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Sorocaba - 370 anos

‘Minicidades’ que ficam dentro de Sorocaba

Conheça os bairros que cresceram tanto que se tornaram verdadeiras "cidades"

15 de Agosto de 2024 às 00:14
Da Redação [email protected]
Aparecidinha, um bairro que carrega muita história e tradição
Aparecidinha, um bairro que carrega muita história e tradição (Crédito: Fábio Rogério)

O que torna um lugar uma cidade? No sentido literal, cidade é uma aglomeração humana localizada em uma área geográfica, com um grande número de casas, próximas entre si, destinadas a moradia e/ou atividades culturais, mercantis, industriais e financeiras. Mas e quando tal cidade se torna tão grande, que bairros mais distantes das regiões centrais começam a se desenvolver por conta própria, criando “minicidades”? Este é o caso de Aparecidinha, Brigadeiro Tobias, Cajuru e Éden, as minicidades de Sorocaba.

Aparecidinha

Um bairro que carrega muita história e tradição, Aparecidinha existe há pelo menos 230 anos. Localizado há 14 quilômetros da região central de Sorocaba, conta com uma área aproximada de 10 quilômetros quadrados, dividida em diversos bairros anexos: Jardim Josane, Villa Amato, Jardim Monteiro, Topázio, Jardim das Flores, Residencial Nikkey, Mato Dentro, Bom Jardim, Serrinha e Cristal. O local começou como passagem dos tropeiros, que vinham do sul do País. Em 1785, o tropeiro Antonio José da Silva trouxe a imagem de Nossa Senhora, que foi deixada em um nicho numa árvore que ficava nas imediações do atual cemitério. Os tropeiros que passavam por ali faziam suas orações e preces à santa, daí surgiu o nome: Aparecidinha.

 

Aparecidinha, um bairro que carrega muita história e tradição  - Fábio Rogério
Aparecidinha, um bairro que carrega muita história e tradição (crédito: Fábio Rogério)

Local que começou com vias de terra, sítios, e a famosa capela, conhecida como “antigo santuário”, fincou raízes por meio de tradições religiosas com a Romaria de Aparecidinha, que é conhecida por muitos da cidade, e recebe fiéis de muitos lugares do Brasil para acompanhar a imagem de Nossa Senhora Aparecida por uma procissão de 16 quilômetros, desde a região central de Sorocaba até o novo santuário do bairro.

Dimas Ferreira Mota, aposentado de 67 anos, se mudou para Aparecidinha com apenas 18 anos. O intuito inicial era permanecer apenas por um tempo, para trabalho, mas se encantou com o bairro, na época simples e pacato. Além disso, lá conheceu sua esposa que já era moradora. “Sou piauiense, natural de uma cidade bem interiorana e pequena. Vim para Sorocaba para trabalhar em uma indústria próxima a Aparecidinha. Um tempo depois me casei, e não pensei em sair daqui desde então”. Dimas é uma figura bem conhecida no bairro.

Fundador da associação de moradores, é um porta voz para o bairro. “Comecei trabalhando na Prefeitura. Estar ali perto me deu mais vontade de ajudar o bairro a crescer. Assim surgiu a ideia de criar a associação, para ter alguém que representasse a Aparecidinha. Foi em 1985, me reuni com outros moradores e começamos a fazer reuniões. Primeiro ajudamos a trazer saneamento básico, depois fomos conquistando outras coisas que ajudaram no crescimento. Um fato engraçado é que antigamente quando fazíamos reuniões, nos comunicávamos pelo autofalante da igreja, para que os moradores soubessem quando ia acontecer”. Os moradores, liderados por Dimas, fizeram abaixo assinados para ajudar a trazer, além do saneamento básico, pavimentação para as vias e reformas de praças e áreas de lazer.

A região é majoritariamente residencial, seu “centrinho” conta com comércios locais, mercados, uma praça com parquinho e academia ao ar livre, além de um campo de futebol recém-reformado e o miniterminal de ônibus, uma adição também recente. As melhorias trazidas nos últimos anos e o crescimento de seus bairros adjacentes ajudaram Aparecidinha a se solidificar como uma “minicidade”. “Na época que cheguei, o bairro só tinha aquela pista que ia para São Paulo, a outra não existia. Tínhamos que ir ao Éden e depois até o centro para pegar o ônibus e vir para cá. Aparecidinha era bem menor, com apenas essa área principal, os outros bairros anexos ainda eram sítios e chácaras”, ele relembra da época com um sorriso no rosto, “é muito bom fazer parte disso. As pessoas vêm até mim quando querem pedir algo para o bairro. Não tenho intenção de parar, enquanto eu puder, irei ajudar. Não trocaria aqui por nada”, completa.

