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Transbordamento

Desassoreamento do rio Sorocaba é ineficaz, afirma especialista

Vice-presidente do Comitê de Bacia Hidrográfica Sorocaba e Médio Tietê (CBH-SMT) e coordenador do Câmara Técnica de Planejamento e Gerenciamento de Recursos Hídricos (CTPLAGRHI) detalha o porquê dos aspectos que não contribuem para a resolução das enchentes

15 de Abril de 2024 às 11:01
Vinicius Camargo [email protected]
Imagens produzidas do leito do rio próximo da ponte da rua Padre Madureira mostram o trabalho feito até agora
Imagens produzidas do leito do rio próximo da ponte da rua Padre Madureira mostram o trabalho feito até agora (Crédito: FABIO ROGÉRIO 15/04/2024)

O dessasoreamento do rio Sorocaba, que consiste na remoção de areia, lodo e outros sedimentos do fundo do manancial, é uma medida ineficiente da meneira como é feito. A afirmação é do vice-presidente do Comitê de Bacia Hidrográfica Sorocaba e Médio Tietê (CBH-SMT) e coordenador do Câmara Técnica de Planejamento e Gerenciamento de Recursos Hídricos (CTPLAGRHI), André Cordeiro dos Santos. A Prefeitura de Sorocaba iniciou a intervenção em 2022, com o objetivo de tentar evitar o transbordamento do reservatório natural, e consequentemente, a ocorrência de enchentes na cidade.

Segundo Santos, alguns aspectos tornam o trabalho ineficaz. O principal é o fato de a intervenção ser realizada em época chuvosa e de a terra não ser tirada imediatamente da margem do rio. Assim, quando chove, o material volta para o manancial. E, de fato, montes de terra acumulada podem ser vistos na altura da avenida Dom Aguirre e na ponte da rua Padre Madureira.

Além disso, de acordo com o especialista, cavar a calha do rio (parte mais profunda) agrava a situação, em vez de resolvê-la. Ele informa que a medida aumenta a profundidade e a sedimentação do manancial (desgaste do solo e das rochas). Com isso, as águas passam a correr mais devagar e não conseguem levar os sedimentos. Assim, há acúmulo novamente.

Intervenções na RMS

Devido a essas questões, na avaliação de Santos, o desassoreamento não é uma ação efetiva para evitar alagamentos. “Só em situações em que o alagamento é resultado da redução da calha do rio, que não é o caso de Sorocaba”, disse. Ele acrescenta que as enchentes não são causadas pelo transbordo do rio Sorocaba em si, mas, sim, pela água de diversos reservatórios naturais da Região Metropolitana de Sorocaba (RMS) que chegam ao município.

Por isso, conforme ele, a resolução desse problema na cidade depende de intervenções na RMS, e não apenas em nível local. “O ideal seria evitar que a terra chegasse no rio Sorocaba, fazendo uma recuperação dos rios que chegam a ele”, sugeriu. Segundo Santos, é preciso começar a limpeza de “cima para baixo”; isto é, a partir dos reservatórios localizados na parte mais alta da região até chegar ao rio Sorocaba.

De acordo com o especialista, o desassoreamento tem sido feito de maneira contrária, diretamente no “ponto final” do processo, com a retirada do material já acumulado no manancial. Dessa forma, a terra continua chegando e, consequentemente, há novos alagamentos. “Tirar terra do leito do rio é um serviço sem fim”, frisou.

Outras ações

Para Santos, além da limpeza, outras ações podem ser implementadas para a recuperação dos reservatórios da RMS, como a instalação de Áreas de Preservação Permanente (APPs) nas margens. Ele indica, ainda, a adoção de medidas para impedir que a população jogue lixo e ocupe, principalmente, os topos de morros nos arredores dos mananciais. Conforme o especialista, o poder público também deve encontrar estratégias para diminuir a impermeabilização do solo e revisar o sistema de drenagem urbana.

Resposta

Em nota, a Prefeitura respondeu que “o material retirado do rio é basicamente formado por areia e, desta forma, a escavadeira precisa acumular uma quantidade suficiente para, só assim, permitir que seque e seja carregada em caminhões até o local de descarte previamente regularizado”. A prefeitura prossegue na nota: “A forma que este material é armazenado na margem do rio permite que o maior fluxo do rio passe, de maneira que as chuvas não carreguem o mesmo para dentro do rio novamente. Este trabalho se estenderá ao longo do ano, pelo período de estiagem, de modo que permitirá que a calha do rio tenha melhores condições de comportar o volume de chuvas do próximo verão.”

 

 

 

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