Meio ambiente
Queda nos preços dos recicláveis aprofunda a crise dos catadores
Valor do quilo do papelão caiu 78,5%, numa comparação com o ano anterior
A drástica queda no preço dos materiais recicláveis está atingindo diretamente os catadores de resíduos, categoria essencial para a sustentabilidade urbana. Dados da Associação Nacional dos Catadores (Ancat), divulgados pelo site Terra, revelam que, no Estado de São Paulo, o valor médio pago pelo quilo do alumínio caiu para menos de R$ 5. Essa situação significa que um catador precisa coletar cerca de 282 quilos de alumínio para conseguir um salário mínimo, atualmente fixado em R$ 1.412.
A Secretaria do Ambiente de Sorocaba (Sema) informou que a queda do preço não possui vínculo com o município, pois os valores dos materiais recicláveis são aplicados em todo o País.
Com a redução dos valores, a cidade de Sorocaba só recicla 2% dos resíduos sólidos, o resto acaba indo para o aterro sanitário. Com a queda desses preços, muitos catadores estão deixando esse trabalho. “Com a queda brusca no valor desses produtos, muitas pessoas estão desistindo de realizar a coleta; isso está se tornando um dos principais motivos dessas pessoas desistirem”, explicou a presidente da Cooperativa de Reciclagem de Sorocaba (Coreso), Áurea Aparecida Bueno. “Essas pessoas saem e vão procurar trabalho em um lugar com registro em carteira e que esteja pagando um pouco mais”, acrescenta.
Para entender as razões dessa queda nos preços, o Cruzeiro do Sul conversou com donos de depósitos de sucatas. “Esse fato acontece pois há muita entrega desses recicláveis, muita demanda, mas com essa crise os preços estão muito defasados, e o lucro dos catadores é menor”, comentou o empresário Adão Fernando da Silva.
Outros proprietários de depósitos não quiseram se identificar, mas comentaram sobre a queda do preço em certos materiais. “No caso a queda maior foi no papelão e no plástico. O papel branco registrou uma boa queda, o valor do quilo do material passou de
R$ 0,64 para R$ 0,14. Já outras sucatas como ferro, alumínio e cobre estão aumentando”, comentou uma das pessoas ouvidas pela reportagem.
Alexandre Arena, dono de um depósito de sucata, apontou que a queda nos preços dos recicláveis não só prejudica os catadores economicamente, mas também acarreta graves consequências ambientais. “Com a baixa do valor do material, existe o aumento de materiais descartados inadequadamente. Entre as consequências, a redução de coletores nas ruas, além de menor renda das famílias que vivem da reciclagem”, explicou Arena. Com a queda nos preços desses materiais, muitas pessoas que fazem a atividade da coleta foram atingidas. “Muitas famílias fazem as coletas e armazenam os materiais em suas residências, pois vendem para realizar o pagamento das necessidades básicas da casa”, acrescentou.
A Prefeitura de Sorocaba informou que recicla 300 toneladas de materiais por mês, e que tem um acordo de cooperação com a Coreso e com a Cooperativa de Egressos Familiares de Sorocaba (Coopereso), com um investimento de R$ 250 mil por mês para a locação de dez caminhões, ainda completa que vão implantar um novo sistema de coleta de materiais recicláveis atendendo a cidade toda. O serviço está em fase de contratação.
Mas diante desse cenário, soluções a longo prazo demandam uma abordagem complexa. Além de políticas públicas e incentivos fiscais, é preciso a conscientização da população sobre a importância da reciclagem e o apoio às cooperativas de catadores.
Reciclagem
Conhecido mundialmente pelo potencial de reciclagem das latinhas, o Brasil alcançou uma marca inédita em 2022. Isso porque o País reaproveitou a mesma quantidade de latinhas de alumínio que fabricou. No ano, 390 mil toneladas foram recicladas, mediante produção de 389 mil toneladas de lata, de acordo com dados da Recicla Latas e da Associação Brasileira do Alumínio (Abal). (João Frizo programa de estágio)
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