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Meio ambiente

Sorocaba vira refúgio para aves e paraíso para os observadores

A grande quantidade de parques com vegetação e ambientes aquáticos atraem pássaros comuns no cenário urbano e outros nem tanto, como colhereiro e jacuaçu

22 de Março de 2024 às 22:00
Virginia Kleinhappel Valio [email protected]
Colhereiro — típico do Pantanal — ave difícil de encontrar em outras cidades, mas vistas com certa facilidade em Sorocaba
Colhereiro — típico do Pantanal — ave difícil de encontrar em outras cidades, mas vistas com certa facilidade em Sorocaba (Crédito: ALEXANDRE FRANCHIN)

Observar aves é uma atividade que conquista cada vez mais adeptos, principalmente em Sorocaba, onde os inúmeros parques possibilitam ver de perto as mais variadas espécies. Foi com esse intuito que, em 2012, nasceu o Clube de Observadores de Aves de Sorocaba (Coaves). O evento, também chamado de “passarinhada”, ocorre ao menos uma vez por mês, aos sábados e/ou domingos e é aberto a qualquer pessoa que tenha interesse em observar de perto a beleza das aves em meio à natureza. Desde 2017, o programa ganhou uma versão para crianças, o Clube Infantil de Observadores de Aves (Coaves Kids).

Membro do Coaves, biólogo e doutor em ecologia de aves urbana, Alexandre Franchin, explica que, para observar, às vezes, basta ter interesse. “É uma atividade que envolve acordar cedo, lazer, mas também atividade física”. Segundo ele, não é preciso levar equipamentos, como binóculo, por exemplo. “Tem gente que gosta de passear ou estar próximo à natureza. Mas também existem pessoas que usam binóculo ou gostam de fotografar, pois os animais são fotogênicos”, disse.

Para observar aves, o horário ideal é o início do dia, próximo ao nascer do sol, por volta de 6h, que é quando as aves começam as suas atividades. O biólogo comenta que Sorocaba é uma cidade interessante para a observação de aves, pois possui um número considerável de parques e muitas áreas verdes, que são os locais onde há maior chance de encontrar aves. Além disso, é uma cidade que possui ambientes aquáticos, o que acaba atraindo muitas aves aquáticas, que são fáceis de se observar e que geralmente estão em grande número.

“Eu, por exemplo, não tinha a experiência de observar dentro de uma cidade o colhereiro, a não ser no Pantanal. Mas eu vim para Sorocaba e logo observei colhereiros em lagos da cidade. É uma ave muito bonita, que tem um colorido muito bonito. É uma ave interessante, com um bico diferente, adaptado para a alimentação dela e isso acaba chamando a atenção, é uma ave que vale a pena você ir a campo para observar e fazer ‘passarinhada’ para observar”, ressalta o biólogo.

Nas “passarinhadas” feitas pelo Coaves, é possível ter contato com aves urbanas que encontraram em Sorocaba locais para abrigo, alimentação ou reprodução. Nas observações, aves comuns, como o bem-te-vi, sanhaço-cinzento, carcará (um dos gaviões mais comuns em Sorocaba), joão-de-barro, quero-quero e muitas espécies de sabiás. Mas, é possível também encontrar espécies difíceis de se observar, como o colhereiro e também o jacuaçu.

Esta última é considerada uma ave que gosta de áreas mais florestais. Para observá-la, o biólogo recomenda parques mais fechados, como o da Biquinha ou o Chico Mendes, que embora sejam parques urbanos, possuem uma característica de ambiente florestal, facilitando, assim, o encontro com espécies como essa.

A diversificação de espécies de aves na cidade ocorre, de acordo com o biólogo, devido ao aumento da urbanização, fragmentação ou desmatamento de áreas verdes e naturais, que acaba fazendo com que essas espécies procurem no ambiente urbano um local para abrigo ou refúgio, mesmo que temporário. “Nem sempre as espécies permanecem nesse ambiente, mas acabam encontrando dentro das cidades uma forma de sobrevivência”, explica.

No ambiente urbano, as aves encontram local para ninhos em áreas chamadas de artefatos urbanos, como postes e casas ou até mesmo praças ou quintais. “Muitos quintais são ambientes de área verde bem interessante para as aves, porque as pessoas plantam árvores frutíferas e nesses quintais as aves encontram um local para ninho e também para repouso ou abrigo, porque elas precisam desses locais para dormitório, para se esconder, ou até mesmo para descanso e alimentação”, acrescenta o biólogo.

Das espécies de árvores frutíferas que são interessantes para as aves, o biólogo destaca a amoreira e a goiabeira, que costumam chamar a atenção das maritacas, por exemplo. “Isso tudo acaba sendo fator importante para que as aves se mantenham no ambiente urbano, além, é claro, da água. Sorocaba permite a formação de diversos tipos de ambientes aquáticos e acaba atraindo essas aves”, disse o especialista.

Aves do Xingu

No sábado passado (16), o Coaves Kids realizou uma “passarinhada” diferente. Nas trilhas do Jardim Botânico Irmãos Villas-Boas, localizado no Jardim Dois Corações, um grupo de crianças sorocabanas conheceu um pouco da experiência que o indígena tem na floresta e a sua conexão com a natureza. Observando, por meio dos sentidos, os elementos naturais, seja pela audição e também observando os vestígios das aves, como penas, fezes, ninhos ou rastros, eles puderam traçar um paralelo, mostrando que algumas aves que temos hoje em Sorocaba, cidade que possui uma vegetação de transição entre Cerrado e Mata Atlântica, são as mesmas que ocorrem no Parque Nacional do Xingu, que tem o bioma do Cerrado.

Como participar

Os interessados em participar das “passarinhadas” com o Clube de Observadores de Aves de Sorocaba (Coaves) podem entrar em contato por meio do Instagram (@coavessorocaba) ou pela comunidade da Coaves Sorocaba no Facebook. Os responsáveis pelas redes sociais enviarão o link de acesso ao grupo da Coaves Sorocaba no WhatsApp, pelo qual é divulgado o calendário das observações.

 

 

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