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Esvaziada

Representantes do Saae faltam à audiência pública sobre enchentes

Moradores da região do Jardim Maria do Carmo lamentam a ausência e classificam o encontro como ineficiente

27 de Novembro de 2024 às 21:30
Vinicius Camargo [email protected]
Encontro tem como objetivo debater medidas para evitar alagamentos
Encontro tem como objetivo debater medidas para evitar alagamentos (Crédito: FÁBIO ROGÉRIO)

A ausência de representante do Serviço Autônomo de Água Esgoto (Saae) na audiência pública Parque das Águas: Planejamento e Ação para um Futuro Livre de Enchentes gerou muitas críticas. O encontro, realizado ontem (27), na Câmara Municipal, teve como objetivo debater medidas para evitar alagamentos nos bairros próximos ao parque.

Moradores daquela região compareceram para fazer questionamentos e ouvir propostas, sobretudo, do Saae. Como ninguém foi, eles consideraram a audiência ineficiente. O vereador Ítalo Moreira (União), que convocou a audiência, se comprometeu a realizar outra.

O encontro começou com uma apresentação de Juliana Eiko Tanji, advogada da Associação dos Amigos e Habitantes do Parque das Águas (AAPDA) e moradora do Jardim Marco Antônio. Ela exibiu slides sobre os transtornos causados pelos alagamentos e com reivindicações para acabar com o problema.

Juliana reuniu 17 perguntas sobre quais providências devem ser tomadas, a curto e a longo prazo, para resolver a situação. Todas foram levantadas diretamente com quem vive naquela região.

Entre os questionamentos, os requerentes indagam se o aumento de 45 centímetros do dique do Jardim Maria do Carmo, conforme previsto pelo Saae, será suficiente para conter a água. Para eles, a alta ideal é de pelo menos 90 centímetros.

Os residentes ainda querem a construção de outro dique na rua Joaquim Ferreira Barbosa, perto do banheiro e do estacionamento do Parque das Águas. Também pedem a instalação de um Reservatório de Detenção de Cheias (RDC), de uma casa de bombas e de válvulas no bairro.

Outra solicitação é a construção de RDCs em bairros próximos, como Jardim Iguatemi, Vila Fiori, Vila Porcel e Vila Santana. O objetivo é que essas unidades retenham a água e a impeçam de avançar para o Jardim Maria do Carmo e bairros próximos.

Essas demandas foram apresentadas para o secretário municipal de Meio Ambiente, Alfeu Malavazzi Neto, e o engenheiro Arlei Ribeiro de Barros, da Agência de Águas do Estado de São Paulo (SP Águas), presentes na audiência.

Os dois até chegaram a discorrer sobre alguns pontos. Porém, segundo Juliana, não houve esclarecimentos efetivos, pois todos os requerimentos competem ao Saae e teriam de ser respondidos pela autarquia.

“O Saae é responsável por obras públicas com relação à parte hídrica. Então, todo tratamento hídrico, todo escoamento, toda contenção de cheias é de responsabilidade da autarquia”, afirma a advogada. “Por mais que venham outras secretarias, e elas sejam importantes para dizer se é possível ou não realizar as obras públicas em relação ao meio ambiente, a nível de Estado, quem vai fazer os projetos e executar é o Saae.”

Sem proposta concreta

O funcionário público Marcelo Chagas, outro morador do Jardim Marco Antônio, também se decepcionou. Para ele, não foi apresentada uma proposta concreta sequer.

A falta de soluções o preocupa porque janeiro — um mês geralmente chuvoso — está próximo e os bairros da região do Parque das Águas costumam ser bastante castigados pelas chuvas. “A maioria perdeu o dia de serviço para vir aqui, se deslocou, montamos uma estratégia gigantesca, chegamos aqui, e o principal, que é o Saae, não veio”, lamenta.

Ainda conforme ele, o Saae era primordial porque é o responsável técnico que poderia responder e questionar também. “Saímos sem resposta nenhuma. Chegamos no zero e saímos no zero. Não teve respeito nenhum com a população”, critica.

