Sorocaba
Família de Schiave contesta versão de estudante
Motociclista morreu na rodovia Raposo Tavares e condutor do carro negou tê-lo atropelado
A família de Guilherme Schiave Rodrigues “acha pouco provável” a versão da defesa do motorista suspeito de atropelá-lo de que o acidente já havia ocorrido antes dele passar com o carro pelo local. Após reportagem publicada pelo Cruzeiro do Sul com as alegações da defesa do condutor, em 21 de julho, familiares da vítima se manifestaram por meio de seu advogado, Gabriel Mingrone. Segundo ele, apesar da contestação, os parentes de Guilherme querem evitar qualquer tipo de acusação e aguardam o resultado das investigações para o esclarecimento dos fatos.
Guilherme foi atropelado no quilômetro 102 da rodovia Raposo Tavares (SP-270), em Sorocaba, na noite de 5 de julho. O rapaz, de 25 anos, chegou a ser levado para o hospital, mas não resistiu aos ferimentos e morreu.
Em nota enviada ao jornal em 19 de julho, Felipe José Ferreira Barbosa, advogado do suspeito — um estudante de medicina —, negou o envolvimento do cliente no atropelamento. De acordo com ele, o motorista sentiu um pequeno impacto na parte debaixo do seu automóvel. Ao não conseguir diferenciar se era o barulho de uma peça que passou por cima ou do airbag sendo acionado, ele teria parado para verificar. “Ou seja, pelo que notou, ele passou com seu veículo por cima de algo, de modo que não derrubou o motociclista”, afirmou Barbosa no primeiro posicionamento. “Ao que tudo indica, ele teve a infelicidade de passar em um local em que um acidente já podia ter ocorrido.”
Novamente questionado ontem (26), Barbosa disse que a posição do cliente em relação aos fatos já foi apresentada aos jornais e às autoridades competentes. Conforme o comunicado enviado por ele, os fatos devem ser esclarecidos de maneira técnica, sendo necessário aguardar, neste momento, a perícia.
Gabriel Mingrone e a família de Guilherme não acreditam nessa versão. “É pouco provável em uma reta, uma subida, ele (Guilherme) ter caído antes, sozinho”. Ainda segundo Mingrone, a constatação de múltiplas fraturas — incluindo nos dois fêmures — no laudo necroscópico também afasta a possibilidade de queda. A reportagem teve acesso ao resultado. “Achamos muito difícil alguém que cai sozinho na estrada ter múltiplas fraturas. Provavelmente houve um impacto e ele foi arremessado. É nisso que acreditamos”, aponta o advogado.
Mingrone também cita a possibilidade de o investigado estar embriagado no momento do fato. Essa informação consta nos boletins de ocorrência das Polícias Civil e Militar — elaborados com base no relato dos policiais rodoviários que a atenderam. Conforme o registro da PM, o estudante de medicina teria, inclusive, confessado a ingestão de bebida alcóolica: “Declara, ainda, que, em contato com o motorista do referido veículo, ele afirmou ter feito uso de bebida alcóolica.” O BO da Polícia Civil menciona uma testemunha que teria sentido cheiro de álcool no motorista. Informa, também, a constatação do odor pelos próprios policiais rodoviários, quando o investigado já estava no hospital.
O documento ainda afirma terem sido encontrados vestígios de bebidas derramadas dentro do veículo. Porém, como o estudante estava sedado, não foi possível colher o depoimento dele, nem fazer o teste do bafômetro ou exame de sangue para averiguar a presença de álcool no organismo.
O tipo da colisão também causa divergência. De acordo com Mingrone, ao contrário da informação divulgada inicialmente, não houve uma batida traseira e sim frontal. Isso consta no boletim da Polícia Civil: “Com base em marcas e vestígios, foi possível constatar, segundo o que disseram os PMs rodoviários, que houve uma colisão lateral entre a motocicleta e o veículo.”
Ainda conforme o registro, o carro do estudante trafegava na faixa da direita e a motocicleta da vítima, na direita. O carro teria invadido a faixa oposta e acertado a lateral da moto. “Que, possivelmente, após o choque, o veículo passou por cima da parte frontal da motocicleta, devido aos danos aparentes na ‘mesma’ (na parte frontal) e a parte traseira intacta”, descreve o documento.
Outros elementos “chamaram a atenção” da família de Guilherme, de acordo com Mingrone. “Primeiro, que não foi realizado nenhum tipo de exame para constatar se ele estava embriagado ou não”, observa.
Caso é investigado no 4º Distrito Policial
A Polícia Civil abriu inquérito para investigar a morte de Guilherme Schiave, que está sob responsabilidade do 4º Distrito Policial. Segundo a delegada Daniela Lara de Góes, o motorista prestou depoimento na última quarta-feira (24). O rapaz, informa ela, reforçou a versão sobre ter passado em cima de um objeto não identificado e alegou que não viu a moto nem a vítima. Quatro testemunhas também foram ouvidas — duas pessoas que chegaram ao local logo após o ocorrido e dois socorristas da concessionária administradora do trecho.
Os investigadores tentam confirmar a dinâmica do acidente e se o automóvel estava em alta velocidade. Para tanto, buscam imagens de câmeras de segurança, continuam com oitivas de testemunhas e aguardam os laudos das perícias. Conforme Daniela, o prontuário do estudante de medicina, com os atendimentos e medicações recebidos por ele no hospital, já foi anexado ao inquérito.
O advogado da família de Schiave, Gabriel Mingrone, diz que o objetivo dele é apresentar outra versão dos fatos e pondera: “É muito prematuro ainda querer extrair uma conclusão, sendo que o inquérito está em uma fase inicial de colheita de todos esses elementos”.