Buscar no Cruzeiro

Buscar

Danos ambientais

Queimada empobrece o solo e reduz a produção agrícola

16 de Setembro de 2024 às 22:41
Beatriz Falcão [email protected]
Recuperação do solo queimado é caro e pode demorar muitos anos
Recuperação do solo queimado é caro e pode demorar muitos anos (Crédito: MISSÃO CATRIMANI / DIVULGAÇÃO)

As queimadas provocam inúmeros malefícios para a população, e com o solo não é diferente. Apesar de prejudicial, a prática ainda é utilizada em algumas regiões para limpar áreas de plantio. O fogo causa danos profundos, enfraquecendo a terra e afetando a qualidade do cultivo. Para explicar melhor os impactos desta ação, o Cruzeiro do Sul conversou com dois especialistas ambientais.

O engenheiro ambiental Renan Angrizani de Oliveira, coordenador do curso de engenharia ambiental da Universidade de Sorocaba (Uniso), explica que, quando uma área é queimada, o solo perde sua fertilidade e a sua cobertura vegetal. “Portanto, o terreno fica vulnerável aos efeitos erosivos provenientes da ação dos ventos e da chuva, uma vez que a vegetação oferece proteção aos solos e reduz o potencial da erosão”, pontua.

A erosão é um dos impactos mais perigosos e mais duradouros das queimadas, uma vez que influencia na qualidade do ar e pode levar ao assoreamento dos rios. Em casos mais severos, Renan ainda cita o surgimento da voçoroca, um fenômeno geológico que provoca a formação de grandes buracos no terreno.

“Vale ressaltar que a prática das queimadas também causa outras inúmeras consequências ambientais e à saúde humana”, destaca o docente. “Por exemplo, desmatamento, bem como o agravamento da qualidade do ar, que pode gerar inúmeras doenças respiratórias e, em casos graves como observado na capital do Estado, levar até mesmo a óbito”.

Qualidade do solo

Embora as queimadas sejam utilizadas para “limpar” as áreas de cultivo, os seus efeitos são contrários. Neste cenário, a professora Thaís Guarda Prado Avancini, docente no curso de engenharia agronômica do Centro Universitário Facens, ensina que o fogo afeta e altera as características físicas, químicas, e biológicas dos solos.

“Em contato com a terra, as chamas acometem a porosidade, o teor de nutrientes e de carbono, a biodiversidade, desde a micro até à macrofauna, a temperatura e a densidade”, aponta Thaís. “Além disso, tal prática reduz a umidade do solo, favorecendo sua compactação e degradação, gerando prejuízos na estabilidade, diminuindo a produtividade das culturas”.

Os efeitos citados pela docente apresentam prejuízos a longo prazo, que se estendem para além da destruição das culturas. “A degradação ambiental causada é um desafio significativo para a agricultura, que influencia na qualidade do solo e até mesmo na viabilidade das práticas agrícolas”, conclui.

É possível reparar?

Tanto para Renan, quanto para Thaís, a reparação do solo depende, a princípio, da sua condição após a queimada. O primeiro passo é entender o quanto a área foi afetada e, principalmente, a sua capacidade de regeneração. Além disso, há um grande prejuízo financeiro.

“Em muitos casos, a temperatura do solo pode atingir centenas de graus celsius, causando uma esterilização da área e danos severos na disponibilidade de nutrientes. Por isso, alguns pesquisadores chegam a julgar que os danos podem ser irreparáveis”, aponta o engenheiro ambiental. “É necessário realizar um trabalho com adubação que pode levar mais de uma década, além disso, demanda uma grande quantidade de insumos e mão de obra”.

Ele ainda cita a perda de boa parte da microbiota, composta por microorganismos e invertebrados, que desempenham serviços essenciais para o desenvolvimento das plantas. Neste caso, Renan afirma que a reparação é ainda mais difícil.

Thaís acrescenta que uma das formas de reparação é aumentar o teor da matéria orgânica por meio da implantação de rotação de culturas. “Outras práticas conservacionistas do solo e da água também podem ser introduzidas. O importante é entender a situação da área afetada”, afirma.

Apesar da reparação ser incerta, há formas de mitigar os efeitos das queimadas. Neste cenário, a docente orienta para a construção e manutenção de aceiros, bem como a destinação correta de resíduos sólidos. “Entretanto, o mais importante é a conscientização e a educação, criando uma cultura de respeito ao meio ambiente e de responsabilidade coletiva”, finaliza Thaís.