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Acidentes com aviões batem recorde de 10 anos

11 de Fevereiro de 2025 às 22:15
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 No Aeroporto Estadual de Sorocaba, houve 8 incidentes entre fevereiro de 2024 e o mesmo mês deste ano
No Aeroporto Estadual de Sorocaba, houve 8 incidentes entre fevereiro de 2024 e o mesmo mês deste ano (Crédito: ARQUIVO / JCS)


O Brasil registrou 175 acidentes aéreos em 2024, com 157 mortos. O número de acidentes é o maior desde 2015, quando houve 172 registros. Só neste começo de 2025, já foram 21 acidentes aéreos — com 8 mortos.

Os dados são do Sistema de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (Sipaer), gerenciado pelo Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (Cenipa).

Segundo os dados, a maioria dos casos fatais de 2024 envolveu aviões privados (65). Em seguida, vêm voos agrícolas (56) e experimentais (12). Os principais problemas que ocasionaram os acidentes foram falha ou mau funcionamento do motor (46), perda de controle em voo (37) e operação a baixa altitude (24).

Ainda conforme o painel, em 66,6% das ocorrências, o fator contribuinte foi operacional — 33,3% em razão de desempenho técnico do ser humano e 33,3% por alguma questão relacionada à infraestrutura aeroportuária. Outros 33,3% dos registros tiveram aspectos psicológicos do ser humano como fator contribuinte.

Análise por Estado

O Estado com mais acidentes no ano passado foi São Paulo, com 31. Mato Grosso (29), Pará (17) e Rio Grande do Sul (17) aparecem na sequência. Em São Paulo, a tragédia mais marcante e letal foi a queda do ATR da Voepass em Vinhedo, no interior. Morreram os 62 ocupantes do voo que saiu de Cascavel, no Paraná, e ia para Guarulhos. As vítimas eram 58 passageiros e quatro tripulantes.

Em Sorocaba

No Aeroporto Estadual de Sorocaba - Bertram Luiz Leupolz, houve oito incidentes entre fevereiro de 2024 e o mesmo mês deste ano, todos sem gravidade e feridos, conforme o Sipaer. Destes, sete aconteceram em razão de problemas no trem de pouso. Em outro, o sistema mecânico que permite que o avião decole e pouse com segurança afundou na pista.

O mais recente foi na segunda-feira (10), quando um avião pousou “de barriga” após apresentar falha nos trens de pouso. Ninguém ficou ferido. A aeronave, do modelo AC-90 e prefixo PT OQY, saiu de Maringá, no Paraná, com destino a Sorocaba.

Conforme a Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), o avião está em situação regular. Ele pertence a João Noma, dono de uma concessionária da Toyota em Maringá, desde 2011. Tem dois motores e capacidade para nove passageiros, suportando até 4.815 quilos.

O Cenipa investiga o fato. De acordo com o órgão, nesse caso, o operador da aeronave deverá adotar medidas corretivas pertinentes, “possibilitando a evolução contínua da segurança operacional”.

Segurança de voo

Para o comandante Decio Corrêa, presidente da Feira Internacional de Manutenção Aeronáutica, o aumento de acidentes aéreos está relacionado a mudanças na forma de ensinar a segurança de voo. Conforme ele, durante 63 anos, a aviação civil baseou-se na doutrina de segurança desenvolvida e implantada pelo Ministério da Aeronáutica, assim como por seus órgãos de controle.

De acordo com o especialista, doutrina é algo que necessariamente precisa ser ensinado. “Isto significa que qualquer pessoa envolvida com a aviação precisa aprender por meio de um programa implantado em um sistema educacional, seja aeronauta, aeroviário ou de alguma forma interveniente com o sistema de aviação, seja civil ou militar”, diz.

Nesse sentido, Corrêa acrescenta que, antigamente, os preceitos básicos do programa de ensinamento da doutrina de segurança constavam do Código Brasileiro de Aeronáutica (CBAer). Ele foi originalmente extraído do Código Brasileiro do Ar, assinado pelo presidente Getúlio Vargas, em 8 de junho de 1938, três anos antes da criação do Ministério da Aeronáutica, em 20 de janeiro de 1941.

Como existia esse documento regulamentador, os princípios nele previstos tinham de ser seguidos por todos com alguma relação com a aviação. Ou seja, havia uma doutrina.

Anac

Segundo a Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), aeronaves devem ter sua condição técnica anualmente reportada por uma organização de manutenção quando se verificam se todas as revisões determinadas pelo fabricante foram realizadas adequadamente e no tempo certo.

Os pilotos precisam revalidar suas habilitações a cada dois anos no mínimo, quando realizam teste prático demonstrando que mantêm a proficiência para operar o equipamento. Eles também devem manter seu certificado médico aeronáutico válido, realizando exames periciais pelo menos anualmente.

Neste exemplo, a ausência de habilitações válidas ou de vistoria anual impedem a operação das aeronaves.

“Reforçamos ainda que todos os elementos do sistema de aviação possuem registros de rastreabilidade, o que permite à Anac coletar dados e avaliá-los de forma constante, presencial e remotamente”, informa a agência. (Vinicius Camargo)