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Direitos trabalhistas

Trabalhadores da Amazul estão em greve por tempo indeterminado

31 de Julho de 2024 às 22:44
Vanessa Ferranti [email protected]
Estatal é responsável pelo projeto do submarino nuclear construído em Aramar, 
em Iperó; projeto não teria sido prejudicado
Estatal é responsável pelo projeto do submarino nuclear construído em Aramar, em Iperó; projeto não teria sido prejudicado (Crédito: DIVULGAÇÃO)

Os trabalhadores da Amazul, estatal brasileira responsável pelo projeto do submarino nuclear construído no Centro Experimental de Aramar, em Iperó, entraram em greve na última terça-feira (30) para cobrar algumas medidas da empresa. De acordo com o Sindicato dos Trabalhadores em Pesquisa, Ciência e Tecnologia (SINTPq), entre os motivos está a defasagem salarial de 24% e má gestão da Amazul. Desde o início de 2023, 210 funcionários pediram desligamento da estatal. A paralisação é por tempo indeterminado.

Desde terça-feira (30), os funcionários se concentraram em frente à sede da Amazul, na avenida Corifeu de Azevedo Marques, no Butantã, em São Paulo. Três ônibus saíram do Centro Industrial Nuclear de Aramar (Cina), de Iperó, e levaram trabalhadores ao ato. Hoje (1º), a previsão é que seja realizada uma assembleia em frente ao Cina, a partir das 8h.

Segundo o presidente do sindicato que representa a categoria, Paulo Porsani, a estatal, embora se orgulhe do projeto de submarino nuclear, tem sido negligente com seus trabalhadores, mantendo uma defasagem salarial de 24%, além de não querer dialogar sobre os outros pontos reivindicados pela categoria. “A proposta da empresa se manteve em um reajuste de 3,54%, que fica abaixo da inflação do período. Além disso, vem muito depois da data-base da categoria, que venceu no dia 1º de abril”, informou o SINTPq.

O representante sindical Alex Zok é eletrotécnico e trabalha no departamento de manutenção nuclear da estatal, em Iperó, na Região Metropolitana de Sorocaba (RMS). Ao Cruzeiro do Sul, ele contou que, além da questão salarial, os trabalhadores reivindicam cerca de 50 itens. Destes, 30 pontos não foram sequer discutidos pela estatal. Uma das solicitações é o direito de licença, de quatro horas semanais, para trabalhadores que têm filho com deficiência para acompanhamento médico. “A empresa não dialóga. ‘ah não vou dar quatro horas por semana, vou dar duas, quatro horas por mês’, gostaríamos de negociar esses pontos e não há negociação. Não tem abertura de diálogo”.

Conforme o funcionário, apesar da greve, o projeto do submarino não foi prejudicado, pois 250 pessoas continuam trabalhando nas instalações. De acordo com Zok, atualmente, são cerca de 1.700 funcionários nas duas unidades. “É importante que se diga que o sindicato, com a Justiça, inclusive, e com os trabalhadores, garantiu o efetivo mínimo nas instalações nucleares para garantir a segurança das instalações, então, não é 100% da empresa que está liberada para fazer greve. O pessoal que trabalha em áreas sensíveis ao projeto continuam trabalhando para garantir a segurança das instalações”, explicou.

Em nota, a Marinha do Brasil (MB) informou que “a contratação de pessoal da Amazul é atribuição da própria empresa, não cabendo à Marinha qualquer tipo de interferência nesse processo”.

Já a Amazul respondeu aos questionamentos da reportagem. A estatal disse que está monitorando a paralisação parcial de seus empregados, decorrente das negociações do Acordo Coletivo de Trabalho (ACT), devido à rejeição das condições limites propostas pela empresa ao sindicato. A Amazul ressalta que reafirma suas propostas de melhorias no ACT e seu compromisso com o bem-estar dos funcionários, respeitando o direito à paralisação. “Como empresa estatal dependente, a Amazul enfrenta limitações impostas por regras e legislações específicas”, disse.

Já sobre uma nova reunião, a estatal informou que deve ocorrer em breve. “A empresa protocolará a ação de dissídio para buscar pelos tribunais competentes as próximas orientações normativas, objetivando a segurança da continuidade das atividades”. “Vale lembrar que a empresa havia concedido o termo de ‘comum acordo’ para permitir o ajuizamento de dissídio coletivo, com a finalidade de agilizar a avaliação pelo Tribunal Regional do Trabalho. Contudo, a greve interrompeu esse processo, o que pode resultar em prejuízos para os empregados”, informou.

A Amazul declara, ainda, que para reduzir impactos, a estatal efetua o monitoramento contínuo dos setores considerados essenciais, readequando recursos e adotando medidas de contingência para garantir a segurança nas áreas envolvidas e a continuidade dos serviços vinculados aos Programas Estratégicos da empresa. Afirmou, também, que a paralisação não afeta as instalações nucleares da Aramar, apenas o ritmo de trabalho de alguns projetos. “As atividades estão mantidas e as instalações estão operando de forma segura”, finalizou a nota.