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Sorocaba

Caso da bebê que teria sido achada em caixa tem divergências, diz polícia

História contada pelo homem que disse ter encontrado a criança apresenta diversas informações inconsistentes

30 de Abril de 2024 às 13:10
Vinicius Camargo [email protected]
A bebê foi levada à UBS vestida, com fralda, minimamente cuidada e alimentada, além de estar sem o cordão umbilical e o vérnix caseoso
A bebê foi levada à UBS vestida, com fralda, minimamente cuidada e alimentada, além de estar sem o cordão umbilical e o vérnix caseoso (Crédito: Divulgação/Polícia Civil )

*Atualizada em 01/05/2024, às 12h10

A Polícia Civil de Sorocaba encontrou diversas inconsistências na história da bebê recém-nascida supostamente encontrada dentro de uma caixa de papelão perto da Unidade Básica de Saúde (UBS) do Jardim Lopes de Oliveira. O caso ocorreu no dia 3 de abril. Os policiais identificaram as informações duvidosas ao comparar os depoimentos de usuários e funcionários da unidade com o relato do homem que disse ter achado a criança. Imagens de câmeras de segurança analisadas pelos investigadores também apontam divergências. Os novos detalhes foram apresentados pelo delegado responsável pela investigação, Acácio Aparecido Leite, titular do 8º Distrito Policial (DP), na manhã desta terça-feira (30), em coletiva de imprensa.

O primeiro ponto discordante é o fato de homem, de 40 anos, ter alegado que vive nas ruas. Segundo Leite, na verdade, ele mora perto da UBS, recebe auxílios do governo federal e cata materiais recicláveis. O investigado também disse ter encontrado a menina por volta das 17h30. Porém, nos registros de duas câmeras obtidos pela polícia, ele não passa pelo local nesse horário. Ele ainda mudou o seu depoimento. Primeiro, contou ter encontrado a recém-nascida bem perto da UBS. Depois, relatou que a localizou um pouco mais longe e a levou carregada para a unidade de saúde.

De acordo com Leite, até a informação sobre a caixa de papelão pode não ser verídica, pois ela nunca foi encontrada. Pacientes e trabalhadores da UBS contaram ter visto o homem chegar ao local com a criança em um carrinho de bebê, acompanhado de uma mulher. Quando ele entrou na unidade com a recém-nascida, a mulher sumiu com o carrinho. Conforme o delegado, mesmo confrontado pelos policiais sobre as suas declarações, o investigado continuou insistindo na versão da caixa e negou a existência do carrinho.

Delegado Aácio Aparecido Leite (esq.) apresentou os novos detalhes do caso  - André Fazano/Cruzeiro FM (30/04/2024)
Delegado Aácio Aparecido Leite (esq.) apresentou os novos detalhes do caso (crédito: André Fazano/Cruzeiro FM (30/04/2024))

Estado de saúde

O estado de saúde da menina também chamou a atenção. Segundo o titular do 8º DP, ela deu entrada na UBS vestida, com fralda, minimamente cuidada e alimentada. Estava, ainda, sem o cordão umbilical e o vérnix caseoso (substância branca que envolve os bebês no nascimento). “O cordão foi cortado de maneira correta. A sutura foi feita de maneira precária, com fitilho, mas o tamanho do corte e a forma como o cordão foi manipulado estavam corretos”, detalhou Leite.

Devido à ausência das características de um recém-nascido, a polícia não acredita na hipótese de a mãe ter dado à luz no local. Para o delegado, a bebê pode ter nascido horas antes, em outro bairro ou até cidade, e foi abandonada lá em seguida. “Com certeza, ela nasceu pelas mãos de alguém que tem conhecimento da matéria (se fazer parto)”, afirmou ele. “Nasceu em um ambiente saudável”.

Investigações continuam

Como a Polícia Civil ainda precisa esclarecer a história, as investigações continuam. Agora, o foco é tentar encontrar a suposta caixa de papelão, o carrinho e a mulher vista com o investigado. Conforme Acácio Leite, ela é parda e tem entre 30 e 40 anos. Inclusive, ele considera divulgar um retrato falado dela. Quem tiver qualquer informação sobre o caso pode repassá-la à polícia anonimamente, pelos telefone 197 e 181 ou pelo site Web Denúncia. Até o momento, os investigadores não receberam nenhuma denúncia passível de ajudar nos trabalhos.

Além disso, o homem vai ser intimido a prestar novo depoimento. Há, também, a possibilidade de ser submetido a exame de DNA, para verificar se possui parentesco com a menina. “Não descarto, no futuro, ele vir a ser processado formalmente por algum crime, se for apurado algo mais grave, uma fraude, o um abandono de incapaz, e se ele tiver alguma relação familiar com essa criança”, finalizou Leite.

Bebê passa bem

A recém-nascida ficou internada e recebeu alta no dia 18 de abril. De acordo com o titular do 8º DP, ela está sob os cuidados de uma família acolhedora e passa bem. Posteriormente, deve ser encaminhada para adoção.