Vulnerabilidade
Moradores de rua: problema social é visível em todas as regiões da cidade
Número de pessoas que passa a noite em abrigo temporário aumenta em janeiro e dezembro

Ao passar por diferentes regiões de Sorocaba é comum encontrar pessoas em situação de vulnerabilidade social que vivem nas ruas.
A reportagem do Cruzeiro do Sul percorreu na última semana alguns pontos da cidade nos períodos da manhã e da tarde e notou grupos em condição de rua na avenida Ulisses Guimarães, zona norte; na avenida Américo Figueiredo, zona oeste; em vias do Jardim Zulmira e Jardim Simus, zona oeste; no Centro Esportivo do bairro Brigadeiro Tobias, zona leste; e na região próxima ao terminal rodoviário.
Pessoas nessa situação também foram encontradas nas ruas Visconde do Rio Branco, Barão de Cotegipe, Santa Clara, além da praça Coronel Fernando Prestes, Centro. A maioria era de homens, que estavam dormindo em frente de comércios, sentadas em praças, debaixo de pontes ou caminhando pela cidade. Na Vila Jardini, por exemplo, um homem batia palma e pedia alimento em uma residência.
Segundo a Prefeitura de Sorocaba, atualmente, em média, há o pernoite de aproximadamente 120 pessoas no Serviço de Obras Sociais (SOS), um espaço de acolhimento temporário. De acordo com a administração municipal, a quantidade é a mesma de 2023 e 2024, porém esse número em dezembro do ano passado e início de janeiro deste ano subiu, atingindo 192 em um único dia, e depois voltou a se estabilizar.
O sociólogo Vidal Mota Junior considera que o aumento de pessoas em situação de rua é ocasionado por alguns fatores, um deles é o desemprego. Segundo ele, a falta de acesso, muitas vezes, ao emprego formal faz com que uma parcela da população não consiga nem mesmo trabalhos informais e, dessa forma, como consequência, acaba vivendo na rua.
Há ainda uma série de circunstâncias que levam uma pessoa a essa situação de vulnerabilidade social. Um dos pontos é o problema habitacional. “A gente está numa cidade em que a habitação é bem cara e a falta de acesso à moradia também faz com que as pessoas acabem vivendo na rua. Esse é um problema, inclusive, recorrente até em nações desenvolvidas. Assim, as pessoas vivem nessa situação de vulnerabilidade”, ressaltou Vidal.
Há ainda aqueles problemas de cunho pessoal, como desentendimentos familiares, diz o sociólogo. Algumas pessoas com deficiência mental, muitas vezes, por não obter o tratamento adequado, também podem acabar nas ruas. E ainda, existem aqueles que vivem nessas situações por conta do vício em drogas.
Desestruturação familiar
“A desestruturação familiar é um dos elementos que soma. Por desentendimentos, a família acaba se desestruturando, e as pessoas acabam indo morar na rua. Infelizmente, isso é bastante recorrente quando a gente fala de população de rua. E o uso de drogas, a ‘drogadição’, como já dito, é um problema sério”, observa Mota Junior.
O sociólogo ressalta que trata-se de um problema social complexo e multidisciplinar. Para resolver, é necessário ter políticas de inclusão eficazes para essa população, como moradias temporárias, que consigam atender e tirar essas pessoas da rua, além do fortalecimento de outras áreas.
“Tudo isso passa por uma política forte de assistência social e saúde. Ou seja, essas áreas precisam ser fortalecidas, mapeadas à população vulnerável para que a política seja bem focalizada, porque é possível se prevenir, mas é preciso ter um conjunto de profissionais, tanto da saúde quanto da assistência social, que façam esse monitoramento, essa orientação, e é preciso que o poder público invista também para se prevenir”, considera Mota Junior.
Zona oeste
Uma das regiões da cidade que mais tem pessoas em situação de rua é a zona oeste, como os bairros Jardim Zulmira, Jardim Simus, Vila São Caetano e Wanel Ville. Os moradores da região relatam que muitos são usuários de drogas.
“A situação está se agravando também com a ocupação irregular de imóveis por usuários de drogas. No Cerrado, algumas casas abandonadas se transformaram em pontos de uso e tráfico. No Parque Esmeralda, arrombamentos de residências têm sido frequentes e os criminosos fogem em direção à vegetação na linha do trem, onde montam acampamento sem qualquer interferência das autoridades. No Jardim Zulmira, a movimentação é intensa, pois estabelecimentos de reciclagem clandestinos compram cobre 24 horas por dia”, relatou o morador da região, José Carlos Bocardi.
“O programa Humanização leva os que querem ir, oferecem banho, refeição e pouso, mas no dia seguinte a jornada continua”, complementou o morador.
Uma residente do Jardim Simus, que prefere não se identificar, disse que antigamente o bairro era tranquilo, no entanto a situação é diferente agora. Ela conta que há muitas pessoas em situação de rua na região. O grande problema, segundo a moradora, é que há pessoas que praticam crimes, como furtos de hidrômetros, fiação e até mesmo invadem casas.
“Começaram a intimidar os moradores. Quando batiam querendo alguma coisa e os moradores não davam, eles começaram a intimidar. Hoje, o que a gente tem é um bairro que todo mundo têm alarme e cerca elétrica. Para você pôr o lixo no contêiner, você tem que olhar nas câmeras de segurança para ver se não tem ninguém na rua”, descreve.
“Em 2023, eu estava subindo a rua da minha casa, eram 15h, e um morador de rua e usuário de drogas vinha no sentido oposto à minha direção, e aí ele me viu e abaixou a bermuda e tirou as partes íntimas para fora”, disse outra moradora da região.
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