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Pandemia

Covid-19 completa cinco anos: Sorocaba registra mais de 150 mil casos

10 de Março de 2025 às 22:17
Beatriz Falcão [email protected]
O médico Fernando Brum atuou na linha de frente de combate à doença
O médico Fernando Brum atuou na linha de frente de combate à doença (Crédito: BEATRIZ FALCÃO)

Beatriz Falcão

Há exatos cinco anos, em 11 de março de 2020, a Organização Mundial da Saúde (OMS) declarava estado de pandemia de Covid-19. A doença, provocada pelo coronavírus SARS-CoV-2, deixou marcas na sociedade, entre elas, mais de 715 mil mortes no Brasil. O cenário mudou completamente a forma de as pessoas enxergarem e interagirem com o mundo. Hoje, olhando para trás, muitos são os sentimentos, aprendizados e ressentimentos.

A aposentada Maria de Lourdes Silva de Oliveira, 77 anos, se recorda do período com aflição. Embora a sorocabana tenha sido diagnosticada com Covid-19 em 2023, quando a situação não era mais tão alarmante, afirma que foi a pior sensação que já sentiu. Durante três semanas, ela ficou de cama, sem conseguir se alimentar, com extremo cansaço e fadiga.

“Foi horrível. As pessoas comparavam a Covid com uma gripe, mas já peguei muito resfriado e nunca fiquei tão mal”, relata. “Hoje, eu sinto gratidão por ter aguentado, sobrevivido, muitos não tiveram essa chance. Acredito que a pandemia mudou a cabeça das pessoas, principalmente em relação à saúde.”

Nesses cinco anos, Sorocaba registrou mais de 156 mil casos. Desses, 3,3 mil não resistiram às complicações da doença. Para quem estava atuando na linha de frente, como o médico Fernando Brum, o sentimento é diferente. Nos anos iniciais da pandemia, o profissional era diretor-técnico e coordenador do Comitê de Enfrentamento de Covid-19 da Santa Casa de Misericórdia.

“A pandemia mostrou a fragilidade do ser humano e, ao mesmo tempo, o grau de solidariedade das pessoas. Acredito que esses foram grandes ensinamentos”, aponta o médico. “Contudo, a sensação mais marcante desse período, para mim, foi a sensação de impotência, de saber que você não poderia acolher todo mundo. Nós sabíamos que boa parte das pessoas, infelizmente, não iria sobreviver.”

Durante o segundo trimestre de 2021, segundo dados dos boletins divulgados pela prefeitura na época, a média diária de leitos ocupados era superior a 430. Muitos daqueles que Brum atendia em um dia, não estavam mais no seguinte. Existiam altas, mas a maioria eram mortes.

“Isso nos chocava. Não tinha idade. Nós vimos crianças, jovens e idosos, principalmente. Nós percebíamos que eram raras as famílias que não perdiam alguém”, conta. “E existia aquela insegurança, sabe? Vai chegar a minha vez? Principalmente para nós que estávamos ali na linha de frente.”

Em 31 de março de 2022, a Santa Casa fechou a ala dedicada ao atendimento de Covid. Existia o alívio do trabalho cumprido, de saber que o pior havia passado, mas o rastro deixado pela doença, como as vidas perdidas e famílias desfeitas, impossibilitava o sentimento de alegria.

“É igual uma guerra. As pessoas soltam rojão, não é mais tiro. Porém, não tem como você ficar exultante de alegria, você está contaminado pela dor, pela perda. Ainda tinha muitas pessoas chorando”, recorda Brum.

Situação atual

Com o avanço da medicina, bem como da vacinação, os casos de Covid-19 diminuíram e o organismo humano se tornou mais resistente. Contudo, isso não significa que acabou. Em 2025, 384 pessoas foram infectadas e seis perderam a vida em Sorocaba. Neste cenário, o médico destaca que alguns cuidados devem permanecer e, inclusive, se transformar em hábito.

“Por exemplo, o uso de máscara em locais públicos, sobretudo em transporte público, em que a distância entre as pessoas é mínima. Independentemente da Covid, até porque a gripe também pode matar, principalmente a população de risco”, ressalta. “Não podemos pensar somente em nós, precisamos olhar para o próximo.”