Expectativa de vida
Número de centenários cresce 51% na cidade em 12 anos, diz IBGE
Censo de 2022 também revela que a maioria das pessoas com 100 anos ou mais — cerca de 72% — é de mulheres
Viver por um século ou mais pode parecer uma realidade distante. No entanto, dados dos censos demográficos do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) comprovam que, na verdade, esse cenário está mais próximo do que imaginamos. Em 12 anos, a população centenária de Sorocaba cresceu cerca de 51%, passando de 41 para 62 munícipes.
Mesmo assim, longevidade continua sendo um assunto complexo. A geriatra e clínica médica do Hospital Evangélico de Sorocaba Paola Renata Brandão Canineu Bizzar explica que não podemos atribuir apenas um ou dois aspectos específicos.
“São condições múltiplas, que vão desde fatores genéticos, hereditários, avanços da tecnologia da saúde, como também adoção de um estilo de vida mais saudável, incluindo cuidados com a alimentação e atividade física”, pontua a especialista.
No Estado de São Paulo, conforme um levantamento feito pelo Sistema Estadual de Análise de Dados (Saede), os centenários, que eram 3.234 em 2010, passaram para 5.095 em 2022.
No Brasil inteiro, pessoas com 100 anos ou mais representam 0,018% da população -- aproximadamente 37,8 mil brasileiros.
Paola ainda acrescenta que ter uma vida social ativa e se manter engajado nas atividades em família e amizades, também contribui para uma vida longeva.
Quem comprova isso na prática é o aposentado Luiz José da Silva, que no dia 16 de janeiro teve a graça de completar 100 anos em boa saúde -- “com a carteira de vacinação completa” --, sem deixar de lado a vida social.
“A verdade é que a gente nem percebe a idade chegando”, relata aos risos. “Eu fico feliz! A vida é muito boa, gosto da diversão, de dançar... Conviver com as pessoas é muito gratificante, aprendemos muito”, acrescenta.
Luiz José é natural de Salinas, município de Minas Gerais, mas já morou em São Paulo e no Paraná, e acumula experiências profissionais nas áreas agrícola, de construção civil e carpintaria.
Chegou a Sorocaba em 1980, mantende residência até hoje no Central Parque. Com uma família grande, o aposentado compartilha o dia a dia com 11 filhos, 21 netos, 26 bisnetos e sete tataranetos.
Os cuidados com a saúde não são apenas citados por Luiz José -- que faz acompanhamento médico há vários anos --, mas também recomendados. “É muito importante cuidar da saúde!”, enfatiza.
Para a sua filha, Zilda Maria da Silva Rosa, de 59 anos, é uma alegria ver o pai alcançar essa idade. “Eu sou muito grata! Ele é meu amigo, meu parceiro de todas as horas, uma pessoa que adora a vida e ama viver, faz tudo pelos filhos”, descreve.
Mulheres são maioria
Ao comparar os gêneros na pirâmide etária do Censo Demográfico de Sorocaba, do ano de 2022, podemos notar uma diferença significativa entre homens e mulheres.
A distinção é mais perceptível a partir dos 70 anos, em que 12.801 são homens e 16.016 são mulheres. Com a população centenária não é diferente.
Dos 62 sorocabanos com 100 anos ou mais, 17 são homens e 45 mulheres -- 27,4% a 72,6%. Entre elas, está a aposentada Cândida Carmo, mais conhecida como tia Candinha, que em julho do ano passado completou 103 anos.
Natural de um sítio localizado em Capivari -- região de Piracicaba --, Cândida chegou em Sorocaba aos 12 anos, no ano de 1932. A aposentada lembra de fatos da sua vida com um grande sorriso, incluindo a época em que trabalhava na antiga fábrica têxtil Santo Antônio e também participava de corais e grupos de dança.
“Eu tenho um certificado por cantar em São Paulo. Era a mais velha do grupo, recebi até um prêmio! E adoro o Carnaval, antes eu fazia fantasias e bordava”, conta. “Lembro que eu ia a pé para o trabalho, voltava, e ainda saia para dançar. Eu gostava muito!”
Atualmente, Cândida mora com uma sobrinha, Cleide Aparecida Marciano, e faz acompanhamento médico. “Depois que eu acordo, tomo meu café da manhã e rezo para todo mundo! Sou budista e muito feliz!”, afirma.
O que diferencia
No Brasil, a população feminina corresponde a 72% das pessoas centenárias. São 27.244 mulheres, ante 10.570 homens -- 29%.
Para a médica Paola, há várias explicações para a mulher ter expectativa de vida superior à do homem, como diferenças hormonais, genéticas e comportamentais. No entanto, o que merece mais destaque é o fato de a mulher procurar atendimento médico com mais frequência.
“Neste sentido, as mulheres iniciam as prevenções mais cedo, fazem diagnóstico de doenças existentes mais precocemente e aderem melhor aos tratamentos e orientações médicas”, explica a especialista.
Contudo, a geriatra ainda ressalta que nunca é tarde para cuidar da saúde e orienta: “Não procure o atendimento médico apenas quando se sentir doente, faça prevenção de forma rotineira. Também se deve adotar um estilo de vida mais saudável e fazer boas escolhas alimentares. Atividade física também é importante, claro que sempre com a orientação de um profissional habilitado e como estiver no seu alcance”.
A vida social, espiritualidade e conhecimento também são pilares levantados pela especialista. De acordo com Paola, “zelar pela vida espiritual, aprender algo novo, como um idioma ou instrumento musical, praticar a gratidão e socializar, mesmo que seja apenas dentro do seu núcleo familiar, alimentam a alegria e a vontade de viver”. (Beatriz Falcão, programa de estágio)