Operação 'Tempus Veritatis'
Sorocabano e ex-assessor de Bolsonaro é preso pela PF
Ação investiga uma organização criminosa que atuou na tentativa de golpe de Estado e abolição do Estado Democrático de Direito
Atualizada às 15h34
A Polícia Federal cumpre na manhã desta quinta-feira (8) mandados de busca e prisão contra ex-ministros de Jair Bolsonaro (PL) e militares envolvidos na suposta tentativa de golpe para manter o ex-presidente no poder. Entre os alvos da operação está o sorocabano Filipe Martins, ex-assessor para Assuntos Internacionais da Presidência. Ele foi detido em Ponta Grossa (PR). A Polícia Federal de Sorocaba está apoiando a operação, cumprindo um mandado relacionado ao sorocabano.
Martins é nascido em Sorocaba e criado em Votorantim. Bacharel em Relações Internacionais, foi nomeado assessor especial da Presidência para assuntos internacionais em janeiro de 2019, aos 31 anos. A nomeação do sorocabano ocorreu após ele ter atuado com o ex-ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo.
A ação foi batizada de ‘Tempus Veritatis‘ e investiga uma organização criminosa que, diz a PF, atuou na tentativa de golpe de Estado e abolição do Estado Democrático de Direito ‘para obter vantagem de natureza política com a manutenção do então presidente da República no poder.‘
O advogado de Filipe Martins, João Vinícius Manssur, informou que, até o momento, não teve acesso à decisão que fundamentou as medidas, mas que já solicitou o acesso integral aos autos para estudo e posterior manifestação
São cumpridos mandados nos estados de Amazonas, Rio de Janeiro, São Paulo, Minas Gerais, Mato Grosso do Sul, Ceará, Espírito Santo, Paraná, Goiás e no Distrito Federal.
Nesta fase, as apurações apontam que o grupo investigado se dividiu em núcleos de atuação para disseminar a ocorrência de fraude nas Eleições Presidenciais de 2022, antes mesmo da realização do pleito, de modo a viabilizar e legitimar uma intervenção militar, em dinâmica de milícia digital.
O primeiro eixo consistiu na construção e propagação da versão de fraude nas Eleições de 2022, por meio da disseminação falaciosa de vulnerabilidades do sistema eletrônico de votação, discurso reiterado pelos investigados desde 2019 e que persistiu mesmo após os resultados do segundo turno do pleito em 2022.
O segundo eixo de atuação consistiu na prática de atos para subsidiar a abolição do Estado Democrático de Direito, através de um golpe de Estado, com apoio de militares com conhecimentos e táticas de forças especiais no ambiente politicamente sensível.
Os fatos investigados configuram, em tese, os crimes de organização criminosa, abolição violenta do Estado Democrático de Direito e golpe de Estado.
Outros alvos da operação
A operação é deflagrada após o ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, o tenente-coronel Mauro Cid, ter fechado acordo de colaboração premiada junto a investigadores da PF. O acordo foi enviado à Procuradoria-Geral da República (PGR) e já recebeu a homologação pelo STF.
Entre os investigados estão também o ex-chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI) general Augusto Heleno Ribeiro Pereira, o ex-ministro da Casa Civil general Walter Souza Braga Netto e o ex-ministro da Defesa general Paulo Sérgio Nogueira de Oliveira.
Entrega de passaporte
O ex-presidente Jair Bolsonaro é um dos alvos da operação. O ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), determinou que a PF apreenda o passaporte de Bolsonaro no âmbito da operação. Ordens de prisão também têm como alvo assessores diretos do ex-presidente, incluindo militares.
Bolsonaro entregou seu passaporte à Polícia Federal no início da tarde desta quinta-feira (8). A informação foi divulgada por Fabio Wajngarten, ex-chefe da Secom e advogado de Bolsonaro, em publicação na plataforma X, antigo Twitter. “O passaporte do Presidente Jair Bolsonaro já foi entregue para as autoridades competentes, antes das 12:00, em BSB conforme determinação”, escreveu Wajngarten.
Em entrevista, Bolsonaro disse que continuará na casa em que passa férias na Região dos Lagos, no litoral do Rio, aguardando as orientações dos advogados. “Estou à disposição dos advogados, o que eles decidirem fazer eu faço. Estou sem clima. Estou em casa, não vou pescar, não vou fazer nada”, afirmou. (Da redação, com informações da Agência Brasil e Estadão)