Brigadeiro Tobias

Brigadeiro Tobias começou como uma pequena vila há mais de dois séculos, também nascida do tropeirismo. Com cerca de 15 mil habitantes, o bairro está localizado na zona leste, próximo da divisa com a cidade de Alumínio e às margens da rodovia Raposo Tavares. O que antigamente era uma rural, fundada pelo patrono da Polícia Militar do Estado de São Paulo -- que carrega o nome do bairro --, hoje é uma importante área residencial da cidade.

Brigadeiro é cercado por outros bairros como Caputera, Genebra, Inhayba, Jardim Eldorado, as Vilas Astúrias, São João e Tupã I e II. Possui um forte comércio local que traz a sensação de uma verdadeira cidade aos seus moradores.

BrigadeiroTobias surgiu como uma pequena vila  - Fábio Rogério
BrigadeiroTobias surgiu como uma pequena vila (crédito: Fábio Rogério)

Tamires Bueno França, de 36 anos, é uma das 15 mil pessoas que lá vivem. Ela relata com muito carinho sua trajetória em Brigadeiro Tobias. “Moro aqui desde que nasci, com toda minha família. O bairro é bem tranquilo, os moradores se conhecem, sabemos quando é alguém de fora que chegou há pouco tempo. A grande maioria é nascida e criada aqui, como eu. Mas com o crescimento já vemos rostos novos”. Tamires é educadora física e trabalha no centro esportivo do bairro, atualmente ela participa de um projeto gratuito que incentiva crianças e adolescentes a praticarem esportes. “O projeto tem aulas totalmente gratuitas e também muitos espaços de lazer para a população. O bairro todo frequenta, desde crianças até a melhor idade, é o coração de Brigadeiro Tobias e nossa principal fonte de lazer”.

A história de Brigadeiro Tobias começou há 229 anos, área rural, com casas em chácaras, ruas de terra, armazéns e uma quantidade muito menor de moradores do que atualmente. Tamires relembra um pouco do que foi contado a ela. “O casarão de Brigadeiro Tobias, uma das primeiras residências, foi fundado junto ao bairro há mais de 200 anos, o lugar agora é um museu histórico bem característico daqui. Antes era a casa de uma marquesa”, com este exemplo é possível ver como a trajetória é vasta e cheia de ramificações, passando por muitas pessoas até chegar onde está. “A história e o desenvolvimento andam juntos aqui”, completa Tamires.

A avenida Bandeirantes, principal de Brigadeiro Tobias, tem comércios, mercados, farmácias, lojas de conveniência, além de áreas de lazer, escolas e o posto de saúde. A educadora física relata que os moradores não veem motivos para sair do bairro. “As pessoas que moram aqui também trabalham, então fica tudo concentrado. Não há muita necessidade de sair. Na verdade, quem reside na vizinhança é que vem até Brigadeiro. Nós somos o “centro” que abastece estes outros bairros. Como uma cidade mesmo”.

Mesmo com seu desenvolvimento, as características de um bairro interiorano permanecem firmes em Brigadeiro. “O lugar é muito tranquilo, não trocaria por nada. Nós todos -- ela e a família --, criamos raízes aqui, é uma vida toda nesse lugar. Meu avô foi juiz de paz no bairro, e presidente do Clube dos Bandeirantes. Era uma danceteria, que também utilizavam para reuniões de antigas associações. Atualmente tem uma passarela com o nome dele aqui -- a passarela “Élio França de Moraes” que fica no km 88 da rodovia Raposo Tavares --, é uma das maiores da cidade”.

Tamires diz que ela e a família tem uma conexão muito grande com o bairro. “Tenho seis irmãos, quatro deles vivem aqui, além dos meus pais, tios e tias. Conheci meu marido aqui também, ele nasceu e cresceu em Brigadeiro. Somos uma comunidade, temos um laço com os moradores. Quando saio na rua, por exemplo, as pessoas sabem de quem eu sou filha e quem são meus avôs. É um bairro onde a população é bem unida e cheia de vivências”.

Cajuru

Localizado no extremo noroeste da cidade, o Cajuru é considerado como o último bairro da zona industrial, e faz divisa com Itu. Em tupi, seu nome significa “boca da mata”. É comum conhecer a região pela junção Cajuru/Éden, porém o local por si só conta com uma grande área residencial, cercadas por chácaras e jardins - bairros menores que ganham esta nomenclatura -, como: chácara Três Marias, Jardim Ametista, Jardim dos Reis, Jardim Eliana, Jardim Horizonte, Jardim Nilton Torres, Jardim Novo Cajuru, e outros jardins e residenciais adjacentes.

