Necessidade motiva criação da primeira creche
Iniciativa reuniu autoridades civis, religiosas e políticas transformando a Casa das Mães e das Crianças no local adequado para deixar as crianças
Na década de 1940, enquanto as crianças já tinham à disposição uma escola para frequentar, os bebês — e as mães ainda careciam de um local adequado para acolhê-los enquanto as mulheres trabalhavam. Aquelas que tinham mais de um filho deixavam os mais novos com os mais velhos, como era culturalmente comum na época. Porém, filhos únicos não tinham quem cuidasse deles, pois os pais também passavam boa parte do dia nos empregos.
Percebendo essa dificuldade, em novembro de 1943, um grupo de autoridades civis, religiosas e políticas transformou a Casa das Mães e das Crianças, no Centro, em uma espécie de creche — a primeira de Sorocaba. Antes, o prédio abrigava um posto de puericultura — área da medicina voltada aos cuidados com o público infantil. Com a mudança no tipo de atendimento oferecido ali, as trabalhadoras passaram a ter um local para deixar os bebês. “Atendeu a uma demanda da sociedade”, diz Ana Lúcia Cozer Dias, de 77 anos, presidente da instituição.
Voluntárias e funcionárias cuidavam dos pequenos durante o dia todo. E, inicialmente, a Casa era exatamente um lugar de cuidado, onde os atendidos brincavam, recebiam alimentação e tomavam banho. Era mantida pelos chamados associados — comerciantes e moradores do Centro. A parte pedagógica só foi implementada em 1990, com a criação do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA).
Conforme a presidente, a creche atende a 173 alunos, de 1 a 3 anos, de todas as regiões da cidade, por meio de convênio com a Secretaria da Educação (Sedu). Ana explica que elas não são alfabetizadas, mas recebem estímulos lúdicos para terem o progresso adequado quando entram na pré-escola, aos 4 anos.
Segunda sa
Ao longo desses quase 81 anos de funcionamento da Casa das Mães e das Crianças, milhares de pequenos sorocabanos já frequentaram o local. Uma delas é a aposentada Mirele Cristine de Almeida Mota, de 49 anos. Filha única de mãe solo, entrou na creche com somente 15 dias de vida. A instituição só aceitava bebês a partir dos 3 meses, mas, como a matriarca de Mirele precisa cuidar da casa de uma família na região central para conseguir criá-la, a diretora abriu uma exceção.
Ela permaneceu lá até os 7 anos, mas, como passou a estudar somente de manhã, não tinha com quem ficar à tarde. Por isso, precisou retornar para a creche, onde permanecia uma parte do dia sob os cuidados de uma tia que trabalhava ali. A rotina de sair da escola e ir para a Casa das Mães à tarde se repetiu até quando ela completou 15 anos. Ao atingir essa cidade, sua relação com a creche se estendeu mais uma vez, pois foi contratada como auxiliar de educação.
Foram 32 anos oferecendo a tantos bebês o mesmo cuidado que recebeu, até se aposentar, em 2021. Embora não faça mais parte da equipe, ela considera impossível se desprender do lugar onde esteve, literalmente, desde os primeiros dias de vida. “Para mim, aqui sempre será o meu segundo lar. Então, ela (creche) vai morar no meu coração até o resto da minha vida”.
Surgem as primeiras instituições de ensino superior
Como aconteceu com a primeira escola estadual e a creche, a inauguração das primeiras faculdades de Sorocaba supriu lacunas sociais. Fundada em 1970, pelo então governador do Estado de São Paulo, Roberto Costa de Abreu Sodré, a Faculdade de Tecnologia (Fatec) foi a primeira escola pública de nível superior da cidade.
A instituição começou a funcionar, de fato, em 1971, com o curso de técnico superior de oficinas — agora chamado de tecnologia em fabricação mecânica. As atividades tiveram início no prédio onde hoje fica a Escola Técnica Estadual (Etec) Rubens de Faria e Souza, com uma turma de 66 alunos. A migração para o campus no Alto da Boa Vista se deu em 1973. Desde a instalação, a unidade já formou quase 11 mil pessoas e 2.800 estudam lá atualmente.
