Investimento comercial
Área da Saturnia será condomínio logístico
Terreno no bairro Iporanga estava contaminado com chumbo e passa por processo de recuperação
O terreno da antiga fábrica de baterias automotivas Saturnia, localizado no bairro Iporanga, zona industrial de Sorocaba, está em processo de remediação, ou seja, em recuperação. A informação consta no Cadastro de Áreas Contaminadas e Reabilitadas da agência ambiental do Estado, a Cetesb. Após a finalização do processo e autorização dos órgãos ambientais, deverá ser implantado um condomínio logístico no local, que abrigará galpões de empresas.
O caso Saturnia ganhou grande repercussão em 2018, quando um garimpo de chumbo, a céu aberto, foi encontrado na área da antiga fábrica. A primeira denúncia foi feita em agosto daquele ano, pelo programa Fantástico, da TV Globo. Na época, pessoas invadiam o terreno para cavar a terra contaminada em busca do metal, para revender a ferros-velhos da cidade. Havia risco à saúde para as pessoas que recolhiam o chumbo.
Dois anos após a denúncia, em 2020, a área foi adquirida por oferta pública pela empresa de imóveis Ballarin. O processo de recuperação do terreno começou em janeiro de 2021 e deve ser finalizado em 2025. A responsável pelo projeto de saneamento e remediação é a empresa Global Group, sediada em Sorocaba.
“O engenheiro Paulo Maria Filho, que está comigo desde o princípio, professor doutor em engenharia ambiental, montou comigo e outros profissionais, todo o plano de remediação. Hoje a área tem um gravame na sua matrícula como área contaminada. A nossa missão é entregar a área totalmente liberada, descontaminada, para que ela possa ser utilizada economicamente”, disse o diretor-executivo da empresa Global Group, Ubiratan Zachetti.
Baterias soterradas
De acordo com Zachetti, o descarte de bateria automotiva na área ocorreu em um período de 25 anos. Durante o trabalho no local, a equipe chegou a encontrar baterias soterradas a quase cinco metros de profundidade. “Foi um trabalho gigantesco, no sentido de remover esse material, fazer o peneiramento, tirando-o todo da terra e separando esse material.”
Para o processo de remediação, ocorreu primeiro a restrição de área de aproximadamente 60 mil metros quadrados. Depois, foi utilizado calcário dolomítico, um insumo agrícola usado para elevar o pH do solo. “Tiramos desse local 400 caminhões trucados de terra e distribuímos pelo solo, depois de feito o arado no solo, 150 toneladas de calcário dolomítico, tudo isso para fazer a correção e tornar o pH do solo o mais adequado”, explicou Zachetti.
O diretor-executivo da empresa declarou, ainda, que são realizadas análises na água por meio de monitoramento de poços profundos, localizados em mapas indicativos de órgãos ambientais. “Já fizemos três campanhas, como são chamadas a coleta de água subterrânea para medir o seu pH e ver os teores de contaminação. Em setembro deste ano, faremos a quarta e última do projeto. As três primeiras não deram teor de contaminação. Até porque fizemos todo o rito de tratamento disso, para que realmente não tivesse qualquer indício de contaminação.”
Agora está sendo realizado um processo final de peneiramento. “Tão logo a área esteja liberada pelos órgãos ambientais, as empresas adquirentes darão sequência a um projeto de ocupação da área com características de condomínio industrial e de serviços, com vocação para condomínio logístico”, declarou Zachetti.
O Cruzeiro do Sul entrou em contato com a empresa Ballarin, que adquiriu a área, mas não teve retorno.
Garimpo ilegal
A fábrica da Saturnia, pertencente ao grupo ALTM, foi instalada em Sorocaba no início dos anos 1980, mas faliu e foi fechada em 2011. Antes disso, durante o seu funcionamento, houve o descarte irregular de baterias no solo do terreno, onde a fábrica mantinha atividade.
Logo após a denúncia de garimpo no local, em 2018, uma Comissão de Meio Ambiente e de Proteção e Defesa dos Animais foi criada na Câmara de Sorocaba para apurar o caso. O Ministério Público também instaurou inquérito para a investigação.
Em maio de 2019, o Cruzeiro do Sul noticiou que pessoas ainda se arriscavam no terreno contaminado em busca de materiais para venda. Na ocasião, pelo menos nove pessoas estavam na área, entre elas, duas crianças.
Em setembro daquele ano, vizinhos da região fizeram um abaixo-assinado exigindo providências contra as atividades que envolviam a exploração de chumbo e outros materiais abandonados enterrados na área da antiga indústria. Na época, a terra revirada também emanava uma fumaça, cujo cheiro se espalhava pela região.
O relatório final da Comissão Especial da Câmara de Sorocaba foi concluído em dezembro de 2019. De acordo com o documento, havia uma área de 63 mil m², o equivalente a seis campos de futebol, que continham resíduos sólidos altamente poluentes enterrados em uma profundidade de aproximadamente um metro. Nessa mesma ocasião, a Câmara informou que o terreno foi adquirido por outra empresa, pelo valor de R$ 2,99 milhões, em um leilão judicial.
Em janeiro de 2020, durante uma reunião no Centro das Indústrias do Estado de São Paulo (Ciesp) de Sorocaba, os novos proprietários da área concederam entrevista ao Cruzeiro. Conforme a reportagem, os responsáveis garantiram que ações seriam realizadas para cessar o garimpo ilegal. Uma das iniciativas, seria a implantação de sistema de segurança 24 horas no local.
Naquele mesmo ano, o leilão foi anulado, pois o comprador não teria realizado o pagamento acordado.
Hoje
No último dia 25 de julho, a equipe do Cruzeiro do Sul esteve no terreno no bairro Iporanga. A área está fechada com cerca. Por isso não foi possível acessar o local exato onde ocorria o garimpo ilegal. No portão, existe uma placa com o nome do responsável pela segurança do terreno. Um morador da região, que passava pelo local, garantiu que há, de fato, um funcionário que faz o monitoramento da área.
Na cerca também há placa com informações de que o processo de remediação é realizado no terreno. Consta, ainda, o nome da empresa Ballarin como a atual responsável pela propriedade.
Por telefone, o advogado Sadi Montenegro Duarte, administrador judicial do processo de falência da Saturnia, informou que com o valor obtido na venda dos ativos da empresa e, principalmente do imóvel, será possível pagar os credores. O processo corre pela 2º Vara Cível de Sorocaba.
“Não temos mais nenhuma questão relacionada ao imóvel, que agora pertence a terceiros. Não posso garantir quando será o início do pagamento, mas será muito em breve. Todos nós temos feito um esforço muito grande, nos dedicamos muito para começar a fazer os pagamentos e encerrar o processo. Foi um processo calmo, sem nenhuma objeção, sem nenhuma divergência de credores”, disse Duarte. “A falência teve um impacto grande na cidade, mas teve um desfecho muito tranquilo. Estamos neste mutirão, tanto judiciário quanto administrativo para terminarmos o processo de falência”, finalizou o advogado.
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