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Sorocaba

Audiência pública discute impacto da marginal direita

Posicionamentos contrários ao projeto dominaram a discussão

12 de Fevereiro de 2025 às 22:30
Vinicius Camargo [email protected]
Audiência pública debateu o projeto de construção da marginal direita do rio Sorocaba
Audiência pública debateu o projeto de construção da marginal direita do rio Sorocaba (Crédito: Vinicius Camargo)

A audiência pública para discutir a construção da marginal direita do rio Sorocaba foi marcada por posicionamentos contrários à proposta. O debate ocorreu na noite desta quarta-feira (12), a pedido da vereadora Iara Bernardi (PT). Ambientalistas, representantes de instituições e movimentos, além de moradores apontaram que a obra pode agravar as enchentes e elevar as temperaturas na cidade.

Havia expectativa de que representantes da Prefeitura de Sorocaba comparecessem ao encontro para apresentar medidas destinadas a mitigar os impactos ambientais apontados pelos especialistas. No entanto, ninguém compareceu.

Um dos integrantes da mesa principal foi André Cordeiro dos Santos, vice-presidente do Comitê da Bacia Hidrográfica Sorocaba e Médio Tietê (CBH-SMT). Segundo ele, a retirada da vegetação na área onde será construída a via resultará na perda de habitat para animais e no aumento da impermeabilização do solo.

Santos destacou que a dificuldade de absorção da água não será causada apenas pela construção da estrada, mas também pela ocupação imobiliária que deve ocorrer na região. “Vai aumentar a quantidade de água da chuva que chegará ao rio, provavelmente agravando as enchentes na cidade, que já enfrenta um grave problema de drenagem”, afirmou.

Além disso, a avenida será construída sobre o córrego do Piratininga, o que, segundo o especialista, pode intensificar ainda mais os alagamentos.

Na visão do representante do CBH-SMT, a futura marginal, em vez de desafogar e dar fluidez ao trânsito, tende a aumentá-lo. “Quando você abre uma rua, incentiva as pessoas a saírem de carro. Então, é uma questão sem fim: você abre uma via e ela logo fica congestionada”, argumentou, citando a duplicação da marginal Tietê, em São Paulo, como exemplo. Para ele, melhorias na mobilidade dependem de investimentos no transporte público, e não na ampliação da malha viária.

Outras preocupações 

Denise Martins Correa, integrante do Fórum Sorocabano de Mudanças Climáticas (FSMC), também esteve na mesa. Ela acrescentou à lista de preocupações a elevação da temperatura causada pela remoção das áreas verdes. Ainda prevê aumento da poluição do rio, já que as florestas desempenham um papel essencial na contenção de sedimentos e resíduos que, de outra forma, chegariam à água. "A construção da avenida altera o uso e a ocupação do entorno, promovendo um adensamento que compromete ainda mais o rio", ressaltou.

Assim como os especialistas, moradores criticaram a proposta pelos impactos ambientais. A aposentada Sonia Mebius defendeu que a cidade precisa ampliar suas áreas verdes, e não eliminá-las para dar lugar a obras viárias. “Precisamos de verde, de preservar as espécies animais e as plantas também”, disse.

Moradora da Vila Rica, Sonia é conhecida por ter plantado, ao longo dos últimos 14 anos, uma pequena floresta urbana no bairro, que já ocupa cerca de dois mil metros quadrados. Ela luta para que o local seja transformado em um parque municipal.

Sílvia Beatriz de Souza, integrante da Organização da Sociedade Civil (OSC) Floresta Cultural, também participou da audiência e endossou a opinião de Sonia. Para ela, em vez de abrigar uma estrada, a área destinada à marginal deveria se tornar um parque para a conservação da biodiversidade local. Ainda segundo Sílvia, a criação de um espaço desse tipo contribuiria para a redução do calor e das enchentes na cidade. “Ajudaria nesse conceito de cidade-esponja, permitindo que o município absorva melhor os impactos das mudanças climáticas”, analisou.

A marginal

Com 1.800 metros de extensão, a marginal direita do rio Sorocaba ligará a Alameda Batatais, no Jardim Sairá, à rua Padre Madureira, no bairro Árvore Grande. Segundo a Prefeitura, o objetivo é melhorar o fluxo do trânsito, especialmente para motoristas que circulam pelas regiões do Alto do Boa Vista e da avenida São Paulo. As obras estão previstas para começar no segundo semestre de 2025, com conclusão estimada em 18 meses.