Cajuru — a "boca da mata"— é o último bairro da zona industrial - Fábio Rogério
Cajuru — a "boca da mata"— é o último bairro da zona industrial (crédito: Fábio Rogério)

O bairro já tentou se emancipar de Sorocaba, com a intenção de se tornar um município, mas não atendeu aos requisitos exigidos pela lei. Com mais de 18 mil habitantes, a quase junção de Éden/Cajuru os torna maior do que muitos municípios do interior de São Paulo. Maria de Fátima dos Santos, aposentada de 74 anos, mora no bairro desde a adolescência, ela diz que não trocaria o sossego por nada. “Gosto muito, é tranquilo mas também tem tudo que eu preciso para o dia a dia. Quando queremos ir ao banco ou algo do tipo, vamos ao Éden”.

Fátima e a família são moradores de uma das chácaras do bairro, o conjunto perfeito da vida pacata do interior e a “cidade grande”. O Cajuru tem comércios, farmácias e mercados. E o que não encontram por lá, é quase certeza a possibilidade de encontrar no seu “vizinho” Éden.

Éden

Talvez o mais próximo da lista de uma verdadeira cidade, o Éden é ponto crucial de Sorocaba. Com seus milhares de moradores, zona industrial, residencial e comercial muito proeminentes. O bairro carrega muita história e evolução, principalmente durante as últimas décadas. O que antes eram áreas rurais, passam a ser um importante polo com mais de 60 mil moradores.O Éden, assim como o Cajuru, é cercado por jardins, apelidados por seus moradores de Jardins do Éden. Jardim Boa Esperança, Jardim Jatobá, Jardim Alegria, Jardim Harmonia, estão entre os 24 bairros adjacentes que compõem essa mini cidade.

Éden tem muita história. Hoje, ali, residem cerca de 60 mil pessoas - Fábio Rogério
Éden tem muita história. Hoje, ali, residem cerca de 60 mil pessoas (crédito: Fábio Rogério)

Rumores e histórias contadas ao longo dos anos dizem que o bairro ganhou este nome por ser “tranquilo e calmo como o paraíso”. Já outros contam que surgiu de uma homenagem que Cunha Bueno - deputado que articulou a distribuição de terras para a população do Éden -, fez para sua esposa Edna. Reginaldo de Paula, 41 anos, é advogado e residente desde os 7 anos, quando se mudou do Sul com sua família. Apaixonado pelo bairro, ele já foi funcionário do cartório local por 25 anos, e criou uma páginas nas redes sociais para contar a vivências dos moradores. “Existem muitas histórias sobre o bairro, inclusive em relação à origem do nome. Não tem como saber exatamente, já que não há uma lei que diga o que é certo ou não”.

Reginaldo coleciona essa e muitas outras histórias do “paraíso”. Por ser funcionário do cartório durante tantos anos, ele revela que acompanhou a evolução do bairro de perto. "O cartório foi fundado em 1945, o número de registros cresceu muito desde então. A gente tem uma estimativa que 30% das pessoas que nascem aqui na nossa região não são registradas no cartório local. Mesmo assim, temos, basicamente, um nascimento por dia”.

A avenida central do Éden possui comércios, bancos, lojas de acessórios para casa, roupas e uma variedade de lanchonetes e restaurantes. Além de escolas, postos de saúde e clínicas médicas. O bairro também conta com uma forte zona industrial, motivo principal do seu grande desenvolvimento. “Foi o que virou a chave. Antes éramos uma zona agrícola, as terras onde hoje são grandes loteamentos e prédios eram chácaras e casarões com apenas uma ou duas famílias vivendo nelas. Com a vinda de muitas indústrias, as pessoas começaram a se mudar para cá, inicialmente a trabalho, mas muitos acabaram ficando. No começo da industrialização, o Éden era uma espécie de “bairro dormitório”, ou seja, quem trabalhava por perto ficava na cidade apenas durante a semana, dormindo em pousadas, depois que começaram a surgir mais comércios e áreas residenciais, essas pessoas foram se instalando aqui permanentemente ”, explica Reginaldo.

O Éden, assim como o Cajuru, já tentou sua emancipação, neste caso, foram duas vezes, a última aconteceu em 1992. “Isso ficou no imaginário do pessoal mais antigo, a possível emancipação fez com que o sentimento de cidade ficasse mais forte. Até hoje me param na rua para perguntar se o bairro ainda pode ser emancipado”, o advogado ri ao se lembrar do acontecido, ele relata que os moradores até utilizam o termo “edenzenses” para se referirem a quem vive lá.

Reginaldo conta que nos últimos anos surgiram muitos loteamentos e novos prédios, que aumentaram ainda mais a população do Éden , “o bairro começou só com essa avenida principal, e as casas ao redor, com o tempo foi expandindo. Atualmente fica até difícil de saber onde começa e onde termina. Às vezes sair de um ponto para ir a outro leva mais de 20 minutos. É muito legal ver essa mudança e evolução”, completa. (Livian Regaçoni - programa de estágio)

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