Segundo o professor decano Décio Cardoso da Silva, de 81 anos, a unidade foi criada para atender à demanda industrial que surgia no município. “Nós precisávamos ter pessoal de nível superior capaz de fazer o acompanhamento dos processos industriais que estavam vindo para Sorocaba”, conta.
Com o passar do tempo, a faculdade percebeu outras necessidades na cidade e, com isso, foi abrindo novos cursos para saná-las. Atualmente, são 13, divididos entre as áreas de industrial, médico-hospitalar e informática.
A partir de 2025, a faculdade passará a contar, também, com o curso de manutenção de aeronaves. Ele será viabilizado em parceria com a Prefeitura e o Aeroporto Estadual de Sorocaba - Bertram Luiz Leupolz. Segundo o vice-diretor, Ricardo José Orsi de Sanctis, de 54 anos, a possibilidade de internacionalização do local e o aumento na movimentação de aeronaves são os dois principais fatores levaram à decisão de abrir mais essa opção de formação. “É a faculdade funcionando como um catalizador de transformações na região, e faz com que as pessoas se interessem mais e não vejam barreiras para ir estudar”, comenta ele, sobre o objetivo da iniciativa.
Pioneira
Enquanto a Fatec favoreceu a indústria, a fundação da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), campus Sorocaba, beneficiou o sistema de saúde. A instituição de ensino superior iniciou as suas atividades em 1973, a partir da incorporação da então Faculdade de Medicina e da Faculdade de Enfermagem de Sorocaba — ambas fundadas em 1951.
Ainda com a nomenclatura de Faculdade de Medicina, foi a primeira do interior, a quarta no Estado de São Paulo e a 14ª no Brasil. Segundo o diretor, Godofredo Campos Borges, de 59 anos, a vinda da PUC ampliou os atendimentos à população sorocabana. Isso porque, junto a ela, houve a inauguração do hospital Santa Lucinda — o terceiro do município. Além disso, muitos médicos formados pela universidade começaram a ficar por aqui, aumentando o quadro local de profissionais. “Uma cidade que não tinha tanto médico, passou a ter mais a cada ano”, diz Borges.
Com 73 anos de história, a instituição já formou aproximadamente 5.800 médicos e em torno de 2.600 enfermeiros. Além desses dois cursos, ela oferece residência médica. De acordo com o diretor, o fio condutor do trabalho da PUC é diplomar profissionais humanos e bem informados. Para atingir esse objetivo, em 2006, foi implementada a metodologia ativa de ensino-aprendizagem.
Para fomentar o foco de oferecer graduações cada vez mais práticas, em nova revisão do projeto pedagógico, feita em 2014 , houve a extensão do período de internato para três anos. Com o mesmo objetivo, a faculdade quer expandir a abordagem sobre o uso de Inteligência Artificial (IA) na medicina, mas sempre perder a sua tradição humanística. “Nada substitui a anamnese (diálogo inicial com o paciente, que funciona como ponto de partida para o diagnóstico de uma doença), o contato, o exame físico”, destaca Borges.
O processo de internacionalização da PUC também é outra medida em andamento para melhorar a formação dos futuros médicos e enfermeiros. O primeiro passo se deu com o recebimento, em julho deste ano, da certificação do Sistema de Acreditação Médica (Saeme-CFM). Somente 52 cursos de medicina no Brasil tem esse certificado e, na região de Sorocaba, a Pontifícia Universidade Católica de São Paulo é a única.
De acordo com o diretor-adjunto, Ulisses Del Nero, de 59 anos, a intenção é ofertar, futuramente, a possibilidade de alunos fazerem intercâmbio em instituições americanas e canadenses, por exemplo. “Eles podem até prestar uma prova de residência lá fora. Antigamente não podiam”, informa.