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Deficientes visuais colocam a mão na massa em oficina de culinária

Alunos de gastronomia da Uniso ensinaram 19 assistidos da Asac a fazer macarrão e pão recheado

13 de Maio de 2024 às 22:09
Vanessa Ferranti [email protected]
Proposta dos universitários é desmistificar preconceito de que deficientes 
não conseguem fazer as mesmas coisas feitas por pessoas que enxergam
Proposta dos universitários é desmistificar preconceito de que deficientes não conseguem fazer as mesmas coisas feitas por pessoas que enxergam (Crédito: FÁBIO ROGÉRIO (13/5/2024))

Pessoas com deficiência visual, assistidas pela Associação Sorocabana de Atividades para Deficientes Visuais (Asac), participaram ontem (13) de uma oficina de culinária na Universidade de Sorocaba (Uniso). A iniciativa foi promovida pelos estudantes do curso de gastronomia da instituição. Alguns convidados puderam, literalmente, colocar a mão na massa e aprenderam a preparar macarrão. Eles fizeram a massa fresca, sovaram para ficar uniforme e lisa, escolheram o corte e prepararam o molho. Já outros, ficaram com a sobremesa — um delicioso Cinnamon Roll — um pãozinho recheado de canela.

Ao todo, 19 deficientes visuais participaram da ação. Já na manhã de hoje (14), os estudantes, convidados e profissionais de diversas áreas participam de uma roda de conversa para discutir o tema. O evento será aberto à população.

Segundo Letícia C. Rocha, de 22 anos, estudante do 4º semestre de gastronomia, o objetivo é compartilhar conhecimento e mostrar que as pessoas com deficiência visual são capazes de realizar as mesmas tarefas que aquelas que enxergam. “Existe um preconceito. Quem tem a visão perfeita acredita que quem não tem não é capaz de fazer tudo o que a gente faz. Mas viemos para desmistificar isso, tirar tudo isso da nossa cabeça; derrubar essa ideia de que eles não conseguem; mostrar que sim, eles conseguem. Então, tivemos essa ideia de trazê-los para cá, para a nossa cozinha”, declarou.

Para isso, 30 alunos do curso auxiliaram os convidados da Asac. Os estudantes passaram as orientações, indicando os ingredientes, quantidades e todo o processo para o preparo das receitas. Valdinei Aparecido Moreno, de 52 anos, foi um dos participantes da oficina. O aposentando nasceu com deficiência visual — tem 5% da visão apenas no olho direito. Durante a vida, Valdinei passou por muitos desafios. Ele conta que é de Sorocaba, mas cresceu em Fartura, cidade paulista do Vale do Paranapanema. Aos 13 anos, sem saber ler ou escrever, precisou voltar para a cidade natal e, assim, conseguir estudar. De acordo com o aposentando, naquela época os professores não recebiam capacitação para ensinar alunos com deficiência visual nas escolas. “Naquele tempo não existia a chamada inclusão que hoje tem. Então, eu tive que voltar para estudar. Eu comecei a viver, digamos assim, com 13 anos”.

Valdinei conta também que já cozinhou algumas vezes, no entanto, receitas mais básicas, do dia a dia. Para ele, participar da oficina, aprender e trocar experiências com os estudantes é gratificante. “Perguntei para a Letícia (estudante) se ela já tinha tido contato com um deficiente visual, ela disse que não, então, acho que foi uma troca de experiências múltiplas. O conhecimento que estou tendo hoje aqui é um conhecimento que vou levar para o resto da minha vida. Isso é muito válido, muito importante para nós, aprender, conhecer outras pessoas, conhecer alguns temperos que a gente não conhece. É uma via de mão dupla, uma nova realidade, para mim, como deficiente, e para a Letícia, que chamamos de pessoa vidente, quem enxerga é vidente”, explicou.

Reabilitação

A Associação Sorocabana de Atividades para Deficientes Visuais é uma entidade sem fins lucrativos que trabalha a habilitação e reabilitação visual de pessoas que nasceram ou perderam a visão ao longo da vida. A terapeuta ocupacional da Asac acompanhou a oficina. “Eles estavam superansiosos e foi bem bacana. Eles adoram participar de oficinas, de tudo que tirem eles dessa rotina, do comum, do dia a dia. Eles estão superfelizes e nós também, como instituição, ficamos felizes com o contato da turma da gastronomia e eles aproveitaram bastante, foi muito bacana”, relatou Caroline Antunes, profissional da associação.

A roda de conversa acontece nesta terça-feira (14) às 8h, no Anfiteatro da Biblioteca da Universidade de Sorocaba. O evento é aberto ao público. A Cidade Univesitária da Uniso fica na rodovia Raposo Tavares, quilômetro 92,5.

 

 

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