A autônoma e presidente da AAPDA, Cristina Dalva de Oliveira Elias, que vive no mesmo bairro, compartilha dessa indignação. “Foi lamentável a falta do Saae. Ficamos muito tristes com isso.”

Convite foi feito

De acordo com o vereador Ítalo Moreira, o Saae e o Centro de Aceleração Desenvolvimento e Inovação (Cadi) foram convidados a participar da audiência. Ambos teriam confirmado presença, mas não enviaram representantes. Ele também criticou as ausências “porque prejudica o debate”.

O parlamentar e presidente da Comissão Ciência e Tecnologia da Câmara prometeu agendar novo encontro no qual tentará garantir a presença da autarquia.

Ainda segundo ele, a ideia é apresentar ações práticas na segunda reunião, com base nas questões suscitadas na primeira.

O que diz o Saae?

Por meio de nota, o Saae alega que, ao lado do Cadi, tem atendido os vereadores, individualmente ou em comissões, para buscar entendimentos relacionados às ações e obras executadas na região do Parque das Águas.

Alega ainda que não houve convocação para audiência pública, tão somente convite e que não chegou em tempo hábil, a fim de programar a participação de representantes no evento.

Finaliza dizendo que “as equipes do Cadi e do Saae continuam à disposição dos vereadores para demais esclarecimentos pertinentes”.

Enchentes trazem prejuízos aos moradores

Juliana mora na rua Antônio Gomes, uma das mais afetadas pelas enchentes. Em janeiro deste ano, por exemplo, a casa dela foi inundada. O prejuízo ficou entre R$ 25 e R$ 30 mil. “Eu tinha acabado de fazer a reforma, coloquei móveis planejados e perdi todos um dia depois de ter executado a obra”, conta.

Já a residência de Cristina é a primeira da mesma via e, consequentemente, a mais prejudicada. Ela mora no bairro há 30 anos e enfrenta enchentes há pelo menos 25.

Até perdeu as contas de quantas vezes enfrentou o problema. Quando a enchente ocorre, a água na altura da casa dela demora até quatro dias para baixar e a única forma de se locomover é de barco.

Cristina e o marido tinham uma oficina eletrônica no primeiro andar do sobrado. A enxurrada invadiu o local em janeiro, danificando equipamentos de trabalho e produtos de clientes. O casal teve de reembolsar os fregueses.

Após esse episódio, a oficina foi transferida para um salão comercial no mesmo bairro. A mudança aumentou os custos para os empresários. “Tivemos que começar a pagar aluguel para trabalhar”, diz. 

A moradora comprou uma bomba e construiu uma rampa na frente da casa, para tentar impedir a água de invadir essa parte. Porém, as medidas não deram certo. No alagamento mais recente, conforme ela, a enxurrada alcançou entre 1,70 e 1,80 metro nessa área. 

Com isso, a família fechou o térreo de forma permanente e só usa o segundo piso. De acordo com Cristina, a situação tem motivado muitas empresas e moradores a ir embora.

“O bairro, infelizmente, está ficando vazio, todo mundo está saindo. Por onde você passa, tem placa de venda. As casas estão perdendo o valor. Algumas ficam abandonadas”, comenta.

Ela acrescenta que na sua rua há três ou quatro imóveis abandonados; na rua de cima, cinco ou seis. “A pessoa, às vezes, desiste de lutar. Nós ainda estamos aqui, tentando, mas muita gente não tem condições, não tem suporte para aguentar a situação.”

Marcelo também está cansado desse cenário. O imóvel dele — situado na rua Maria do Carmo Mendes — já foi ao menos 20 vezes nos últimos dez anos. No início deste ano, perdeu até um carro.

Nas cheias do começo de novembro, estava viajando e teve de voltar antes para tentar recuperar os itens restantes. “Eu ainda não tinha conseguido remontar a casa [após a enchente de janeiro], aí, veio a chuva novamente há 15 dias e estragou mais coisas”, reclama. “Não tem como remontar, porque está chovendo duas vezes por ano e, em todas elas, a minha casa é inundada.” (V.C.)