessário naquele momento emergencial. Esses voluntários iniciaram, de forma solidária, a limpeza do espaço, das obras e a recuperação do que ainda era possível preservar. Diante do impacto das perdas, formou-se um grupo diverso (...)” A comissão reforça que profissionais das áreas de engenharia e arquitetura que integram seu quadro “apresentaram orçamentos elaborados com especialistas em restauro, orientando para que as obras respeitassem os critérios técnicos e legais exigidos para intervenções em bens tombados”.
Por sua vez, a CMDP informou que foi à capela e verificou os trabalhos de reforma, verificando falta de relatórios precisos do trabalho executado, sem esclarecer se foram seguidas as normas corretas das boas práticas relacionadas à área.
CMDP
O CMDP explicou que há alguns erros comuns de interpretação em suas atribuições. “A função do conselho não é fiscalizar. Essa função é da divisão do patrimônio histórico atrelada à Secretaria de Cultura. Nossa maior reclamação é a falta de corpo técnico, pois o conselho faz todo o trabalho de graça e na maioria das vezes executa muito mais trabalho do que está na lei”, menciona o CMDP em nota.
A Comissão de Trabalho Mista Viva Nhô João de Camargo afirma que trabalha na formalização do processo de tombamento da capela pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), inclusive em conjunto com a Associação Espírita e Beneficente Senhor do Bonfim. No momento, a comissão aguarda o resultado final da participação no edital da Lei Aldir Blanc, com proposta voltada à catalogação do acervo histórico da capela.
Projetos futuros
Adriano Molina explica que há uma nova iniciativa para realizar restaurações na igreja, por parte de estudantes de arquitetura de um curso de uma universidade em Sorocaba. Os alunos já estão fazendo as medições e análises no local. A Capela Senhor do Bonfim está aberta à visitação de segunda a sábado, das 8h às 14h45 (das 12h às 13h30 fica fechada) e aos domingos abre das 8h às 12h, sendo que neste dia há rezas de terço das 10h às 11h30. Há previsão de festividades no dia 5 de julho, data que marca o nascimento de João de Camargo.
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