Imunização
Vacina contra dengue já falta até em clínicas
Fabricante prioriza fornecimento ao Ministério da Saúde e rede particular organiza lista de espera
O Brasil é o primeiro país a disponibilizar vacina contra dengue na rede pública. No entanto, a Região Metropolitana de Sorocaba (RMS) não faz parte da lista das cidades incluídas no programa, divulgada em 25 de janeiro. No Estado de São Paulo, apenas 11 municípios receberam doses do imunizante. A vacinação pelo Sistema Único de Saúde (SUS) teve início em fevereiro para crianças e adolescentes entre 10 e 14 anos, com administração de duas doses em um intervalo de 90 dias. Por enquanto, a única opção para a população sorocabana são as clínicas particulares. Essas, por sua vez, afirmam não ter mais estoques da vacina, devido à falta de entrega por parte da farmacêutica japonesa Takeda.
Sorocaba registrou neste ano, até ontem (14), 7.494 casos notificados de dengue. Desse total, 1.832 foram confirmados, sendo 1.724 autóctones (contraídos na própria cidade); 105 importados e três indeterminados. Segundo a Secretaria da Saúde (SES), há dois óbitos em investigação e nenhum confirmado.
O Cruzeiro do Sul conversou com três clínicas particulares de Sorocaba. Todas elas relataram não haver mais vacina contra a dengue disponível. Uma das clínicas afirma que a procura dobrou nas últimas semanas. “Não tem mais vacina há mais ou menos um mês. Estamos orientando os pacientes a ligar. Houve um aumento de 100% na procura e ainda não temos previsão de quando receberemos mais doses. Acredito que em abril vamos receber um novo lote, mas não é certeza”, disse a funcionária que atendeu a reportagem.
Em outra clínica, a procura é tanta, que foi necessário criar uma lista de espera. “Não temos a vacina no momento. Estamos recebendo as doses aos poucos e estamos com uma lista com cerca de 300 pessoas. Conforme chegam as doses, liberamos para essas pessoas. Mas, só tem garantia de dose quem já deixou pago”, comentou a atendente de outra casa de saúde. Ela explicou que a bula da vacina informa que pode ser administrada em pessoas dos quatro aos sessenta anos. “Como a bula informa isso, nós estamos administrando para toda essa faixa etária que está na bula. A procura está sendo muito grande, seja por telefone, WhatsApp ou redes sociais”, acrescentou.
Ainda, de acordo com a profissional, essa é a primeira vez, desde que a clínica passou a administrar a vacina em julho de 2023, que o estoque fica vazio. “Nunca tinha acabado. Começamos a fazer a lista de espera em torno da segunda ou terceira semana de fevereiro. Cobramos R$ 450 cada dose. Sendo duas doses administradas em um intervalo de três meses”, detalhou.
O valor cobrado pela vacina contra a dengue nas clínicas particulares é semelhante. A terceira clínica contatada pela reportagem também informou a falta da vacina. Nessa, o valor cobrado pela dose era R$ 420. No entanto, a funcionária adiantou que quando uma remessa nova chegar, o preço poderá ser outro. “Esse era o valor quando ainda tínhamos doses. Mas, quando chegar mais, pode não ser esse valor. Nós já temos a vacina desde o ano passado, só que com o aumento de casos, a procura foi maior. Se chegar mais uma remessa, vai acabar rápido também. Nós ainda não temos previsão de quando teremos mais doses, porque está em falta no laboratório”, relatou.
O que diz a Takeda
Questionada, a farmacêutica Takeda, que produz a vacina contra a dengue (Qdenga), informou que, diante do atual cenário da inclusão da vacina Qdenga no SUS, por meio do Programa Nacional de Imunizações (PNI), e dos dados alarmantes da doença no Brasil, a empresa está concentrada em atender de forma prioritária o Ministério da Saúde. Essa decisão tem como objetivo apoiar o governo no seu propósito de promover o acesso da vacina contra a dengue de forma integral e gratuita para a população brasileira.
A empresa japonesa explicou, também, que o fornecimento da vacina contra a dengue no mercado privado brasileiro será limitado para suprir e priorizar o quantitativo necessário para que as pessoas que tomaram a primeira dose do imunizante na rede privada completem seu esquema vacinal. “Os compromissos firmados com os municípios anteriormente à incorporação no SUS serão plenamente honrados. Conforme já anunciado, temos garantida a entrega de 6,6 milhões de doses para 2024 e o provisionamento de mais 9 milhões de doses para o ano que vem. Em paralelo, estamos buscando todas as soluções possíveis para aumentar o número de doses disponíveis no País, e não mediremos esforços para isso”, conclui a farmacêutica.