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Desenvolvimento neuropsicomotor

Equoterapia é alternativa para tratamentos de saúde

03 de Março de 2025 às 22:00
Beatriz Falcão [email protected]
Contato com cavalos traz beneficios para o desenvolvimento neuropsicomotor
Contato com cavalos traz beneficios para o desenvolvimento neuropsicomotor (Crédito: BEATRIZ FALCÃO (3/2/2025))

Quando Mateus Claudino Leite nasceu, em maio de 2019, o laudo de uma síndrome rara, conhecida como Deleção 1q43q44, o acompanhou. A condição, que causa um atraso no desenvolvimento neuropsicomotor, foi diagnosticada antes do seu primeiro ano de vida, quando tinha oito meses. Desde então, os pais Eliza Martins Claudino e Magno Ferreira Leite procuraram tratamentos para reverter os efeitos. Entre consultas médicas e sessões de fisioterapia, eles conheceram a terapia assistida por cavalos, também conhecida por equoterapia. Neste cenário, muito além de estímulos, o menino também ganhou um novo amigo, o cavalo Filé.

A relação entre seres humanos e animais é comprovada pela ciência, e aceita pelo Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo (Cremesp), como benéfica para a saúde. No caso de pessoas com diagnósticos médicos, os estímulos são ainda maiores. Para Mateus, que iniciou a equoterapia aos 2 anos, a evolução em todos os aspectos da vida foi muito grande, segundo a mãe.

“O médico começou a cogitar a hipótese do tratamento com a equoterapia, principalmente para trabalhar a questão do equilíbrio. Para o Mateus, foi incrível”, relata Elisa. “Ele ainda não tem força muscular suficiente para equilibrar, mas quando ele está montando, o movimento do cavalo reproduz o andar humano. Portanto, estimula o organismo dele, e envia uma mensagem para o cérebro como se dissesse: é assim que se faz.”

Neste cenário, para os pais, cada evolução é uma vitória e motivo para celebrar. Atualmente, Mateus tem 5 anos e está muito além do que os médicos esperavam, graças às terapias e outros tratamentos médicos. Além da questão motora, o sensorial, a questão neurológica e a comunicação também melhoraram.

“Teve uma semana que o levamos na equoterapia e ele estava super falante, claro, do jeitinho dele, balbuciando, mas é a forma dele de se comunicar”, conta a mãe. “Durante a sessão, ele falava com o cavalo como se fosse um amigo mesmo, como se estivesse contando como foi a semana dele. Essa conexão com o animal é incrível. Nós, eu e meu marido, ficamos deslumbrados e emocionados. É um sentimento difícil de descrever”.

Centro Aziz

Em Sorocaba, o Centro de Saúde e Equoterapia Aziz, localizado no bairro Brigadeiro Tobias, atende o Mateus e outras 49 pessoas, entre crianças e adultos, com diagnósticos médicos. O lugar também é lar de quatro cavalos — o Filé, Tarzan, a Nata e a Zizu —, e de outros animais, como galinhas e gatos. Muito além da montaria, a fisioterapeuta Munique Bittencourt Lopes Moreira e sua equipe preparam atividades e sessões para estimular a necessidade de cada praticante da equoterapia.

“Eu brinco que a terapia assistida por cavalos não é uma pomada do pajé, que faz milagres, mas conseguimos realizar um trabalho bem amplo, abrangendo desde a parte motora, tanto a grossa quanto a fina, até o sensorial, com a pelagem e barulhos feitos pelo cavalo”, explica a profissional e responsável pelo Centro Aziz. “Costumo dizer que a montaria é apenas a pontinha do iceberg, porque com o equino nós podemos estimular inúmeras partes e sentidos.”

Um exemplo citado por Munique é a mastigação do cavalo, que é semelhante ao som que o feto escuta quando está na barriga da mãe. De acordo com ela, esse estímulo sensorial auditivo promove um relaxamento. Portanto, quando o praticante chega muito agitado ou eufórico, uma das atividades propostas é alimentar o equino para regularizar a emoção.

“O cavalo é muito rico em estímulo sensorial, porque o focinho tem uma textura, o pelo tem outra, a crina, o pelo da barriga e até mesmo o casco tem um toque diferente”, aponta a fisioterapeuta. “Além disso, tem o cheiro, o visual e o auditivo, que são sensoriais também. Se, por exemplo, pegamos o feno, ele faz um barulho para pedir mais.”

Muitas das características do cavalo se assemelham ao do ser humano, como o andar citado pela mãe do Mateus. Neste sentido, Munique, que também possui formação em equoterapia e equitação, explica que a terapia assistida por equinos é a única capaz de reproduzir o andar humano, uma vez que a coluna do animal começa na cabeça e se estende até o rabo. Desta forma, qualquer movimento gera uma reprodução para quem está montando.

A deglutição do cavalo também é similar ao do ser humano. Tanto que, durante as atividades de alimentar o equino, é normal que a pessoa comece a imitar o movimento da boca e a engolir mais saliva. Segundo a fisioterapeuta, esse é outro estímulo presente na terapia.

“Atualmente, nós estamos olhando muito para o público com Transtorno do Espectro Autista (TEA), porque é uma crescente, existem muito mais diagnósticos do que há 10 anos. Por outro lado, isso gera um problema sério para os serviços de saúde, tanto para público quanto particular, pelo custo ser muito alto”, aponta a fisioterapeuta. “Portanto, com esses certificados e credenciamentos, nós podemos conseguir verba pública para ampliar ainda mais nossos atendimentos.”

Outras Histórias

Na terapia assistida por cavalos não existe um tempo de tratamento previsto, cada caso é único. Diferentemente de uma fratura, na qual a pessoa chega com um gesso e duas muletas e, depois de um ou dois meses, está andando e correndo como de costume, a evolução do tratamento de síndrome com um comprometimento neurológico não é linear. Pelo contrário, são pequenos ganhos a longo prazo. Contudo, cada detalhe possui um significado único e uma emoção cada vez maior.

Ophelia Vieira Soares Rocha acompanha sua filha Sara Soares Rocha, de 37 anos, na equoterapia. Diagnosticada com a Síndrome Cri-du-chat, ainda quando criança, e com Transtorno do Espectro Autista (TEA) nível 3, aos 11 anos, ela está entre os praticantes que tiveram uma melhora significativa com a terapia assistida por cavalos.

“A interação com o cavalo é fantástica. Sara, às vezes, fala algumas coisas, mas não verbaliza bem. Porém, ela entende quando o cavalo vai fazer as necessidades fisiológicas ou até mesmo comer e, do jeitinho dela, se comunica para contar ou avisar”, relata Ophelia. “Ela também gosta muito do contato físico, como escovar o pelo. E é incrível, quando ela alimenta o cavalo e escuta o som da mastigação, automaticamente relaxa e, na maioria das vezes, fica um pouco sonolenta”.

Sara pratica a equoterapia desde os 11 anos, quando recebeu o diagnóstico de TEA. No início, as sessões eram feitas na cavalaria do Estado de São Paulo, pois morava com Ophelia e seu pai na capital. Quando se mudou para Sorocaba, em 2008, retornou o contato com equinos no Centro Aziz, onde conheceu a égua Nata.

 

 

 

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