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Reajustes

Vereadores se manifestam contra aumento de salário dos secretários

Decreto pode impedir novos valores, mas entendimento jurídico diz que há validade no aumento

08 de Maio de 2025 às 16:09
Da Redação [email protected]
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O requerimento deve ser votado nas próximas sessões (Crédito: Divulgação)

Após a divulgação do aumento de 27,4% no salário dos secretários municipais de Sorocaba, o vereador Dylan Dantas (PL) propôs ontem na sessão da Câmara que a casa aprove um projeto de Decreto Legislativo contra o reajuste. Já Raul Marcelo (PSOL) protocolou um requerimento solicitando explicações do Executivo sobre o aumento.

Os secretários municipais tiveram um aumento salarial de 27,4% em março deste ano, passando de R$ 17.617,80 para R$ 22.460,22, diferença de R$ 4.842,42. As informações estão disponíveis no Portal da Transparência. Para conceder o reajuste, o Executivo utilizou uma brecha da Lei Orgânica Municipal.

Após a repercussão do assunto, na quarta-feira (8), Dylan Dantas apresentou um projeto de Decreto Legislativo para anular o aumento. Na justificativa, ele destaca o artigo 34 da Lei Orgânica Municipal. “Compete à Câmara Municipal, privativamente, entre outras, as seguintes atribuições: [...] VI - sustar os atos normativos do Poder Executivo que exorbitem do poder regulamentar ou dos limites de delegação legislativa”.

Em nota ao Cruzeiro do Sul, o vereador diz que “é inadmissível um aumento de 27,4% nos salários dos secretários municipais sem que a prefeitura envie um projeto para análise e votação da Câmara. Os vencimentos passaram a ultrapassar R$ 22 mil, mesmo em tempos de crise e de altos gastos públicos. A população não merece esse desrespeito”.

O projeto, agora, irá tramitar nas comissões internas da Câmara, para, posteriormente, ser discutido em plenário. Se aprovado, o Decreto Legislativo entrará em vigor na data de sua publicação, revertendo os salários ao patamar anterior.

Também se manifestou contra o aumento de salários dos secretários o vereador Raul Marcelo (Psol). O parlamentar protocolou, nesta quarta-feira (8), um requerimento na Câmara solicitando explicações do Executivo sobre o aumento nos subsídios. A medida gerou questionamentos sobre a legalidade, a justificativa e o impacto financeiro desse reajuste.

O requerimento deve ser votado nas próximas sessões. Se aprovado, será encaminhado ao Executivo. A prefeitura deve responder em até 15 dias, podendo prorrogar o retorno por mais 15.

Sem infração

Segundo o advogado Marcio Tomazela, o Poder Executivo não pode aumentar os salários de secretários sem aprovação da Câmara de Vereadores, porém, neste caso, a prefeitura não teria aumentado o salário, e sim feito uma correção monetária. Sendo assim, a administração municipal estaria respeitando o artigo 32 da Lei Orgânica do Município, não cometendo nenhuma infração. Logo, o decreto não teria poder para reverter a decisão. Além disso, o advogado ressalta que não vê chance do decreto produzir efeito tendo em vista não existir ilegalidade.

Ainda de acordo com ele, o Poder Executivo teria a obrigação constitucional de ter informado a Câmara.

Aumento

Até fevereiro, os secretários municipais recebiam, mensalmente, o valor de R$ 17.617,80, conforme a Lei nº 12.211, de 4 de agosto de 2020, válida para a legislatura entre 2021 e 2024, assinada ainda na gestão de Jaqueline Coutinho. No ano passado, os vereadores não votaram, na Câmara, o reajuste salarial dos secretários.

Com isso, o valor permaneceu o mesmo da última gestão. No entanto, conforme o parágrafo único do artigo 32 da Lei Orgânica Municipal, “no caso da não fixação, prevalecerá a remuneração do mês de dezembro do último ano da legislatura, sendo este valor atualizado monetariamente pelo índice oficial”.

Dessa forma, houve o reajuste, mas a Lei Orgânica é omissa em dois pontos, pois não específica qual é o índice oficial nem a partir de qual mês as mudanças salariais podem ser aplicadas. Ambas as dúvidas foram encaminhadas pelo Cruzeiro à Prefeitura de Sorocaba.

Em nota, a Administração Pública informou que “o valor da diferença salarial, a qual não resulta de nenhum aumento real, e sim de mera recomposição monetária, conforme índices oficiais do IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo), encontra respaldo na LOA (Lei Orçamentária Anual) 2025, e será igualmente replicado para as LOAs dos anos vindouros”.

A prefeitura informou também que “foi realizado impacto financeiro, procedendo-se apenas com a correção monetária pelo índice oficial do IPCA dos anos de 2021 (IPCA de 10,06%), 2022 (IPCA de 5,79%), 2023 (IPCA de 4,62%) e de 2024 (IPCA de 4,83%), resultando no valor final atribuído”.

Ainda segundo o Executivo, “para o ano de 2025 (proporcional), a diferença do reajuste resulta no valor montante de R$ 2.086.303,96, sendo que estes valores referem-se apenas à correção monetária pelo IPCA, não resultando em aumento real salarial”.

Sobre o aumento, a Câmara de Sorocaba declarou que não foi informada oficialmente sobre o tema. O salário do prefeito, Rodrigo Manga (Podemos), e do vice-prefeito, Fernando Costa Neto (PSD), não foram reajustados. Com isso os secretários passam a ter um salário maior do que o do vice-prefeito, que atualmente, é de 17.617,80 reais.