Dia difícil
Sorocabanos avaliam os estragos causados pelas chuvas
Sábado é dia de limpar as casas, somar os prejuízos e tentar recuperar o pouco que sobrou
“Eu ainda não consegui chorar. Eu fiquei com trauma, porque a gente consegue as coisas com tanto sacrifício para, depois, ver tudo indo embora”. O desabado é da autônoma Nadja de Jesus Alencar, 46 anos, que ainda estava em choque com tudo o que viveu na sexta-feira (8). Naquele dia, uma forte chuva atingiu Sorocaba e causou diversos transtornos.
Nadja, que mora na rua Maria do Carmo Mendes, Jardim Abaeté, teve a casa alagada e perdeu tudo. Vários outros sorocabanos passaram pela mesma situação. Por isso, ontem (9) foi dia de limpar as residências e tentar recuperar os pertences. O objetivo de todos eles é um só: recomeçar a vida.
A autônoma mora bem perto do rio Sorocaba. As chuvas fizeram com que o manancial transbordasse e invadisse todos os cômodos da sua casa. A força da água arrastou móveis e eletrodomésticos. Tudo ficou molhado e cheio de lama.
Ela e a filha perderam até mesmo as roupas e alimentos. Por isso, as duas dormiram em um hotel e, ontem, pouco otimistas, voltaram para ver se tinha como salvar alguma coisa.
Nadja reclama que a Prefeitura não auxiliou os moradores a limparem as residências. Também não passou qualquer informação sobre benefícios. “Ninguém veio aqui, não falaram nada”, afirma. Sem família por perto, ela enfrenta a incerteza de não saber para onde ir.
Se até o momento da entrevista a autônoma ainda não havia chorado, isso mudou quando começou a contar a sua situação. Ao relatar as perdas de itens que batalhou tanto para conseguir, as lágrimas escorreram. “Eu sinto que a minha vida acabou.”
Vizinho de Nadja, o auxiliar de produção Evandro Felipe Ramos, 34, também ficou traumatizado. “Escuto o barulho da chuva e já fico tenso”, diz. Na casa dele, a água chegou na altura do joelho, como mostra em uma marca na parede da garagem. Para o rapaz, se houvesse contenção nas margens do rio, esse sofrimento teria sido evitado. Por isso, ele cobra ações emergenciais da Prefeitura.
Rua ainda inundada
A mesma apreensão afeta os moradores do Parque Vitória Régia 2. Ontem, o final da rua Adolpho Goldman seguia inundado. Enquanto a água não baixar totalmente e houver previsão de chuva, a auxiliar de limpeza Isaura Aparecida Maciel Fernandes, 51, não conseguirá voltar à vida normal. Ela até limpou a residência, mas ainda não se sentia segura para colocar tudo de volta no lugar. Teme perder o que sobrou. “Não adianta descer todas as coisas se não sabemos como vai ficar”, diz.
Isaura já vivenciou diversas enchentes. “Acontece todo ano”, afirma. Com isso, tenta se preparar para ter o menor prejuízo possível. Desta vez, quando percebeu a água subindo, ergueu a mobília e os eletrodomésticos. Depois, a família correu para o carro, onde aguardou o caos passar.
Do outro lado da rua, a dona de casa Taís da Silva Antunes, 35, usava uma mangueira para tirar a lama da
residência. Até higienizar tudo e secar os pertences, se conseguir, ela ficará na casa de uma irmã, junto com o marido e os filhos.
Segundo Taís, além de causar diversos tipos de prejuízos, as enchentes oferecem riscos à saúde. Por isso, ela também defende a implementação de barreiras no entorno do rio. “A água traz doenças, eu estou gestante e não posso pegar nenhuma.”
Presta apoio
Em nota, a Secretaria Municipal da Saúde (SES) informa que a equipe da Zoonoses foi até as casas afetadas no Vitória Régia e distribuiu hipoclorito de sódio para desinfecção. Informa ainda que os servidores também orientaram a população sobre ações preventivas à leptospirose.
Ainda de acordo com a SES, são disponibilizados, gratuitamente, hospedagem e alimentação em hotéis parceiros. Há também atendimento para quem teve prejuízos materiais, mas que não precisa ser abrigado em outro local. Neste caso, um e-mail deve ser encaminhado para [email protected], com RG/CPF, comprovante de endereço atualizado, fotos da ocorrência, nome completo e telefone para contato.
A solicitação também pode ser feita na Secretaria da Cidadania — rua Santa Cruz, 116, Centro —, de segunda a sexta-feira, das 8h30 às 16h30.
Já o Serviço Autônomo de Água e Esgoto (Saae) afirma haver estudo para construção de dispositivos de contenção no Vitória Régia 2; que o Jardim Abaeté dispõe de Reservatório de Detenção de Cheias e que um novo será construído no Jardim Maria do Carmo.