Buscar no Cruzeiro

Buscar

Sorocaba

‘Repúblicas’ aquecem mercado imobiliário

Locação para alunos de faculdades chega a movimentar metade dos contratos nesta época do ano

02 de Fevereiro de 2024 às 23:01
Vinicius Camargo [email protected]
Alguns empreendimentos imobiliários são construídos especificamente para a residência de estudantes
Alguns empreendimentos imobiliários são construídos especificamente para a residência de estudantes (Crédito: REPRODUÇÃO / GOOGLE STREET VIEW)

A alta na procura por repúblicas estudantis aquece o mercado imobiliário de Sorocaba neste início de ano. Uma imobiliária registrou aumento de 10% no fechamento de contratos desse tipo de locação em 2024, na comparação com o mesmo período de 2023. Em outra, o aluguel de imóveis por estudantes chega a representar metade dos contratos fechados nessa época.

Segundo o presidente do Conselho Regional de Corretores de Imóveis do Estado de São Paulo (Creci-SP), José Augusto Viana Neto, Sorocaba tem dois aspectos favoráveis às repúblicas -- instituições de ensino superior de renome e diversidade de graduações. Isso, consequentemente, atrai universitários da região e de todo o Brasil para o município. Ele informa que o cenário positivo motiva, inclusive, o mercado imobiliário a se adequar a esse perfil de locatário. “Há, na cidade, investidores que constróem empreendimentos para alugar a alunos de faculdades”, contou.

Ainda conforme Viana Neto, para os locatários, a principal vantagem dos imóveis partilhados é a economia, devido à divisão do valor do aluguel. Já os locadores têm um negócio rentável, porque, em razão da grande movimentação de estudantes no município, as chances de as residências ficarem desocupadas são baixas.

Apesar dos benefícios, se o acordo firmado não for efetivamente claro, pode haver conflitos entre as partes. Por isso, o presidente do Creci orienta proprietários de imóveis a procurar uma imobiliária para intermediar o contrato e assumir a locação. Assim, a empresa ficará encarregada, por exemplo, de resolver problemas de manutenção e quaisquer outras questões diretamente com o inquilino. Dessa forma, as responsabilidades do locador diminuem. “A imobiliária trata daquilo de forma impessoal, cumprindo exatamente o que está no contrato”, lembrou o presidente do Creci-SP.

Nesse sentido, Viana Neto destaca a importância de todas as cláusulas contratuais serem inseridas no documento de forma clara. Uma das principais é a relação nominal de todos os locatários, para evitar que terceiros morem no local sem pagar. Ele aconselha o proprietário a estabelecer uma multa para o desrespeito a essa regra.

Outra dica é pedir para os moradores assinarem um tempo de responsabilidade no qual se comprometem a manter a conservação da residência e, se tiverem feito mudanças, a restaurar suas características originais após o fim do contrato.

Crescimento a cada ano

A locação de repúblicas cresce a cada ano em um escritório especializado em assessoria imobiliária de Sorocaba. Neste início de ano, a alta foi de 10%, na comparação com 2023. “Se deve, principalmente, à abertura de novos cursos nas faculdades, o que aumentou o leque”, apontou Ingrid Romão, proprietária da empresa. De acordo com ela, o crescimento se acentua entre o fim de dezembro e o começo de janeiro, pois é quando ocorre a maior parte dos vestibulares.

Ingrid informa que a maioria dos inquilinos escolhe imóveis menores, de até dois dormitórios, para compartilhar com mais uma ou duas pessoas. Em outra imobiliária, residências com essas características também são as mais buscadas. Porém, a maioria dos locatários prefere morar sozinha ou, no máximo, com mais um colega.

Conforme Júlio Alexandre Casas, dono da imobiliária, essa é uma tendência em ascensão, pois os mais novos prezam por privacidade. “É muito mais gostoso dividir um apartamento com uma pessoa do que com cinco, por causa de problemas de banheiro, de alimentação e da convivência”, detalhou. Em janeiro e fevereiro, completa Casas, os contratos fechados por jovens fazem dobrar o volume de locações na sua empresa. Eles representam cerca de 50% dos acordos firmados nessa época.

Regiões preferidas

Os dois representantes do setor imobiliário informam que, geralmente, os estudantes optam pelas regiões mais próximas de instituições de ensino superior. Os bairros Alto da Boa Vista, Cerrado, Jardim Emília, Jardim Faculdade e Parque Campolim, além dos bairros no entorno da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), lideram a preferência. De acordo com Ingrid, os locatários também levam em conta a proximidade com rodovias, para facilitar o seu deslocamento. Casas ainda cita o acesso a linhas de ônibus e a estrutura do bairro -- se há mercados e padarias, por exemplo -- como outros aspectos importantes para os jovens. Nessas localidades, o valor médio do aluguel de um imóvel de dois dormitórios varia de R$ 1 mil a R$ 2 mil.

Companhia, desafios e redução de custos

O estudante de engenharia Goldoni divide as despesas com oito colegas   - ARQUIVO PESSOAL
O estudante de engenharia Goldoni divide as despesas com oito colegas (crédito: ARQUIVO PESSOAL)

A vida em república tem vantagens, mas também desafios. Natural de Itapetininga, a estudante de publicidade e propaganda Gabrieli Caroline Ruivo de Souza, de 21 anos, mudou-se para Sorocaba há cerca de dois anos, para estudar e trabalhar. A jovem mora em um apartamento no Campolim, com mais três meninas, e divide o quarto com uma delas.

Compartilhando a moradia e dividindo os custos, a universitária gasta cerca de R$ 350  a R$ 400 por mês com aluguel e despesas básicas, a exemplo de água, energia e internet. O valor não considera a alimentação, pois cada moradora compra a sua comida separadamente. Mesmo assim, para ela, dividir a moradia é a melhor opção. “Se eu fosse morar sozinha, com certeza, gastaria, no mínimo, R$ 2.200 por mês para me manter”, estimou. “Morando em república, eu não gasto nem metade disso.”

Além da economia, Gabrieli aponta a conexão com outras pessoas como outro ponto positivo das repúblicas. Ao mesmo tempo, ter sempre companhia resulta em falta de privacidade e possíveis problemas de convivências. “Como estamos falando de morar com pessoas que têm personalidades diferentes, pode ser que, às vezes, isso gere algum conflito, mas nada que um diálogo não resolva”, finalizou.

O estudante de engenharia de controle e automação Felipe Zanardo Goldoni, de 23 anos, tem a mesma opinião a respeito dos aspectos favoráveis e desfavoráveis. Nascido em Laranjal Paulista, ele faz faculdade em Sorocaba há dois anos. O universitário vive com mais nove rapazes em uma residência no Jardim Leocádia e compartilha o dormitório com dois deles. Ele conta que escolheu o bairro estrategicamente, em razão da proximidade com o centro universitário onde estuda e da estrutura ali existente.

 Goldoni desembolsa R$ entre 500 e R$ 600 com aluguel, contas comuns e compras básicas de mercado. Caso passasse a morar sozinho, esse valor subiria para aproximadamente R$ 2 mil. Por isso, para o jovem, morar com muita gente não é algo negativo. Pelo contrário. Ele considera a companhia dos colegas essencial para suprir, ao menos um pouco, a saudade de casa. Nem mesmo a bagunça -- outro desafio -- abala a união dos moradores. Conforme o rapaz, essa questão é resolvida com conversas constantes entre todos, para manter tudo sempre em ordem, incluindo o companheirismo deles. “Você realmente cria uma família na república”, comparou, acrescentando que “todo mundo se apoia, se abraça”. 

Galeria

Confira a galeria de fotos