Medo
Mulheres vítimas de violência vivem apreensão mesmo com medidas protetivas

A violência contra as mulheres se impõe por dores e sofrimentos, que são evitáveis. Ela abrange diversas formas: física, psicológica, sexual, patrimonial, entre outras. Entre os questionamentos de mulheres que sofrem a violência e procuram por ajuda estão o de registrar a ocorrência, pedir medida protetiva e ainda sofrer ameaças. Desta maneira, mesmo denunciando, muitas mulheres vivem angustiadas, por medo de novas agressões.
“Tenho medida protetiva, não podemos nos aproximar, ter contato algum e ele insiste em me procurar com a desculpa de saudade dos filhos. O que devo fazer? Tenho medo que o pior possa acontecer”, diz uma mulher nessa situação ouvida pela reportagem. “Quero refazer a minha vida. Já arrumei um novo namorado, mas meu ex-companheiro acabou com tudo dizendo que o pior vai acontecer comigo e com todos que estiverem ao meu redor. A família toda tem medo mesmo com todas as medidas já tomadas.”
Isso mostra que apesar das medidas protetivas, muitos agressores insistem em manter contato com suas ex-parceiras. Essa persistência reflete relações de poder e de opressão do homem sobre a mulher. A psicóloga Thalita Cattani Vilares observa que “quando se analisam as características pessoais de agressores, sua história de vida, encontramos pistas sobre como ele entende sua posição nas relações humanas e afetivas”. Para Thalita, muitas vezes há características de impulsividade, intolerância e sentimentos de insegurança e baixa autoestima. “Também uma associação entre relacionamentos e dinâmicas de poder ou de posse, além da reprodução de modelos de resolução de conflitos baseados na violência e na opressão do outro, frequentemente naturalizados em seu contexto social”, avalia a psicóloga.
A delegada Renata Zanin, titular da Delegacia de Defesa da Mulher (DDM) de Sorocaba, explica que o primeiro passo quando a violência contra a mulher é praticada deve ser feito o registro da ocorrência que é válido a partir do momento em que as partes são intimadas via oficial de justiça. “A partir do momento que as partes são avisadas é solicitada a medida protetiva e deve ir até o Centro de Referência da Mulher para pedir o botão do pânico (aplicativo) para um acesso mais rápido à polícia.”
Boletim on-line
A delegada ressalta que quando acionado o botão do pânico uma viatura vai até o local para impedir que a pessoa se aproxime de forma ilegal, descumprindo a medida protetiva. “Se a pessoa que está descumprindo a medida protetiva não é encontrada no local deve ser feito um boletim de ocorrência de descumprimento de medida protetiva pessoalmente ou on-line e com esse registro se tem a possibilidade, a depender dos fatos, de pedir a prisão desse autor e ser decretada pelo poder judiciário”, explica a delegada.
A titular da DDM lembra que quando é solicitada medida protetiva não deve ser feito nenhum contato com o autor, não abrir exceções para que não passe a ideia que pode haver uma reaproximação. “A maioria dos casos de violência, quando já solicitada a medida protetiva, ocorrem porque em algum momento teve uma exceção e o autor teve pequenas aproximações desacreditando na medida protetiva”, considera a delegada. (Gabrielle Camargo Pustiglione)