Cadê o dinheiro?
Saae de Salto perde R$ 225 mil em golpe
Autarquia acusa a Caixa Federal de "falta de zelo", por não ser capaz de identificar "transações estranhas"
O Serviço Autônomo de Água e Esgoto (Saae) de Salto foi vítima de um golpe envolvendo movimentações bancárias. O crime ocorreu entre o final de novembro e início de dezembro de 2023, no entanto, as informações foram divulgadas somente nesta semana. De acordo com a autarquia, transações suspeitas foram realizadas por meio da conta corrente do Saae na Caixa Econômica Federal, como transferências fora dos horários rotineiros e pagamentos via Pix — modalidade que o Saae nunca realizou. Ao todo, foram desviados quase R$ 225 mil.
“A maior vítima da fraude foi o Saae, que confiou à Caixa Econômica Federal o zelo dos seus recursos e ela não foi capaz de observar que transações completamente estranhas estavam sendo realizadas através da nossa conta”, declarou a direção da autarquia.
Ainda de acordo com o Saae, as transferências foram feitas para contas de estabelecimentos localizados na Região Nordeste do Brasil, como lojas de confecção de roupas e postos de combustíveis, sem qualquer vínculo com as atividades da autarquia. “Fomos hackeados por bandidos e o banco, em nenhum momento, nos contatou para que autenticássemos as transações enquanto elas ocorriam — nem uma mera confirmação de que era o Saae mesmo que estava fazendo essas transferências incomuns, esdrúxulas”, informou o Saae em nota.
Uma apuração interna está sendo conduzida, assim como a varredura e reforço do sistema de informática e tecnologia. Além disso, foi aberto um boletim de ocorrência sobre o caso. Dos quase R$ 225 mil desviados, o Saae conseguiu recuperar R$ 140 mil. A autarquia ressaltou também que irá pleitear o ressarcimento do restante do dinheiro à Caixa Econômica Federal e, “eventualmente, processá-la pelos danos e prejuízos causados à autarquia, inclusive morais”.
Na quarta-feira (3), o superintendente do Saae, Gilmar Souza dos Santos, estará na Câmara de Vereadores de Salto, às 10h, para esclarecer em detalhes o que ocorreu.
Em resposta a questionamentos do Cruzeiro do Sul, a Caixa Econômica Federal informou que monitora seus canais e transações, utiliza modernas ferramentas de segurança em seus canais, bem como atua em conjunto com órgãos de segurança pública na investigação de casos suspeitos, assim como na prevenção de fraudes e golpes. Em nota enviada ao jornal, a instituição financeira informou que, “no caso citado, o cliente foi orientado a realizar o pedido de contestação das transações e, devido ao sigilo bancário, a resposta é enviada somente ao solicitante”.
O banco esclarece que não liga, envia e-mail, SMS ou WhatsApp solicitando atualização de dados cadastrais e orienta que os clientes utilizem única e exclusivamente os canais oficiais da Caixa para buscar informações e acesso aos seus serviços, jamais compartilhando dados pessoais, usuário de login e senha, que são pessoais e intransferíveis, inclusive faz, frequentemente, campanhas de conscientização e aculturamento contra golpes. “A Caixa reafirma seu compromisso como principal parceiro do Poder Público em todas as esferas, Federal, Estadual e Municipal”, destaca o comunicado .
Como parte da atuação na prevenção de ocorrências, a Caixa informa “que realiza constantemente ações de orientação e esclarecimentos a seus clientes por meio de seus canais de atendimento, sítio eletrônico e redes sociais. Especificamente para o poder público, foi desenvolvida uma cartilha com dicas de segurança, distribuída aos clientes”. O conteúdo está disponível no site: www.caixa.gov.br/Downloads/seguranca/Cartilha-seguranca-prefeitura.pdf.
Caso semelhante
Em janeiro de 2023, o Cruzeiro do Sul noticiou que a Prefeitura de Salto foi vítima de um golpe na merenda escolar. Segundo o boletim de ocorrência, golpistas teriam se passado por representantes de uma empresa que presta serviço ao governo municipal. O prejuízo teria sido de R$ 800 mil.
Na época, havia um contrato com uma empresa para fornecer alimentos à rede municipal de ensino. No dia 5 de dezembro de 2022, a Secretaria de Finanças recebeu e-mail em que os remetentes se identificavam como representantes da fornecedora e solicitavam alteração dos dados bancários. A princípio, as informações correspondiam aos dados cadastrais da empresa junto à Receita Federal. Depois que os dados foram alterados, a Prefeitura realizou seis depósitos, entre os dias 9 e 20 de dezembro.
Seis dias depois, a empresa enviou ofício à prefeitura para informar que não tinha relação com a conta que recebeu os depósitos bancários. A empresa teria dito que outras prefeituras haviam relatado ocorrências semelhantes.
Na época, a prefeitura de Salto informou que o caso estava sendo investigado pela polícia. Um procedimento administrativo também foi aberto. “Nenhum prejuízo restará aos cofres públicos, uma vez que a responsabilidade, além dos golpistas, é do próprio banco que abriu a conta e que, portanto, deverá ressarcir o prejuízo sofrido pela empresa”, declarou.
Nesta quinta-feira (28), o Cruzeiro do Sul questionou novamente a Prefeitura de Salto sobre o caso. Em nota, a administração municipal reafirmou que não sofreu golpe, pois não houve perda financeira que justifique o ressarcimento aos cofres públicos, já que o pagamento da prestação do serviço ocorreu na conta de titularidade da empresa que prestava o serviço. “A vítima da fraude é a empresa, já que golpistas abriram conta bancária em nome dela”, disse a prefeitura, acrescentando que o caso “encontra-se em trâmite judicial, em face do banco, que permitiu a abertura da conta fraudulenta. Até o momento, houve o bloqueio desta conta e o repasse de aproximadamente R$ 300 mil para a empresa”, finalizou a nota.
(Vanessa Ferranti)
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