Animais Peçonhentos
Mais postos de soro antiveneno são necessários, mas custam caro
Para especialista, sistema que pode salvar vidas depende da estruturação do Estado
A instalação de mais Pontos Estratégicos de Soro Antiveneno (Pesas) na Região Metropolitana de Sorocaba (RMS) seria ideal. Porém, a abertura de novas unidades demandaria diversos outros recursos que poderiam dificultar a implementação. A avaliação é da infectologista Naihma Salum Fontana, que atua nos hospitais Unimed e Santa Lucinda, ambos em Sorocaba. Administrados pelo Governo do Estado de São Paulo, os Pesas dispõem de soros para tratar picadas de animais peçonhentos.
A Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo (SES) não se posicionou com relação ao questionamento do Cruzeiro do Sul sobre a possbilidade de ampliação dos Pesas. Explicou apenas que há 221 postos espalhados pelo território paulista. Na RMS, são seis. Em Sorocaba, a unidade de referência é o Conjunto Hospitalar. O CHS conta com os soros botrópico, crotálico, elapídico, laquético, escorpiônico, aracnídico e lonômico, respectivamente para atender acidentes com jararaca, cascavel, coral, aranha-marrom, aranha-armadeira, escorpião e lonômia (espécie de lagarta).
Em Itapetininga, os pacientes devem ser levados ao Hospital Regional. Em Itu e Piedade, os Pesas funcionam nas Santas Casas dos municípios. O Hospital São Miguel Arcanjo é a unidade de referência na respectiva cidade. Todas essas unidades contam com os medicamentos botrópico, crotálico, escorpiônico e aracnídico, para acidentes com jararaca, cascavel, aranha-marrom, aranha-armadeira e escorpião.
De acordo com a SES, os pontos foram distribuídos estrategicamente com o objetivo de reduzir o tempo entre a picada e o atendimento e tratamento do acidentado. A disposição, completa a pasta, leva em conta, principalmente, o socorro às crianças de até 10 anos. Isso porque elas precisam de atendimento em até 1h30 após a picada de escorpião.
Isto é, embora não haja postos na maioria dos municípios da RMS, teoricamente, há uma unidade em uma cidade localizada, no máximo, a 1h30 de distância. A lista e os endereços de todas as unidades de referência estão disponíveis na internet: cievs.saude.sp.gov.br/soro/.
Demanda de recursos
Para a infectologista Naihma Salum Fontana, se a organização das unidades realmente cumpre o critério do período entre o acidente e o atendimento, ela está correta. Mesmo assim, aumentar o número de Pesas, expandindo a disponibilidade dos soros, seria a medida ideal. No entanto, conforme a médica, a confirmação da efetividade dessa providência dependeria de uma análise profunda.
Naihma elenca que seria importante avaliar, sobretudo, a viabilidade logística. Além disso, todos os postos precisariam ter um profissional habilitado a identificar a necessidade ou não de aplicação dos medicamentos. Esse mesmo funcionário também seria responsável por diferenciar os tipos de picadas, sejam de animais da mesma ou de diferentes espécies, e ministrar o soro correto para cada caso.
Ainda segundo a especialista, a ampliação geraria maior carga de trabalho e demanda na organização dos pontos estratégicos para o governo, pois o Estado teria mais locais para controlar a distribuição dos medicamentos. “Não é só ter soro, é (ter) toda a estrutura que envolve esse soro”, frisou ela.
Sorocaba registra 2 mortes neste ano
Neste ano, em apenas três meses, duas crianças morreram após serem picadas por escorpiões em Sorocaba. No dia 13 de janeiro, um bebê de um ano foi picado no Jardim Santa Esmeralda. Ele foi atendido no Conjunto Hospitalar de Sorocaba (CHS), mas já chegou à unidade em estado grave e não resistiu.
Em 28 de março, Yuri Vicente dos Santos Bento, de 7 anos, foi picado no quintal de casa, na Vila Helena. O menino foi levado, primeiramente, à Unidade Pré-Hospitalar (UPH) da zona norte e, depois, transferido para o CHS. Na madrugada do dia 29, após piora do quadro de saúde, ele também faleceu.
A infectologista Naihma informa que o rápido acesso ao soro aumenta as chances de sobrevivência das crianças, mas diz que isso não é fator determinante. “Primeiro, por conta da imaturidade do sistema imunológico da criança frente a qualquer agravo. Então, a resposta vai ser menos satisfatória do que em um adulto”, explicou.
Segundo a especialista, no caso de crianças, a picada, por si só, já é mais grave, em razão de o veneno de animais peçonhentos ser mais nocivo para elas. Pelo mesmo motivo, dependendo da quantidade de substância injetada pelo animal no organismo dessas vítimas, há mais chances de o acidente tornar-se fatal. “O soro tenta reduzir a mortalidade, mas, muitas vezes, a quantidade de veneno é tão grande que ele não consegue fazer a neutralização”, informou.
Por isso, de acordo com a médica, a resposta do paciente frente à medicação depende do volume de veneno e do período que ele permaneceu no corpo. “Muitas vezes, o soro é aplicado no momento em que ele (veneno) já se espalhou. Aí, ele já não é tão eficaz”, esclareceu.