Solidariedade
Mais de 500 voluntários atuam na Festa Julina Beneficente
Eles trabalham em favor do próximo: "Faz bem à alma", dizem
A área gastronômica da 43ª Festa Julina beneficente de Sorocaba reúne 29 entidades beneficentes. Para preparar as comidas e atender ao público, elas contam com pessoas que dispõem do tempo livre em prol de uma causa. Segundo a organização do evento, são mais de 500 voluntários. Um deles é o comerciante Marcelo Fernandes Ribeiro, de 58 anos, voluntário há 17 anos da barraca da Associação Pais e Amigos dos Excepcionais (Apae).
“É um prazer imenso, porque não é um trabalho, mas sim uma gentileza de saber que pode ter resultado lá na frente. Ser voluntário é abnegação pessoal. É fazer para outra pessoa sem esperar nada em troca”, disse Ribeiro.
De quarta a sexta-feira, a festa funciona das 18h30 à 0h e aos finais de semana e feriados, das 13h à 0h. Mas entre a chegada e saída de quem trabalha no espaço, o tempo é maior. “Muitas vezes saímos daqui duas da manhã pra deixar tudo organizado e no outro dia estamos aqui de novo. É cansativo, mas de pensar que é para um bem maior, vale a pena”, disse Ribeiro. Além dele, a barraca da Apae, conta com 70 voluntários que revezam durante as quatro semanas de evento. “Quem tiver oportunidade de ser voluntário, independente da causa, que seja. Faz um bem para a alma”, concluiu.
Legado continua
Enquanto alguém se doa, na outra ponta tem quem recebe. Jordan Weverson André, de 30 anos, foi assistido pela Associação Fissurados Lábio Palatais de Sorocaba Região (Afissore) e tem consciência de que a ajuda de hoje pode ter bons frutos mais para frente. Ele começou nesse movimento pelo exemplo dos pais, que sempre desempenharam a função com amor. “Eu sempre acompanhava eles, via o prazer e desde meus 15 anos faço parte”, contou.
Apesar de saber da importância do trabalho, ele tem percebido que tem caído o número de pessoas dispostas a ajudar. “Uma explicação pode ser o compromisso de cada um e o não apego a uma causa. Mas espero que essa realidade mude, porque é algo muito bom e importante”, observou.
André é uma das oito pessoas que se revezam para atender ao público no evento na barraca da Afissore. “É muito bom estar aqui. A gente serve as pessoas hoje para depois os assistidos terem o usufruto”, disse Jordan.
Prontos para acolher
Ao entrar no recinto, o público encontra voluntários com coletes na cor laranja com dizeres “aqui tem inclusão”, com o sinal que representa a Língua Brasileira de Sinais nas costas. Os responsáveis pelo movimento, pelo terceiro ano seguido na Festa Julina de Sorocaba, é a Associação Agindo Juntos Geramos+ (AJC). A equipe, formada por cerca de 12 voluntários por noite, presta auxílio a pessoas com deficiência (PCD), empréstimo de cadeira de rodas, assim como atendimento médico a quem necessitar.
“A organização da festa nos procurou para transformar o lugar mais acessível possível. É lógico que estamos anos-luz de alcançar essa acessibilidade, mas hoje a gente tem intérprete de Libras no palco, os shows são transmitidos simultaneamente, a gente tem o pessoal que ajuda na mobilidade de quem precisa, também tem os voluntários que auxiliam na audiodescrição para os cegos, a gente orienta o pessoal a como cuidar, como se autodescrever para um cego. Então, é assim, devagarinho a gente vai trazendo essa cultura da acessibilidade para os mais diferentes âmbitos”, explicou o diretor da AJC, Renato Nogueira, de 43 anos.
“Então, assim, a gente conta todas as noites com a equipe de dois enfermeiros, pelo menos, e dois psicólogos. Caso uma criança entre em crise, como já aconteceu algumas vezes, a gente dá suporte”, informou Nogueira. “A ideia é incluir para que, da mesma maneira que nós, pessoas tidas como normais pela sociedade, todos tenham o direito de vir e se divertir”, completou.
Um dos voluntários que desempenha as varias funções é Igor Dias dos Santos. Apesar de ser o primeiro ano atuando na festa, o jovem de 23 anos já percebe a diferença. “Está sendo enriquecedor. É uma relação de muito aprendizado, principalmente por causa da deficiência. A gente se coloca no lugar do outro e começa a pensar diferente”, pontuou o estudante de enfermagem.
“Uma das situações que mais me marcou nesses dias foi de uma pessoa que usa cadeira de rodas e não foi ao show por achar que não teria lugar para ela. Falei que tem a área para cadeirantes. Ela ficou feliz e prometeu voltar para aproveitar os artistas. Isso foi emocionante pra mim porque ela tem o direito de aproveitar o que quiser”, disse Santos.