O desenvolvimento educacional comprova a evolução da cidade
O longo caminho dos primeiros grupos escolares até se tornarem uma referência em ensino de qualidade
Assim como os aparelhos eletrônicos, a arquitetura, os veículos, a indústria e tantas outras coisas, a educação e as instituições passam por transformações e aprimoramentos ao longo do tempo. Por isso, as histórias das primeiras escolas de Sorocaba, da educação infantil ao ensino superior, são importantes na cronologia do desenvolvimento da cidade. O município trilhou um caminho longo até se retornar a referência em estudos que é hoje, com instituições pioneiras. Tudo começou com a primeira o primeiro grupo escolar, passando pela inauguração de uma creche, até chegar a instalação da primeira faculdade.
O primeiro grupo escolar de Sorocaba — o Antônio Padilha — só foi fundado em 1896. Antes da inauguração, os alunos estudavam nas chamadas escolas isoladas. Elas eram instituições criadas por um único professor, majoritariamente na zona rural da cidade. Além de lecionar, os educadores desempenhavam todas as outras funções necessárias para o funcionamento das “escolinhas”, como as de diretor, faxineiro, inspetor e merendeiro.
Marilene Moraes e Silva, de 76 anos, estudou em uma delas. Ela recorda que o ensino não era eficiente, porque, além de haver somente um professor, crianças de várias idades estudavam em uma única classe. Por isso, em 1956, em busca de uma educação melhor, foi estudar na Escola Estadual Antônio Padilha — constituída a partir da fusão das escolas isoladas.
Àquela altura, a unidade de ensino já funcionava, desde 1910, no prédio atual, na rua Professor Toledo, no Centro. O espaço é tombado pelo Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico (Condephaat) e pelo Conselho Municipal de Defesa do Patrimônio Histórico, Artísticos, Arquitetônico e Paisagístico (CMDP). Antes de ter sede própria, a instituição passou por prédios alugados na região central.
Tudo era diferente
Naquele tempo, tudo era bem diferente. As escolas tinham regras e métodos de ensino quase ditatoriais. Segundo Marilene, meninos e meninas estudavam em salas separadas. Os alunos só podiam ter professores homens, enquanto somente mulheres eram autorizadas a lecionar para as garotas.
Os uniformes tinham de estar sempre impecáveis. Exigia-se, até mesmo, um tamanho padrão de meias. Havia a obrigatoriedade de cantar o hino nacional todos os dias. Sem a existência de reuniões, os pais não acompanhavam a vida acadêmica dos filhos. As disciplinas consistiam, basicamente, em português, matemática e educação física no contraturno escolar. A matriz curricular ainda contava com ensino religioso; ou melhor, unicamente do catolicismo. “Católico ficava na sala e tinha aula. E quem não era católico era dispensado”, relembra Marilene.
As aulas eram pouco criativas, interativas e lúdicas. Fazer atividades diferentes fora das classes? De forma alguma. Os alunos podiam sair somente para o intervalo. De acordo com Marilene, os docentes apenas passavam os conteúdos de forma impositiva, e os estudantes os decoravam. Se as crianças tivessem uma dúvida ou dificuldade, em vez de ajudá-las, eles batiam nas mãos delas com a palmatória. As coisas eram assim porque o objetivo da escola não era, de fato, educar, mas sim formar mão de obra, principalmente, para a indústria.
Com o passar dos anos, tudo mudou
Todas essas lembranças de Marilene se passaram na parte antiga da instituição estadual, mas ela também tem muitas outras no novo prédio. Após quatro anos estudando lá, já pensando no futuro, a sorocabana saiu em 1956. Interessada em se tornar professora, ingressou na primeira escola normal do município, onde hoje fica a Escola Municipal Dr. Getúlio Vargas.
Anos mais tarde, ela voltou para o Antônio Padilha, não mais nos bancos, mas como docente. Ficou 19 anos na escola, chegando a ser coordenadora. Marilene diz que, ao retornar, muita coisa havia mudado em comparação com o período em que foi aluna. As transformações começaram por mudanças na estrutura física, com a inauguração da extensão das instalações.
O primeiro prédio ainda existe e abriga um Centro de Estudos de Línguas (CEL). Cerca de 1.800 jovens fazem cursos de alemão, espanhol, francês, inglês ou japonês ali. O novo espaço ocupa boa parte do terreno e é onde funciona o ambiente escolar propriamente, com 1.440 alunos.
Os dois locais ficam lado a lado, separados apenas por uma porta. Com estilo arquitetônico clássico, um é arborizado, com portas e janelas de madeira enormes, além de uma espécie de praça no centro. Já o outro é cheio de grades e tem ar bem menos saudosista. Quem cruza a porta sente como se voltasse para o passado ou avançasse para o futuro, dependendo do lado em que estiver.
Educação também mudou
De acordo com a professora aposentada, a educação mudou tanto quanto o imóvel. O objetivo passou a ser não só tornar o aprendizado efetivo, para ajudar o estudante a melhorar de vida por meio do estudo. Com isso, os docentes precisaram se reciclar, para encontrar metodologias de ensino adequadas, diferenciadas e eficientes. O olhar para o estudante também teve de se tornar mais minucioso e individual, sendo necessário considerar as particularidades de cada um. “Hoje em dia, é tudo lúdico. Precisa fazer o que o aluno gosta. Você precisa ver o que seus alunos preferem. Você não pode ir impondo as coisas”, informa Marilene. “Cada um tem oportunidade de expor as suas vontades e fazer o que gosta. E isso torna a escola mais agradável”.
Galeria
Confira a galeria de fotos