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Sorocaba

Vazamento subterrâneo obriga família a desocupar imóvel no jd. São Carlos

A casa de Nair Vieira está toda ‘desestabilizada’. Há rachaduras nas paredes e no teto. O chão afundou e está inclinado

10 de Fevereiro de 2024 às 23:01
Luis Felipe Pio [email protected]
"É a coisa mais triste...é seu patrimônio, é a sua vida, seu suor, seu trabalho... E acabou! Acabou tudo!", contou Nair, chorando (Crédito: LUÍS PIO)

 

A casa de uma mulher, de 72 anos, foi interditada pela Defesa Civil de Sorocaba sob o risco de desabar. Um vazamento subterrâneo causado por instalações do Serviço Autônomo de Água e Esgoto (Saae) infiltrou a fundação da residência, desestabilizando toda a estrutura. Primeiro, houve rachaduras nas paredes e no teto. Depois, o chão afundou e a casa precisou ser desocupada. A proprietária Nair Vieira relatou que essa é a segunda vez em que “perde tudo por causa do Saae”. Há cerca de 10 anos, sua casa foi demolida e reconstruída pelo mesmo motivo. No início de janeiro, ela viu o drama se repetir.

“Eu não esperava viver isso de novo, de jeito nenhum, eu estava tão em paz, tão feliz”, disse a aposentada. A casa de Nair fica no jardim São Carlos. Há 45 anos ela mora no bairro e, hoje, divide a casa com o filho, a nora e a neta, de 15 anos. Na cozinha do imóvel, uma rachadura, com largura equivalente a de um dedo, atravessou o teto. O chão sofreu desnível e está inclinado. A sensação quando se entra na casa é de desequilíbrio. Ela conta que a equipe da Defesa Civil nem passou pela porta. No quintal, junto à piscina, e nos cômodos externos, as rachaduras são ainda maiores. As fortes chuvas que atingiram Sorocaba no início de janeiro também contribuíram para agravar os problemas causados pelo vazamento.

A família acionou o Saae, que conteve o vazamento e deve ressarcir o valor referente aos danos, já que foi um defeito na rede de água e esgoto da rua. O filho, a nora e a neta estão alojados em um hotel, desde que a casa foi interditada. Já Nair, dorme na casa de amigos e vizinhos próximos, pois ainda precisa diariamente cuidar do local. “Venho aqui, faço tudo que é necessário ainda, mas eu não quero ver minha casa assim”, disse.

Explicação não há

O Cruzeiro do Sul pediu uma entrevista com um profissional do Saae para obter explicação sobre onde e por qual motivo houve o vazamento subterrâneo. A assessoria de comunicação da Prefeitura, entretanto, preferiu se manifestar por meio de nota, dizendo apenas que “o devido reparo e manutenção na rede foram executados”.

“O Saae de Sorocaba informa que o caso em questão vem sendo tratado com todo zelo e amparo necessário, para a acomodação da moradora no dia a dia. Isso, tendo em vista a interdição dessa residência pela Defesa Civil, oriunda de vazamento de água, cujo devido reparo e manutenção na rede foram executados”, diz a nota enviada ao jornal.

O trabalho de uma vida

“É a coisa mais triste, além da morte, é uma coisa assim, porque é seu patrimônio, é a sua vida, seu suor, seu trabalho... E acabou! Acabou tudo!”, contou Nair, chorando. Ela trabalhou quase 40 anos como enfermeira e, quando se aposentou, construiu tudo do jeito que sempre quis.

Os móveis e pertences continuam na casa. As rachaduras começaram a aparecer no início do mês de janeiro. Ela conta que no muro que dá para o quintal dos fundos -- um quintal que fica em um nível mais baixo em relação à casa -- formaram-se fendas que jorravam água. A água passava por debaixo da casa e vazava pelo muro.

“O Saae demorou para vir. Eu insistia no Saae, insistia, insistia, eles falavam ‘Ah, mas dona Nair’, e eu falei ‘filha, a casa está caindo!’. [...] Aí estava demorando muito, eu voltei a ligar e disse ‘você quer que eu amanheça aqui na rua sozinha? Até que horas?’. Aí vieram e começou a busca. Aí encheu, veio acho que uns 10 carros do Saae. Depois, a Defesa Civil já pediu para gente deixar a casa, que não era para ficar”, relata Nair.

“É muito complicado. Eles (o Saae) estão me apoiando, sabe? Não posso dizer que o Saae não está fazendo nada. Não posso, seria muito injusto, Deus me livre. Mas, não sei daqui para frente, né?”, disse. “Porque até então você levar o problema e arrumar uma casa para você morar ainda não é tudo. Tudo é você ver sua casa de novo”.

Uma correria

Apesar do amparo fornecido pela autarquia, Nair lamenta que o processo não seja simples. “O Saae vai te ajudar e muito, é óbvio isso. Mas, quem tem que correr atrás de tudo isso sou eu, de novo, mais uma vez. [...] Você vai lá, pega um papelzinho, eles mandam você voltar outro dia, tem que vir na cidade para fazer xerox, para voltar lá. E quem não tem condução e condição para fazer isso? Como é que faz? Gente, está tudo errado. Ninguém facilita nada. Ninguém facilita nada para você”, desabafou.

Atualmente, a estratégia de Nair para seguir em frente é enfrentar um dia de cada vez. “É dormindo e amanhecendo e indo, não dá para parar. Não tem como você parar. É muita coisa para você resolver, para você fazer. E eu estou fazendo, indo, buscando, levando, e Deus está me ajudando, está dando força para mim, porque se você parar para pensar, não sei o que pode te acontecer. Então, é não pensar e viver o dia a dia”.

Um problema do bairro

Embora Nair seja a mais afetada pelas consequências do vazamento, o problema se estende por várias ruas do jardim São Carlos. Vizinhos dela e outros residentes próximos mostraram à reportagem as rachaduras que apareceram em suas casas no mês passado. A aposentada Roberta Pacheco, de 65 anos, exibiu o muro dos fundos de sua residência, quase partido ao meio por uma rachadura, com grande risco de cair. Na garagem, várias fissuras cortam o piso. Problemas semelhantes foram observados por outros moradores que optaram por não se identificar.

A Prefeitura orientou que para casos em que o munícipe perceber a ocorrência de rachaduras e algum tipo de risco à integridade física dos moradores, a recomendação é acionar a Defesa Civil, pelo fone 199, para que a equipe técnica faça a vistoria do local e verifique se há necessidade de interdição parcial ou total do imóvel.

Estando com o Termo de Intervenção Preventiva em mãos, emitido pela Defesa Civil, o munícipe pode solicitar a abertura de processo administrativo no Saae/Sorocaba. Neste caso, uma nova vistoria, mais específica e feita por técnicos da autarquia, verifica se o dano pode ser decorrente de problemas na rede de água, esgoto ou de drenagem. O canal de atendimento para abertura de processos no Saae/Sorocaba, para este tipo demanda, é o e-mail [email protected] e o WhatsApp (15) 99740-8986. (Luís Pio - programa de estágio)