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Meio ambiente

Queda no preço de recicláveis pode agravar crise ambiental

28 de Maio de 2024 às 23:00
Cruzeiro do Sul [email protected]
Coletores costumam recolher plásticos, papelão e alumínio em contêineres de lixo
Coletores costumam recolher plásticos, papelão e alumínio em contêineres de lixo (Crédito: VINíCIUS FONSECA / ARQUIVO JCS )

Com a queda nos preços dos recicláveis, a situação ambiental em Sorocaba e em outras regiões pode se agravar devido a mais materiais serem dispensados de maneira incorreta, inclusive em aterros sanitários.

Alexandre Arena, dono de um depósito de sucata, disse que essa desvalorização está levando ao aumento do descarte inadequado de materiais, agravando problemas ambientais, conforme reportagem publicada na edição de ontem (28). Arena avaliou que com menos coletores nas ruas e uma menor renda para as famílias que dependem da reciclagem, muitos materiais que poderiam ser reciclados acabam em aterros sanitários.

O professor de engenharia ambiental da Universidade Estadual Paulista (Unesp) Sandro Donnini Mancini alertou sobre a quantidade de resíduos, especialmente plástico e papelão, que estão sendo descartados incorretamente. Esses materiais são frequentemente mal direcionados, mesmo podendo ser reciclados, contribuindo para a sobrecarga dos aterros sanitários. Com a redução de catadores, que desempenham um papel crucial na triagem e coleta desses resíduos, a situação se agrava ainda mais, diz Mancini. Resíduos plásticos levam séculos para se decompor, poluindo solos e cursos d’água. O papelão, apesar de ser biodegradável, ocupa espaço valioso nos aterros e poderia ser reintegrado ao ciclo produtivo. A falta de reciclagem adequada também resulta na perda de recursos que poderiam ser reutilizados, contribuindo para a exploração contínua de matérias-primas, observa o professor.

O coordenador do curso de engenharia ambiental da Universidade de Sorocaba (Uniso), Renan Angrizani, explica sobre a queda no preço desses materiais. ‘‘Quando você precifica esses materiais como uma commodity, é injusto com os catadores e cooperativas de recicláveis, que não são recompensados pelo trabalho, a toda sociedade, que fazem recolhendo estes materiais.’’

A cidade de Sorocaba não possui lixões devido à lei ordinária nº 2690/1988. O professor Mancini explica: ‘‘Na região não tem lixões, que são estruturas bem ruins, com muitos problemas ambientais. Mas na região tem muito descarte irregular por uma série de razões. Mas o ideal é a reciclagem, pois muito do que descartamos são materiais que poderiam ser recuperados e voltar para o ciclo produtivo’’, comenta o professor. Angrizani tem a mesma linha de raciocínio. ‘‘Vale lembrar, que uma vez que esses materiais não sejam reciclados, teremos um impacto ainda maior no percentual de reciclagem do município e com isso, um aumento do volume de resíduos indo para o aterro sanitário que tem um custo aos cofres públicos e consequentemente à população, e, além disso, diminuímos a vida útil do aterro com resíduos que poderiam ser reaproveitados na cadeia produtiva.’’

Mancini também menciona o impacto do descarte irregular dos resíduos, como nas ruas e em terrenos baldios. ‘‘Isso é um tipo de poluição chamada poluição difusa. A consequência é que os resíduos provavelmente vão ficar parados na rua, por exemplo. Com a chuva, podem entupir sistemas de drenagem da cidade ou acabam indo para o rio. Nos dois casos ajudam a causar problemas como enchentes e tudo de ruim que essas enchentes trazem.’’

Sorocaba possui vários pontos espalhados que coletam esses resíduos, ressalta Angrizani. “Temos diversas iniciativas de empresas na cidade que adotam políticas bem consolidadas de Logística Reversa, adotando procedimentos que viabilizam a coleta e a restituição dos resíduos sólidos à cadeia produtiva das empresas, alguns exemplos bem sucedidos na cidade que podemos citar são os setores de eletroeletrônicos e baterias.”

Organizações e associações sem fins lucrativos possuem pontos de coleta espalhados pela cidade, para a arrecadação de tampinhas, lacres, esponjas e outros materiais. “Um exemplo disto é a Associação Amor Inclusivo (AAI), Projeto TamPet, dentre outras de Sorocaba’’, diz Angrizani. ‘‘E estes materiais em questão não sofreram grande variação de valor e são fundamentais para apoiar a manutenção de suas ações sociais’’, complementa. (João Frizo - programa de estágio)

 

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