Cuidado
Golpistas usam dados de advogados para enganar clientes em Sorocaba
Criminosos procuram por processos em aberto e enviam mensagens para as vítimas efetuarem pagamentos via Pix
Advogados em diversas regiões do Estado de São Paulo têm se deparado com uma prática criminosa cada vez mais comum: o uso indevido de seus dados por golpistas com o objetivo de enganar seus clientes. Com a utilização de informações públicas de processos judiciais, os criminosos se passam pelos profissionais ou por seus escritórios, enviando mensagens falsas com a promessa de liberação de indenizações. Contudo, para isso, a vítima precisa efetuar um pagamento via Pix.
Cyro Alexandre Martins Freitas é advogado em Sorocaba e enfrenta essa situação que expõe não apenas sua prática profissional, mas também seus clientes. Nessas mensagens fraudulentas, os criminosos afirmam que os clientes têm direito a indenizações, mas que, para liberar os valores, é necessário um pagamento antecipado.
“Ultimamente, eu estou sofrendo muitos golpes. Eu tenho o meu WhatsApp Business, e falsários mandam mensagens para os meus clientes. Não sei por onde eles conseguem os dados dos clientes e o número do processo, e pedem dinheiro com outro número de WhatsApp. Eles dizem que, para ‘sair’ a indenização, é preciso pagar um determinado. Infelizmente, tem gente que cai”, relata Cyro.
Até agora, o advogado calcula que pelo menos dois ou três de seus clientes foram vítimas desse golpe, resultando em prejuízos financeiros estimados em R$ 5 mil. No entanto, Cyro acredita que o número real pode ser maior, já que muitos clientes podem não relatar o ocorrido. “Quando isso acontece, alguns clientes entram em contato para avisar, mas não são todos”, explica.
O presidente da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) - Subseção Sorocaba, João Milano, destaca que a prática, conhecida como “golpe do Pix”, está se tornando cada vez mais comum devido à publicidade dos dados judiciais, acessíveis em sistemas públicos. “Os golpistas têm acesso aos dados inseridos nos processos judiciais, que são públicos. Eles entram em contato com os clientes, se passando pelo advogado contratado ou pelo escritório, e solicitam transferências via Pix, sob a justificativa de que, para liberar o suposto crédito existente no processo, é necessário um pagamento prévio”, explica.
Milano detalha que os criminosos utilizam diversas estratégias para enganar as vítimas. Entre os métodos mais comuns estão a clonagem ou invasão de contas do WhatsApp de advogados, a criação de perfis falsos utilizando fotos e logotipos dos escritórios, ou contatos feitos por números desconhecidos que se passam por advogados ou secretárias.
Orientações para não cair no golpe
O próprio profissional citado na reportagem e a OAB reforçam que a prevenção é essencial. Segundo o advogado, é importante lembrar que advogados não solicitam pagamentos antecipados para liberar valores de indenização. “Regra geral, não há pagamento para liberar qualquer valor. Se receber uma mensagem assim, a recomendação é entrar em contato direto com o advogado do caso, ligar ou ir até o escritório e conversar pessoalmente”, orienta.
O presidente da entidade também complementa destacando que a confirmação de informações é crucial. “É fundamental desconfiar de mensagens vindas de números diferentes do oficial, mesmo que usem fotos ou nomes parecidos com os do advogado. Sempre confirme diretamente com o escritório antes de realizar qualquer pagamento”, alerta. Ele sugere ainda que os clientes verifiquem os dados bancários fornecidos pelos golpistas, garantindo que pertençam ao escritório ou ao próprio advogado.
Providências em caso de golpe
Para os clientes que forem vítimas desse tipo de fraude, Milano orienta uma série de ações: salvar as conversas fraudulentas por meio de prints de tela, registrar o boletim de ocorrência e, caso tenham realizado pagamentos, guardar os comprovantes. Ele também aponta que os advogados devem dar suporte às vítimas, principalmente aquelas que possuem dificuldades para realizar essas etapas.
“Infelizmente, sabemos que muitas vítimas têm dificuldade em realizar essas providências, especialmente clientes mais humildes. Por isso, é importante que o advogado ofereça suporte nesse processo, ajudando a reunir as informações necessárias para as investigações”, afirma.
Além disso, a OAB sugere que os advogados monitorem acessos indevidos aos processos judiciais em que atuam. Sistemas como os dos tribunais regionais permitem identificar terceiros que consultaram os autos, o que pode auxiliar na apuração das fraudes. “Infelizmente, a prática de tal golpe é muito comum e alcança números significativos no Estado todo. A OAB SP já protocolou requerimento junto ao Departamento Estadual de Investigações Criminais (DEIC) da Polícia Civil, para a investigação desses crimes. Até o momento, temos cerca de mil ocorrências cadastradas”, afirma.
Campanhas
Diante do aumento desse tipo de golpe, a OAB tem intensificado suas campanhas de orientação em todo o Estado. Em Sorocaba, João Milano anunciou que uma cartilha será lançada em breve para ajudar advogados e vítimas a lidarem com esses casos. O material trará orientações detalhadas sobre prevenção e os procedimentos necessários para evitar prejuízos financeiros e proteger dados pessoais. “A conscientização é fundamental. Precisamos alertar as pessoas para que possam identificar essas fraudes e não se tornem vítimas”, conclui. (João Frizo - programa de estágio)